[9] ISADORA

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Mal conseguia conter minha felicidade enquanto me arrumava com as meninas. Elas haviam chegado cedo naquele sábado, passando o dia comigo e agora estávamos quase prontas para ir para o barzinho onde eu ia celebrar meu aniversário. Eu estava muito empolgada, não só porque era meu aniversário, ou porque elas estavam ali, mas porque eu havia convencido meu pai a me deixar comemorar meus dezoito anos naquele bar extremamente maneiro em Ipanema. Todo mundo na escola falava daquele lugar, e eu morria de vontade de conhecer, mas meu pai sempre foi muito superprotetor para essas coisas e raramente me deixava ir às boates ou bares. Ainda mais eu sendo menor de idade. A Bia vivia me convidando, tentando me convencer a dar um perdido no papai, dizer que estava na casa dela para podermos ir, mas eu era muito medrosa, e a única vez que tinha feito aquilo, eu não tinha conseguido aproveitar absolutamente nada porque fiquei morrendo de medo de alguma coisa acontecer e meu pai descobrir. Sabe como é a Lei de Murphy. Algum acidente, algum problema, qualquer coisinha e ele precisaria ir atrás de mim sem saber onde eu estava porque havia mentido. E mesmo não tendo acontecido nada, o que a Bia vivia frisando, eu não queria brincar com minha sorte. Eu já havia tido algumas brigas com meu pai por isso, por querer sair e ele não deixar. Ele não confiava em mim. E ele sempre me dava a mesma resposta. Que ele confiava muito em mim, mas não confiava nos outros. E no fundo, eu sabia que era isso mesmo e ele só tinha medo de que alguma coisa me acontecesse e ele me perdesse também, como havia perdido a mamãe. Era uma coisa boba, ele não poderia me proteger pelo resto da vida, mas ele não tinha tido uma mulher para se preocupar com essas saídas noturnas da prole, enquanto ele dormia e ela se rasgava de desespero sozinha. Eu ficava com raiva quando queria sair, mas no fundo, eu entendia. Mas agora eu estava completando a maior idade e estava contando que ele me deixaria ficar até mais tarde no bar, depois que ele fosse embora, para aproveitar minha primeira noite de adulta. O bar funcionava com um restaurante descontraído, frequentado por famílias até as onze da noite, depois, eles paravam de servir comida e o lugar ficava cheio de jovens, bebida e muita música boa. Eles tocavam um misto de rock e pop, uma coisa totalmente diferente das baladas tradicionais, só com música eletrônica ou aquelas chatices. Esse era um dos motivos porque eu não brigava com meu pai sempre que pedia para sair e ele não deixava, porque quando a Bia queria ir para esses lugares com música repetitiva, eu não fazia muita questão. Mas era por isso que esse bar me empolgava tanto, era diferente. E eu estava louca para conhecer. O outro motivo que estava me deixando muito empolgada, era que o Ricardo estaria lá. Pelo menos, era o que ele havia dito à Bia, quando ela foi convidá-lo na cara de pau, sem nem me avisar. Ele com certeza estava achando que eu havia pedido para ela, mas ela me disse que ele garantiu que iria, então eu havia ficado com um pouco de esperança. Talvez ele quisesse o mesmo que eu.

- Você vai com o vestido preto mesmo? – Paulinha perguntou, enquanto passava o batom, terminando sua maquiagem. Nós já estávamos prontas, só ainda de pijamas e a última coisa que faríamos seria vestir as roupas, colocar as sandálias e sair.

- Vou. – Respondi sorrindo, pensando no vestido que eu comprara especialmente para meu aniversário. Ouvimos uma batida na porta e Bia, que já estava pronta, abriu.

- Vocês estão prontas? – Meu pai estava ali, com Gui, os dois prontos, esperando a gente, pra variar. Ele nos levaria de carro e eu estava planejando dizer para ele que ficaríamos e voltaríamos de táxi mais tarde. Ou no dia seguinte, mas isso seria arriscar demais com minha sorte.

- Quase. Só vamos trocar a roupa e já saímos. – Bia respondeu.

- Posso entrar pra ver? – Gui falou, quando Bia já estava encostando a porta e todas nós exclamamos chocadas. Só consegui ouvir meu pai reclamando com ele, perguntando onde ele tinha aprendido aquilo e eu podia jurar que tinha puxado ele pelas orelhas.

- Eu achando que ele fosse uma criancinha inocente. – Paulinha riu, enquanto tirava o pijama.

- Ele era até ainda pouco. – Eu falei, fazendo o mesmo. – Não sei o que deu nele. Deve ter visto na televisão sem querer.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora