[11] ISADORA

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Quando o Ricardo chegou em mim, eu estava quase explodindo de alegria. Era a primeira vez que um garoto que eu gostava, tentava algo e eu não saía correndo. Talvez porque eu já tivesse bebido antes de ele fazer isso, eu estava um pouco mais relaxada, meio zonza. Não estava acostumada a beber e a Bia havia me convencido a beber algumas tequilas, além daquele coquetel delicioso. Eu estava bebendo o primeiro coquetel, observando de rabo de olho o Rafael tomando conta do que eu estava fazendo, quando o Ricardo chegou. Esqueci completamente da raiva que estava sentindo daquele garoto que tinha levado meu pai ao pé da letra e estava ali, igual a um urubu, observando todos os meus movimentos. De repente, eu já nem lembrava da existência do Rafael e só conseguia pensar que o Ricardo havia mesmo aparecido e que ele estava olhando para mim. Andei um pouco pela festa, bebi mais um pouquinho para ajudar na desinibição e após pegar meu segundo coquetel e dar uma volta estratégica por onde ele estava, ele finalmente veio falar comigo. Tudo bem que era meu aniversário e ele deveria ter feito isso no minuto que chegou, mas de repente ele estava pensando em como me abordar, como chegar sutilmente para não me assustar. Ele começou conversando comigo sobre o lugar, que ele adorava, dizendo que ia ali com bastante frequência. Enquanto a gente observava ao redor, ele pareceu sem graça de não ter me dado parabéns ainda e me deu um abraço, do qual ele não se afastou completamente depois e dali, para ele começar a me beijar, foi bem rápido. Lógico que não ofereci muita resistência. Além de eu estar completamente solta pela bebida, eu queria aquilo há meses. Ele beijava tão bem, melhor que os poucos que eu havia beijado antes, embora um pouco agressivo, eu esperava algo um pouco mais calmo, mas ele parecia cheio de vontade. Provavelmente porque também já queria isso há muito tempo, como eu. Ficamos nos beijando por bastante tempo, eu já nem fazia ideia da hora, mas não me importava. Fomos parando de nos beijar aos poucos, terminando com alguns selinhos e ele mordeu meu lábio inferior, devagar, em seguida sorrindo de lado.

- Nossa, estava louco para te beijar há muito tempo. – Eu sorri, concordando. - Vou buscar alguma coisa para bebermos, você quer o quê? – Ele perguntou, gentilmente e eu fiquei toda contente.

- Eu quero outro coquetel desse aqui. – Mostrei meu copo, com um restinho de bebida colorida, nem me tocando que ele precisava do nome do drink e assim, ele teria que chegar no bar descrevendo a cor da bebida e o formato do copo, até conseguir acertar. Mas quando eu ia dizer o nome, ele já estava distante. Resolvi ir rapidamente ao banheiro, na intenção de voltar para aquele mesmo local antes que ele voltasse do bar, para a gente não se desencontrar. Encontrei com a Bia lá e dei pulinhos de alegria enquanto descrevia para ela os últimos acontecimentos. Ela ficou animada e me contou que também estava ficando com um cara, de uns vinte e três anos, que morava em Copacabana. Tentando não perder tempo, eu me despedi dela, lembrando que deveríamos estar na porta do bar às duas em ponto, senão aquele energúmeno ia deixar a gente para trás. Voltei para aquele lugar e esperei. Eu esperei uns quinze minutos. Juntando com os minutos que fiquei no banheiro, ele já deveria ter voltado há tempos. Pensei que talvez ele tivesse voltado rápido e não tivesse me encontrado, praguejei sobre minha ida ao banheiro e saí andando pelo local, procurando por ele. Primeiro fui até o bar, podia ser que ele ainda estivesse ali, mas não estava. Nem Rafael estava mais ali, mas eu estava pouco me lixando para ele. Andei por uns dez minutos todo o perímetro do local e nada. Resolvi voltar até o ponto de partida e ele não estava ali também. A gente provavelmente estava se desencontrando, ele me procurando para um lado e eu, para o outro. Dei uma última volta, já desanimada, com medo de não o encontrar mais e acabar a noite sem ficarmos novamente. Embora a gente fosse se ver na segunda e com certeza passaria a ficar na escola. Isso me animou um pouco, até eu começar a imaginar nós dois, sentando próximos na sala de aula e roubando beijos no corredor. Quer dizer, não que eu nunca tivesse imaginado isso, mas agora era real. Até eu me dar conta de que ele estava há poucos metros de mim beijando uma ruiva com tanta vontade que os pés dela estavam até saindo do chão de tanto que ele a amassava. Meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo minuto, continuei parada sem reação, até virar e sair dali porque não conseguia mais olhar para aquela cena. Fui direto para o bar e pedi mais duas tequilas e um coquetel. Antes de começar a beber o que havia pedido, olhei a hora e percebi que deveria estar na porta já. Mas eu não podia ir embora ainda. Eu precisava beber mais. Já não estava entendendo mais muita coisa, quando bebi a segunda tequila encontrei a Paulinha e o Tomás, tentando me impedir e perguntando porque eu estava chorando tanto. Contei o que tinha acontecido e tive que ficar ouvindo o Tomás falando que ele tinha avisado que o Ricardo era assim e a gente que fantasiava demais e não tinha percebido. Não que eu quisesse ouvir aquelas coisas no momento, mas ele tinha razão. Embora meus pensamentos estivessem muito embaralhados para pensar o que era razão e para que ela servia. Bebi metade do coquetel de um gole só, me esquivando de Paulinha que tentava pegar o copo para tirar da minha mão e me desequilibrei do banco onde estava sentada. Eu teria caído de cara no chão se alguém não tivesse me segurado na mesma hora. Quando olhei para ver quem era, com os olhos meio embaçados, em parte por causa da bebida, em parte por causa das lágrimas, tinha esperanças que fosse o Ricardo, arrependido. Mas era o Rafael. Tinha que ser. Ele estava me olhando preocupado, mas provavelmente estava me julgando patética, ali bêbada por causa de um cara. Embora ele não soubesse que fosse esse o motivo. Até o Tomás contar. Mas eu estava muito mal para fazer qualquer coisa, ou reclamar e comecei a chorar de novo. Senti o Rafael me apertando e passando o braço em volta do meu ombro, me forçando a levantar do banquinho e andar. Eu não queria andar, queria continuar bebendo. Mas ele me puxou e me fez caminhar para fora da boate. O ar fresco bateu no meu rosto como um tapa na cara. Ele me levou até um canto onde tinha menos gente e eu só queria sentar no chão. Eu estava cansada, estava tonta e não conseguia mais me segurar em pé. Queria minha cama, queria meu pai e meu irmãozinho. Ele não me deixou sentar no chão de jeito nenhum. Me debati, não aguentava mais, eu precisava descansar. Minha cabeça estava pesada, tudo muito confuso. As luzes da rua estavam embaçadas, as paredes estavam se mexendo, eu juro. Tentei sentar de novo, e ele me segurou com mais força, então eu me joguei nos braços dele e continuei a chorar. Me pendurei em seu pescoço, já sem muita força para continuar sustentando minhas pernas. Pouco depois senti ele passando as mãos pelos meus cabelos e por incrível que pareça aquilo me confortou. Fiquei um tempão ali, até sentir como se tivesse levado um soco no estômago e tudo voltar com uma força impressionante. Eu precisava vomitar e não podia fazer isso em cima dele, me afastei quase caindo para trás com o impulso que dei e virei para a rua a tempo de colocar tudo para fora no ralo. Menos mal. Em poucos segundos senti que ele estava segurando meu cabelo. Mas eu não estava prestando muita atenção em nada, só no enjoo que eu estava sentindo, com meu jantar e aquelas bebidas todas misturadas queimando minha garganta. Pouco depois ouvi a voz das minhas amigas e senti uma água geladinha batendo na minha nuca e aquilo foi muito bom. Um alívio imediato. Senti que, aos poucos, eu já não estava tão enjoada. Me virei para olhar para ele, tentando não pensar em como eu devia estar abominável. Senti mais um grande alívio quando ele passou um pouco de água na minha testa molhada de suor e na minha boca que estava com um gosto horrível. Andando devagar, garantindo que eu estivesse bem, chegamos no carro. Ele me colocou deitada atrás com Bia segurando minha cabeça para tomar conta se eu não ia vomitar de novo. Paulinha e Tomás seguiram para a casa dele, depois de se certificarem que nós ficaríamos bem. Eu principalmente, já que Bia estava bêbada, mas era acostumada a beber.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora