[24] RAFAEL

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Saí do quarto com a cabeça soltando fumaça tentando entender o que estava acontecendo. Entrei no banheiro e enquanto escovava os dentes, pensei no quanto aquilo tudo era estranho e desconhecido. Embora eu esperasse que ela não tivesse percebido minha reticência sobre sairmos juntos, eu tinha quase certeza que ela havia notado. Não era uma questão de não querer estar com ela simplesmente porque a gente se detestava. Não, detestar era uma palavra forte, pelo menos para mim, que não sentia isso de verdade. Eu só não me sentia confortável de ficar perto dela sabendo que ela sim, claramente me detestava. Mas uma coisa era ir ao show juntos, onde tínhamos no que prestar atenção e não estar juntos tecnicamente. Outra coisa era saírmos agora e termos que compartilhar um dia inteiro, sem uma programação e efetivamente ficarmos na companhia um do outro. Eu não sabia para onde ir e não estava nem um pouco afim de escutar ela enchendo meu saco, reclamando, caso eu escolhesse algum lugar que não fosse do seu agrado. Porque eu tinha certeza que ela faria isso. Mesmo que ela gostasse, ela encontraria algum defeito só para poder implicar comigo. Porque era isso que ela sempre fazia. Então eu não tinha escapatória. Lavei meu rosto e suspirei olhando meu reflexo no espelho. Eu ainda não conseguia entender de fato o que eu havia feito para ela agir sempre daquela maneira insuportável comigo, mas por alguns segundos naquela nossa conversa, eu senti que ela havia abaixado a guarda e talvez estivesse disposta a tentar, provavelmente pensando nos nossos pais. E eu decidi que faria o mesmo. Até ignorei seu sarcasmo. Mas então ela me olhou com aqueles olhos enormes e assustados, e eu não entendi nada. O que se passava na cabeça daquela garota? Eu sei que mulheres eram confusas e talvez nem elas mesmo soubessem explicar o que se passava em seus pensamentos, mas Isadora era um mistério. Enquanto eu saía do banheiro para pegar uma camisa limpa na minha mala, eu vi pela porta entreaberta do seu quarto, que ela estava sentada na cama, olhando para o chão com a expressão preocupada e de repente me ocorreu que talvez ela tivesse entrado em pânico achando que eu a beijaria novamente. Rafael, como você é idiota. Me senti patético. A pior coisa que eu havia feito na vida, fora beijá-la. No que eu estava pensando? Tentando ignorar esses pensamentos, entrei no banheiro de novo para me trocar e quando estava pronto, bati na sua porta, empurrando devagar. Ela estava na mesma posição pensativa e demorou para notar minha presença.

- Já pensou em algum lugar para irmos? – Perguntei, com a mão no bolso do meu casaco. Ela olhou para mim, saltando da cama em um pulo, pegando sua bolsa e negou com a cabeça. Respirei fundo, sabendo que seria um longo dia, mesmo que ele já estivesse na metade.

Andamos até o metrô e eu estava ficando impaciente. De que adiantava ir até lá se a gente não tinha destino ainda? Não teria sido mais fácil ficarmos em casa alguns minutos a mais, pesquisando na internet alguma opção? Ela parecia calma e eu cansei de tentar entender. Entramos na estação e antes de atravessarmos o guichê, eu parei. Ela parou também quando notou que eu não estava indo em frente.

- Isadora, onde vamos?

- Que droga, garoto. Passa a porcaria do cartão e entra. – Ela passou e parou do outro lado olhando para mim. Que garota insuportável, custava me falar quais eram suas intenções? Passei meu cartão muito a contragosto e atravessei, parando ao seu lado.

- E agora o quê? – Perguntei, demonstrando toda minha irritação. Ela me ignorou, andando até o mapa do metrô enorme, pendurado na parede. Parei ao seu lado, olhando e tentando pensar em algum opção. Já tínhamos rodado todo o centro da cidade, visitado os principais monumentos, museus e lojas. Mais ou menos o mesmo que eu havia feito há alguns anos com Rui. Só que como eu e meu amigo tivemos mais tempo, visitamos algumas cidades próximas, como Cambridge, Oxford, Windsor e Brighton. Isso ocupou a maior parte dos nossos dias e de Londres eu não conheci nada além do essencial.

- Fecha os olhos. – Ela disse, analisando o mapa.

- O quê? – Olhei para ela sem entender.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora