[23] ISADORA

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Não conversamos mais depois daquilo, mas não ficou um clima estranho também. Antes de ele tentar puxar assunto estava um ambiente pesado, os dois meio tensos por milhares de razões, mas pelo menos da minha parte eu podia dizer que o que estava me deixando mais tensa era a lembrança do beijo. E eu não queria ficar pensando naquilo, porque não fazia sentido nenhum. Mas durante o dia me peguei olhando para ele algumas vezes enquanto fazíamos compras e lembrando do que havia acontecido de madrugada. Então tratava de espantar aquele pensamento e me focava em ficar com raiva dele novamente. Mas também estava pensando nas palavras do meu pai e então tentava não sentir raiva dele para que não continuássemos brigando e piorando a situação. Minha mente estava confusa e eu parecia girar em círculos atrás de uma solução. De qualquer forma, aquela breve conversa no metrô serviu para desanuviar um pouco, embora tenha terminado daquela maneira meio estranha. Senti que deixei no ar minha eterna mágoa e percebi que ele notou algo diferente. Mas não perguntou nada sobre. O show foi absolutamente incrível, naquelas quase duas horas esqueci que ele estava do meu lado e curti ao máximo. Aparentemente minhas músicas preferidas, eram as dele também, então até que foi divertido. Esperamos a arena esvaziar um pouco antes de saírmos, para não acabarmos nos perdendo na confusão. No caminho de volta para a "nossa casa", paramos para comer um doner kebab e mesmo que eu estivesse um pouco apreensiva por estar na rua de madrugada, ele me assegurou que não precisava ficar com medo. Sinceramente, não estava acostumada à liberdade de poder andar tranquilamente àquela hora pelas ruas. Chegamos em casa, tentando fazer o mínimo possível de barulho para não acordar ninguém. Eu estava muito feliz, porém morta de cansaço, considerando que havíamos andado o dia inteiro antes do show e já eram quase três da manhã. Mentalmente, eu calculava as poucas horas que teria para dormir, até que meu irmão me acordasse para saírmos rumo à mais um dia cheio de metas turísticas. Fiquei cansada só de imaginar e pensando nisso, dei boa noite à Rafael e entrei no quarto, caindo na cama sem sequer tirar toda a roupa.

Acordei sobressaltada e meio desnorteada. Só me dei conta que não estava sozinha no quarto, quando escutei o Rafael falando comigo para não dormir de novo.

- O que você tá fazendo aqui? – Perguntei, esfregando os olhos e tentando inutilmente ajeitar o cabelo e secar qualquer provável baba que tenha ficado seca pelos meus lábios, vai saber. Eu detestava acordar com gente me olhando. – Cadê o Gui? Que horas são? – Notei que ele estava sentado na cama do Gui de frente pra mim e não parecia muito mais acordado que eu, na verdade. Também esfregava os olhos com sono.

- São quase onze horas e é claro que o Gui está com nossos pais. – Ele respondeu, meio rouco. Levantei, sentando também, quase de frente para ele. E mesmo que ele tenha me dito a hora, por instinto, eu olhei no celular.

- Como assim? Eles não estão em casa? – Larguei o celular quando me dei conta do que ele havia dito.

- Não. – Ele esticou o braço e me entregou um bilhete, que deve ter encontrado na cozinha, escrito pela mãe dele, dizendo que haviam ficado com pena de nos acordar. Que eles seguiriam com os planos de ir à um parque de diversões para agradar o Gui após tantos museus e lojas. Que tivéssemos um bom dia e não brigássemos demais.

- Você não tinha o sono leve? – Perguntei, meio acusatória, tentando não ficar frustrada por ter sido deixada para trás com ele. Se ele tivesse acordado com os barulhos, talvez eles tivessem me acordado também.

- Eu tenho. – Ele estreitou os olhos, sabendo que eu estava colocando a culpa nele. – Mas eu também estava cansado. Isso não era exclusividade sua. - Emiti um som de raiva e impaciência, me jogando novamente para trás na cama.

- Tudo bem, Isadora. – Falei comigo mesma. – Respira fundo. Você vai sobreviver.

- Deixa de ser dramática. – Virei a cabeça no travesseiro, olhando para ele e o vi rolar os olhos.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora