A Lúcia e o Jiló estavam me tirando do sério desde o dia anterior. Por algum motivo que eu não entendi, ele resolveram reparar que existia uma nuvem enorme de sentimentos coloridos entre o Rafa e eu. Honestamente, até que demorou pra alguém perceber, porque não era como se a gente conseguisse disfarçar muito. Minha cabeça estava cheia e eu desejava ter uma Penseira igual à do Dumbledore, pra poder guardar meus pensamentos pra observar mais tarde e ficar mais leve. Eu não queria nem pensar que a aparição do pai do Rafael significava que a gente agora tinha, aparentemente, o caminho livre. Por mais que fosse verdade, me sentia horrível ao pensar algo assim, considerando que agora meu pai estava sozinho, a Cíntia estava péssima, o pai dele não parecia muito melhor e ele estava arrasado. Consequência? Eu também ficava. Afinal, como poderia ficar neutra diante dessa desgraça toda? Então cada vez que ele chegava perto com segundas intenções, eu queria sumir. Simplesmente porque o que eu queria mais que tudo era jogar aquelas frustrações pro alto e ficar logo com ele, mas eu não podia pensar só em mim no meio daquele furacão. Então eu achava que a gente precisava dar um tempo e resolver a situação dele com os pais primeiro. Eu só não tinha dito isso pra ele e eu acho que, sem querer, estava colocando dúvidas e caraminholas em sua cabeça. Então depois de aguentar muita piadinha, resolvi ter uma conversa séria com a Lúcia, ou quase séria, porque isso era um coisa que ela não sabia ser. Foi quando ela explicou que o Rafa tinha ficado cheio de ciúmes naquele dia e depois de bater um papo sobre nós dois, ela me ajudou a entender que eu estava realmente fazendo merda. Rafa e eu precisávamos conversar. Mas como nem tudo são moranguinhos e a vida não é cor de rosa como eu achava que fosse até perder minha mãe, meu pai resolveu sentar pra conversar comigo e me contar um pouco do que tinha acontecido na vida deles, o porquê do pai do Rafa ter ido embora e o porquê de ele ter voltado. Eu entendi que a situação era completamente diferente da que eu ou o Rafa havíamos pintado e, mesmo que eu não soubesse da história completa, estava na hora de ele sentar pra escutar. Também percebi que meu pai tinha resolvido me contar aqueles detalhes com o aval da Cíntia, na esperança de que eu o convencesse à, finalmente, dar-lhes uma chance.
Saí da aula ansiosa, com a palma da mão molhada pelo nervosismo de encontrar com o Rafa pra falar sobre aquilo. Só rezava pra ele não ficar com raiva de mim quando abordasse o assunto ou quando eu dissesse que não cabia a mim contar a verdade, mesmo que eu soubesse agora qual era. Ou quase. Pensei que teria o caminho até o CT pra me preparar psicologicamente, mas levei um susto quando depois de menos de dez passos da minha sala de aula, encontrei com ele, me esperando.
- Curioso você, né? – Sorri amarelo e olhei pro meu tênis, tentando ganhar tempo.
- Você já devia saber disso. – Ele estava sério, porque já tinha reparado no meu nervosismo. – O que houve?
- Vamos pra um lugar mais tranquilo. – Peguei na sua mão e andei com ele até uma área mais vazia, perto das salas de aula, agora que o pessoal tava no intervalo.
- Sua mão está suando. – Ele constatou preocupado.
- Desculpa. – Tirei a mão rapidamente da dele, com vergonha.
- Fala logo, tá me assustando. – Pediu impaciente.
Então eu sentei no banquinho de pedra, ao que ele me acompanhou e comecei a falar sobre a situação. Não dei nenhuma das informações que havia descoberto, porque mais uma vez, não cabia a mim, mas tentei fazê-lo entender que ia muito além do que ele pensava ser. Mesmo com a insistência dele, eu não contei o que sabia, mas apesar de frustrado, ele não ficou com raiva de mim. Voltou a segurar minha mão, agora menos suada por não termos brigado. Aninhei sua mão entre as minhas, tentando passar coragem.
- Tudo bem. – Ele disse e suspirou. – Vou pra casa hoje e converso com a minha mãe. – Sorri, contente por enxergar uma chance de ele perdoar os pais e acalmar seu coração, mas quando eu ia dizer aquilo pra ele, fomos interrompidos. Apertei a mão dele com raiva, involuntariamente, ao ouvir a voz de Jéssica.
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Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]
Teen FictionISADORA "Dentre tantas mulheres no mundo, meu pai tinha que escolher ficar justo com a mãe do garoto mais insuportável da face da Terra. Como uma mulher tão legal quanto a Cíntia, havia gerado um ser assim irritante? O Rafael me tirava do sério, me...