[6] RAFAEL

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Naquela quinta, cheguei em casa exausto. Havia feito duas provas chatas pra caramba, não tinha certeza se tinha me dado bem em nenhuma e a única coisa que eu queria era me jogar na cama e dormir. A coisa mais alegre daquele dia era saber que o dia seguinte era feriado, me dando um final de semana mais longo para curtir minha cama e meu ócio. Minha mãe já tinha dito que sairia com o Sérgio à noite e não pretendia voltar até o dia seguinte, então eu poderia acordar a qualquer hora na sexta, sem ter que ser com ela passando o aspirador na casa ou me pedindo para ir ao mercado comprar alguma coisa que estivesse faltando. Não que eu reclamasse, mas eu ia apreciar bastante poder dormir sem hora para acordar. Tirei um cochilo, e passei a tarde toda jogando videogame e ouvindo música, até minha mãe aparecer muito bem vestida na porta do meu quarto, para dizer que já estava saindo, embora ainda fosse relativamente cedo.

- Nossa, que espetáculo. – Eu falei, sorrindo para ela e ela me devolveu o sorriso encabulada.

- Para de bobagem, Rafa.

- Tô falando sério, mãe.

- Ok, obrigada, nesse caso. – Ela entrou no quarto, me deu um beijo e se virou para sair. – Você vai sair? – Ela parou na porta, virando novamente para mim.

- Olha minha cara de quem tá afim de ir a algum lugar. – Ela riu.

- Que novidade. – Rolou os olhos, rindo para mim. – Bom, tem comida na geladeira, mas eu tenho certeza que você vai acabar pedindo uma pizza.

- Bingo. – Ela sempre sabia. – Vocês vão aonde?

- Não sei. – Ela sorriu excitada. – Ele disse que era surpresa, que tínhamos que sair cedo para evitar o trânsito do feriado, mas me disse para te avisar que não era para me esperar acordado ou até amanhã de noite.

- Nossa!! – Brinquei com ela, impressionado. – Estou esperando ansioso por notícias. Pelo visto só saberei no sábado, não duvido que você chegue amanhã quando eu já estiver dormindo. Divirtam-se, mãe.

- Obrigada, meu anjo. – Ela mandou mais um beijo no ar e saiu.

Eu continuei jogando até começar a ficar com fome. Percebi que minha fome tinha chegado bem tarde, porque já passava das onze horas. Eu sabia que dormir de tarde e lanchar quando eu acordei iam fazer isso comigo. Quando eu peguei no celular para ligar para a pizzaria, ele tocou. Era minha mãe e eu achei muito estranho ela me ligar no meio de um encontro.

- Ai que bom que você atendeu rápido, Rafa. – Ela parecia alarmada e eu fiquei preocupado.

- O que aconteceu, mãe?

- O Gui, ele caiu e bateu com a cabeça na quina da mesa de centro e nós estamos muito distantes para voltar tão rápido. – Peguei a chave do carro correndo e já estava na porta enquanto ela continuava falando. – A Isa ainda não tem idade para pegar o carro, só que ela passou mal vendo o sangue e a única coisa que conseguiu fazer foi ligar para o pai, ou algo assim, não importa.

- Eu já tô indo, mãe. – Cheguei na garagem do prédio, entrando rapidamente no carro. – Fiquem tranquilos. Não voltem correndo, para não causar nenhum acidente, sei lá onde vocês estão. Tenho que ir, tchau. – Não dei tempo de ela continuar falando onde estavam ou quanto tempo demorariam para chegar. Eu precisava dirigir.

Sorte que a gente morava super perto deles, e àquela hora, as ruas estavam mais vazias porque muita gente já tinha saído da cidade para o feriado. Logo eu estava estacionando o carro e avisando ao porteiro onde estava indo. Isso demorou alguns minutos porque é claro que ele não me deixou passar, porque não me conhecia e precisou interfonar. Ela deve ter gritado com ele no interfone, porque ele abriu a porta rápido, dizendo para eu me apressar. Ainda bem que o elevador estava no térreo, porque não tinha condições de eu subir sete lances de escada correndo, mas também não estava afim de esperar. Cheguei no andar dela e vi que ela tinha deixado a porta aberta para mim. Quando passei pela porta, notei que estava com a marca da mão dela em sangue. Encontrei ela sentada no chão, segurando o irmão com um pano no alto da cabeça dele. Ela estava muito mais pálida que o normal, com o rosto todo molhado de lágrimas e meio suja de sangue.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora