[33] ISADORA

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Respirei fundo, tentando não olhar pra lugar nenhum, além do rosto dele, mas estava difícil. Quando eu pensei em achá-lo em algum lugar que nossos pais não estivessem por perto e que não fosse a faculdade porque afinal estávamos no primeiro dia de férias, não pensei em outra coisa senão a praia. Só tinha esquecido que ele estaria sem camisa. Droga. Estava me concentrando muito pra manter a cara de raiva, embora fosse apenas fingimento, porque eu não estava mesmo com raiva. Não dele, mas de mim, que não consegui, mesmo depois de um dia inteiro, fazer meu coração parar de dar pulinhos estúpidos cada vez que lia a mensagem. Nem acreditei quando o Fabinho veio tirar satisfação, quase não consegui ficar neutra. Por pouco não sorri igual uma babaca ao ler a mensagem pela primeira vez. Patética. Não adiantou muito, Fabinho ficou com raiva do mesmo jeito.

- Não tente negar. – Falei. – A data e a hora te entregam. Você estava com meu celular e só pode ter sido você. – Vi sua expressão mudando gradativamente. Antes ele estava com cara de quem ia negar, mas mudou de ideia diante da minha informação.

- Desculpa? – Pediu, embora tenha soado como um pergunta. Como se ele achasse que fosse o que eu queria ouvir, mas não tivesse certeza. Não era mesmo, mas enfim.

- Quem você pensa que é pra fazer isso?? – Eu já estava ali, estava fingindo raiva, tinha que fingir direito né.

- Esse babaca teve a coragem de ir tirar satisfação com você ainda por cima? – Ele ficou com raiva também.

- Não. – Neguei. – Pior. Ele foi tirar satisfação com o Fabinho, que veio me perguntar quem era meu namorado quando era com ele que eu estava.

- Estava? – Sua expressão mudou de raiva pra confusão, mas foi muito rápido. – Sinto muito. – Mas não parecia sentir.

- Estava. Porque a gente discutiu e terminou. – Respondi, fingindo raiva de novo, embora não tivesse me importando muito com aquele fato também. Eu queria mesmo era ouvir ele me chamar de "minha menina" como tinha feito na mensagem. Suspirei sabendo que aquilo nunca aconteceria de verdade.

- Terminou? Terminou o quê? – Rafael se exaltou, com mais raiva do que eu. – Vocês não tinham absolutamente nada porque aquele imbecil nunca te pediu em namoro. Estava só brincando com você esse tempo todo ao invés de prestar atenção em quem ele tinha do lado e em um cara babaca que ficava o tempo todo te enchendo o saco e te degradando. Eu fiz o que ele deveria ter feito. Defendi você e tentei afastar alguém que só te faz mal. – Eu não sabia o que dizer, lutando contra uma vontade enorme de pular no pescoço dele e beijá-lo. Como não podia fazer isso, resolvi que ia embora, mas então ele voltou a falar. – Quer saber? Tô de saco cheio de tentar te ajudar, você continua mal agradecida. – Senti as lágrimas surgindo e tratei de engulir, porque não deixaria que ele visse que havia me magoado. O único jeito de contornar a situação, era vestir a raiva novamente.

- Você é um imbecil. O que você sabe de mim e dos meus sentimentos? Você não sabe de nada, se nós éramos namorados ou não, é problema meu. Se ele estava brincando ou passando tempo, também é problema meu. E se ele não tinha liberdade pra sair mandando mensagens pro Ricardo ou pra qualquer outro imbecil que chegasse perto de mim, foi porque eu nunca dei. – Gritei. - Assim como também não dei essa liberdade a v... – Pela segunda vez senti os lábios dele nos meus. Me calando de novo. Mas dessa vez, eu não fiquei paralisada. Reagi, permitindo que ele aprofundasse o beijo, sentindo os dedos quentes dele enlaçando meu pescoço. Embora ele tivesse tomado a chuveirada, seu gosto estava levemente salgado, da água do mar que ainda escorria do seu cabelo. Apoiei minhas mãos no seu peitoral, molhando um pouco minha blusa no seu corpo, enquanto sentia sua língua quente brincando com a minha. Eu estava tão nervosa quanto estava relaxada em seus braços. Sentia meu coração martelando no meu ouvido e um pouco de tontura. Separamos nossos lábios sem fôlego, mas mantivemos as testas coladas, a respiração descompassada, os dedos dele ainda na minha nuca.

