Quando eu voltei do banheiro, após comermos a torta, senti que havia alguma tensão rolando no ar. Minha mãe e o Gui pareciam acompanhar um jogo de tênis, mudando a cabeça de direção para ouvir as respostas trocadas pelo Sérgio e a Isadora. Ela estava vermelha, irritada e pelo menos dessa vez, não parecia ser direcionado a mim. E o Sérgio estava sério e dando várias respostas meio grossas para as meninas, de uma maneira que eu nunca tinha visto. Olhei para o outro garoto sentado na mesa, o tal do Tomás e ele só franziu as sobrancelhas para mim, sem dizer nada. Passei a prestar atenção na conversa e entendi que elas queriam ficar ali e ele não queria deixar. Ri internamente do desespero dela, mas também, fala sério, a garota já era meio grandinha para ele ficar controlando daquele jeito, não? Se eu estivesse no lugar dela, acho que também me revoltaria, mas como eu não estava, fiquei contente em assistir seu desespero. Será que eles vendiam pipoca, para eu acompanhar melhor aquela discussão? Eu estava me divertindo até a minha mãe dizer que tinha tido uma ideia e quando ela apertou minha mão em um gesto meio desesperado, eu sabia que não podia ser boa. Pelo menos não para mim. Eu tinha certeza que ela ia sugerir que eu ficasse e foi exatamente o que ela fez. Meu ânimo morreu, minha diversão acabou e eu quase levantei dali e fui embora correndo. Eu agora era motorista dela por acaso? Ajudar o Gui, tudo bem. Mas isso? Babá, motorista, será que ela queria que eu desse comida na boca também? O único conforto que eu tinha, era que, sabendo que ela me odiava, não ia me querer na festa dela, então ela confrontaria o pai até ele desistir daquela ideia, nem que ela tivesse que ir para casa por causa disso. Mas então, rápido demais ela concordou. Eu não estava acreditando. Só podia ter colado chiclete na cruz. O que aquela amiga dela tinha dito para convencê-la tão rápido?
- Por favor, Rafa. – Minha mãe sussurrou no meu ouvido. – Faz isso por mim. Já que você não tomou conta dela naquele dia, faça isso hoje. – Eu sabia que ia surgir isso em algum momento. Maldito dia que fui embora, eu devia ter fechado a porta na cara dela, me jogado no sofá e ficado ali até minha mãe chegar. Até o feriado acabar, talvez, para ter certeza que o Gui não precisaria voltar pro hospital por algum motivo qualquer. – Além do mais, ela disse que ia adorar sua companhia, não faça uma desfeita dessa para a menina. Eu te disse que ela não te odiava. – Na moral, só uma pessoa cega para não perceber que ela estava sendo irônica, mas se eu dissesse para minha mãe que ela era tapada por não perceber, acho que ela me dava um soco ali mesmo. Não que ela já tivesse batido em mim, mas talvez começasse naquele momento.
Então, eu não tive escolha a não ser concordar. E ainda tive que escutar mais um milhão de instruções da minha mãe, sobre tomar conta dela, não deixar que ninguém estranho se aproximasse das meninas, não voltar muito tarde e dirigir em segurança. Eu não bebia mesmo, então não tinha problema com relação a isso. Depois que eles foram embora, as meninas sumiram da mesa, me deixando sozinho com o Tomás, que me deu uma olhada de pena e deu de ombros, ao que eu revirei os olhos e bufei, contrariado. Se eu bebesse, essa era a hora que eu deveria pedir uma coisa bem forte e virar tudo de uma vez.
Quando elas voltaram do banheiro, as portas da pista já tinham aberto e eu só soube que elas tinham ido para lá porque a amiga dela veio chamar a gente. Quer dizer, ela veio chamar o namorado, mas pelo menos me avisou que elas estavam indo para lá. Levantei a contragosto, mas pelo menos a música que estava tocando não era aquela chatice que tocam normalmente em boates, eu tinha pavor daquilo. Eu ia procurar a Isadora para tentar tirar a limpo aquela palhaçada que ela tinha feito no dia do acidente, mas ela veio até mim primeiro.
- Olha só, - Acho que ela queria parecer intimidadora, chegando cheia de atitude, mas mesmo de salto alto, ela ainda batia na altura do meu nariz. – eu só concordei com isso para eu poder ficar. Por mim você pode ir embora. – Dei uma gargalhada na cara dela.
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Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]
Teen FictionISADORA "Dentre tantas mulheres no mundo, meu pai tinha que escolher ficar justo com a mãe do garoto mais insuportável da face da Terra. Como uma mulher tão legal quanto a Cíntia, havia gerado um ser assim irritante? O Rafael me tirava do sério, me...