Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]

[37] ISADORA

Quando ouvi os murros na porta e a campainha sendo massacrada, alguma coisa dentro de mim sabia quem estava ali. Um desespero tomou conta, porque eu sabia que era ele e que se estava daquele jeito era porque ele já tinha descoberto o que eu tinha sido obrigada a esconder. Ao mostrar a foto pro meu pai na segunda-feira de noite, depois de um dia inteiro mastigando aquela informação sozinha, eu pensei que fosse partir seu coração. Sentia uma raiva tão grande de Cíntia e do que ela estava fazendo com meu pai e com o próprio filho. Quer dizer, eu imaginava que o Rafael fosse sentir vergonha de saber que sua mãe estava traindo meu pai com outro, não podia aceitar que ele soubesse. Colocaria minha mão no fogo, certa de que se Rafael soubesse já teria feito alguma coisa sobre aquilo. Mas quando eu finalmente tomei coragem e conversei com meu pai, eu senti que tinha levado um tapa na cara ao descobrir que ele não só sabia daquilo, mas principalmente, quem era aquele cara com ela. Então ela me pediu pra não contar nada pro Rafa, me fez jurar que eu não o faria e o único modo de eu conseguir segurar aquela informação para que ela pudesse ser a portadora das notícias, seria não encontrando com ele. Por isso aproveitei que ele havia acreditado que eu estava passando mal e o evitei a todo custo. Só não contava que ele fosse atrás de informação minha. Eu devia ter respondido as mensagens dele, assim ele não teria ficado tão preocupado. Que droga. Ver seu rosto angustiado e triste ao saber que eu estava mentindo pra ele foi quase tão ruim quando lembrar da informação que eu estava escondendo. Mas como eu suspeitava, foi só cravar meus olhos nos dele que não consegui me segurar. Quer dizer, consegui por algumas horas, mas lembrar da maneira como ele me olhava, me fez mandar a mensagem pra ele, pedindo que me encontrasse, porque eu não podia deixar que ele ficasse sem aquela informação tão valiosa. Seu coração ficaria partido e eu só desejava que ele entendesse que eu queria ter contado antes, pra que ele me deixasse ficar perto pra segurar os pedaços quando ele desabasse. Só que ele não me respondeu e agora estava ali, cheio de raiva e eu podia ver em seus olhos que ele sabia que eu sabia, então só olhei pra ele, pedindo em silêncio que me perdoasse e me permitisse ser seu porto seguro mesmo tendo feito tudo errado.

- Vocês sabiam? – Ele sussurrou com raiva, ainda parado na porta da cozinha. – Você sabia, Sérgio? Ela estava te traindo com ele?

- Claro que não, meu filho. – Meu pai falou, horrorizado com aquela idéia. – Sua mãe jamais faria isso. Eu sinto muito. Eu sabia sim. Estive ao lado dela apoiando todas as decisões e aconselhando quando ela parecia não saber o que fazer.

- Vocês são loucos. – Ele balançava a cabeça de um lado pro outro, sem acreditar. – Como você pode apoiar que ela volte a se encontrar com ele? Você acha sensato que ela entregue o coração dela novamente pra um cara que a abandonou? O que te faz pensar que ele não o fará de novo?

- Rafa, ele é seu pai. – Papai estava à beira de lágrimas também. Também, porque eu já estava derramando as minhas desde que ele chegara, me olhando com raiva.

- ELE NÃO É MEU PAI. – Gritou, virando pra sair. Mas virou-se novamente, dessa vez olhando pra mim. – Você sabia, não sabia? Era isso que você queria me dizer? Era por isso que estava me evitando? Você sabia. – Não consegui responder e quis morrer com a olhada que ele me deu, antes de virar e sair pela porta ainda escancarada.

- Rafa, espera. – Corri atrás dele na escada, porque ele não ficou esperando o elevador, obviamente. – Por favor, me escuta. – Já havíamos descido uns dois andares quando ele virou pra trás pra me encarar.

- Você achou que eu não merecesse saber que meu pai estava de volta? E que ele estava se encontrando com a minha mãe? – Fiquei parada, olhando pra ele alguns degraus abaixo, me encarando com mágoa. – Você mentiu pra mim pra não ter que me encarar.