- Você precisa achar outro jeito de calar minha boca, Rafa. – Falei, fraca, quase em um sussurro.

- Não consigo pensar em nenhum outro jeito melhor. – Ele respondeu, com a voz tão fraca quanto a minha. – Me desculpe. Eu não devia ter feito isso.

- Não devia mesmo. – Concordei, mas não queria sair dali.

- Mas eu não resisti. – Ele estava de olhos fechados e eu sorri.

- Percebi. – Então meu sorriso sumiu. – Mas você sabe que isso não é certo.

- Eu sei. – Me deu um selinho e se afastou. Eu sabia que não sentiria o gosto dos lábios dele novamente. – Não vai acontecer nunca mais. – Concordei triste com aquela constatação.

- Nós somos irmãos agora.

- Eu não sou seu irmão. Não quero ser seu irmão. – Ele repetiu minhas palavras. As mesmas que eu havia dito no dia que acordamos juntos no sofá. De alguma forma, eu entendi que ele queria dizer o mesmo que eu.

- Eu sei. Mas não depende de nós. – Falei, tentando lembrar dos nossos pais. – Vamos lá, não é nada demais, é só uma atração que vai passar. – Eu ia conseguir me convencer daquilo. Eu precisava me convencer daquilo. Ele concordou, embora não parecesse realmente concordar. Ele ia se convencer também.

- Vocês terminaram mesmo? – Ele perguntou após algum tempo, depois de comprarmos uma água de coco e começarmos a caminhar pra casa. – Você e o Fabinho, quero dizer.

- A gente não estava namorando mesmo. – Dei de ombros. – Ele nunca pediu.

- Sinto muito. – Agora ele parecia sentir. – Não queria acabar com o lance de vocês, mas também, não parecia que ele te merecia.

- Ah, não se preocupe. E nunca quis mesmo. Na verdade, ainda bem que ele nunca pediu, porque eu não saberia dizer não. Em todo caso, acabou. – Rafael me olhou estranho, tentando entender se eu estava falando sério ou se estava dizendo aquilo pra parecer menos sofredora. A perdedora apaixonada que queria um namorado mas o carinha com quem estava ficando nunca pediu.

- Me desculpa pela mensagem. – Ele pediu, depois de aparentemente convencido de que eu não estava sofrendo por ter terminado com Fabinho.

- Tá brincando? – Perguntei divertida e ele devia estar me achando bipolar. – Eu adorei.

- O quê? – Ele parou de andar, jogou o coco vazio fora e voltou a parar na minha frente, me encarando sem entender. – Então você não estava com raiva de mim?

- Não. – Respondi, me segurando pra não rir da cara dele.

- E eu te chamei de mal agradecida. – Meu sorriso sumiu e olhei pro chão.

- É. – Concordei. – Mas eu acho que mereci, né. – Senti sua mão levantando meu queixo pra olhar pra ele.

- Não. – Negou. – E eu não estou de saco cheio de te ajudar. Nunca estive, ok?

- Tudo bem. Deixa pra lá. – Desviei o rosto e continuei andando.

- Você ficou triste. – Ele constatou, andando ao meu lado.

- Um pouco. – Concordei. – Mas já passou. Não se preocupe.

- Desculpa. – Repetiu.

- Já disse que passou. – Empurrei seu ombro sorrindo. – Chega.

- Você vai lá mais tarde? – Ali naquele ponto a gente se separava, eu iria pro meu prédio e ele seguiria mais duas ruas pra chegar no dele. Ele estava se referindo a ir mais tarde na casa dele, com meu pai e o Gui.

- Claro. – Revirei os olhos, como se não tivesse escolha. Eu tinha. Eu sempre tinha outra escolha, mas agora sempre decidia que preferia ir. Ele sorriu, tirando o cabelo molhado do rosto e andou alguns passos de costas me olhando, antes de virar e seguir caminhando normalmente. Balancei a cabeça tentando esquecer o beijo e o gosto dele que ainda estava na minha boca. Lembrei da choppada e da Jéssica me encontrando no banheiro e me dizendo que ele era um idiota, que não entendia as indiretas dela e que a tinha deixado plantada sozinha, porque disse que precisava falar comigo. Encostei meus dedos nos lábios, pensando no beijo de novo. Droga.

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Nota: Eiiii, alguém vivo? Gosto de pensar que vocês adoraram esse capítulo.. e então? Outro beijo roubado, mais sentimentos confusos. Eles só vão complicando as coisas. O que será que o Rafa vai pensar disso? 

Stef

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora