[40] RAFAEL

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Minha cabeça estava uma confusão. Uma enxaqueca constante devido à todos os acontecimentos recentes. Pensar no meu pai de volta, na minha mãe fazendo besteira e ter que mudar toda minha rotina pra não voltar pra casa e encará-los já era ruim o bastante. Mas somado à tudo isso, – e era incrível que aquilo estivesse tomando tanto meus pensamentos quanto os meus problemas familiares – eu ainda estava lidando com todos aqueles sinais confusos que partiam de Isadora. Por mais raiva que eu pudesse ter sentido dela ao esconder as informações de mim, eu não consegui guardar por muito tempo. Vê-la sentada na calçada, o dia inteiro, sem desistir de me persuadir, havia provado que ela se importava muito mais do que eu poderia imaginar. Era incrível que uma pessoa pudesse se transformar tanto em tão pouco tempo. Há um ano, por mais que eu implicasse com ela só por sua insistência em me odiar, eu a via, sinceramente, como uma menina indecisa, um pouco sem personalidade e imatura. E agora, ela me parecia totalmente diferente, confiante e decidida. Lembrando das palavras da minha avó, aquilo me fazia ver que ela se importava. Porque suas atitudes recentes eram de alguém que se importava de verdade. E não parecia pouco. Os dias que se seguiram me mostraram uma Isadora ainda mais preocupada com meu bem estar, com minha mãe, com a situação e mesmo que não quisesse muito tocar no assunto, sempre acabava ouvindo seus conselhos ao tentar me convencer a dar uma chance de eles se explicarem. Ainda não me sentia preparado pra encarar, mas ela sempre segurava minha mão, deixando subentendido que ela estaria ali, caso eu precisasse. E eu sei que é horrível pensar uma coisa assim, dadas as circunstâncias, mas eu percebia a cada segundo que gostava dela mais e mais, e o fato de nossos pais não estarem mais juntos, só tornava tudo mais fácil. Eu disse!! Horrível!!! Mas daquela perspectiva, pra mim não era tão ruim assim. Só que então eu recebia os tais sinais confusos. Se ela se importava tanto e já tinha admitido que não queria ser minha irmã porque estava confusa, dando a entender que queria ficar comigo, inclusive retribuindo o meu beijo, porque ela sempre parecia meio distante quando rolava algum clima entre nós? Parecia sempre com medo e com vontade de fugir, o que me levava a pensar que eu talvez estivesse interpretando tudo errado. Que ela realmente achasse que era só uma atração que iria passar eventualmente. Pra complicar ainda mais minha cabeça, eu começava a pensar que eu estivera enganado quando achei que o sentimento estivesse crescendo pra ambos. Merda, será que eu estava na friendzone?

Eu estava sentado sozinho no CT, na hora do almoço, já que Pati havia faltado para ir ao médico, quando o Jiló e a Lúcia apareceram, sentando nas cadeiras vagas ao meu lado. Recoloquei meu celular no bolso, já que estava passando meu tempo com ele e encarei os meus colegas.

- Um real pelos seus pensamentos. – Lúcia falou, sorrindo e roubando uma batata frita do meu lanche.

- Com essa cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança, se colocar um copinho ou um chapéu aqui, vai faturar muito mais que um real. – Jiló completou e levou uma cotovelada de Lúcia.

- Bem melhor. – Ela falou pra mim, vendo que eu agora estava sorrindo.

- Nem eu sei sobre o que estou pensando na verdade. - Claro que eu não ia começar a contar pra eles tudo que se passava na minha cabeça. Nem pra eles, nem pra ninguém. Até porque, sobre a parada do meu pai, só Isadora sabia. Nem Pati, nem Rui e muito menos Pedrão. Às vezes eu sentia remorso por nunca ter compartilhado com meus amigos aquela parte da minha vida, mas eu nunca tinha sentido vontade de contar pra ninguém, até eu contar pra Isa. Isso só me fazia pensar ainda mais sobre o quanto eu estava mergulhado até o pescoço em um problemão com ela. – Cadê a Isa e o Rodrigo? – Perguntei, estranhando a ausência dos dois, que normalmente estavam sempre juntos de Jiló e Lúcia.

- Eles estão juntos em algum lugar, não sei bem, porque não estavam com a gente na primeira aula. – Lúcia falou, dando de ombros, procurando dinheiro na bolsa pra comprar o almoço dela. Eu acho que não consegui segurar minha cara de desagrado para aquela informação, porque Jiló me olhou com uma sobrancelha erguida e um sorrisinho de lado.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora