[14] RAFAEL

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O shopping estava lotado, claro. Era domingo, estava chuvendo, então o Rio de Janeiro inteiro tinha decidido ir ao cinema também. Quase não encontrei uma vaga para estacionar e estava ficando irritado com a Pati me apressando porque íamos perder o filme, já que ela ainda queria comprar pipoca. Sorte que ela havia previsto que iria lotar e havia comprado os ingressos pela internet. Subimos as escadas até o andar do cinema e seguimos para a fila, enquanto ela tagarelava sobre o filme que tinha visto no Netflix no dia anterior e eu ria do seu jeito de contar as passagens mais engraçadas. Demoramos um pouco para comprar os nossos combos, mas conseguimos chegar alguns segundos antes dos trailers começarem. Sorte que os lugares eram sempre marcados, porque senão com certeza estaríamos com torcicolo lá na frente. Quando o filme acabou, esperamos a maioria das pessoas saírem, para podermos sair tranquilamente. Nunca entendi esse desespero de sair correndo do cinema quando o filme acaba. Principalmente quando vários filmes hoje em dia colocam cenas extras depois dos créditos. Mas no geral, fica todo mundo se empurrando, tentando passar ao mesmo tempo pela porta e se irritando, quando o objetivo de ir ao cinema é se distrair e divertir. Não faz sentido. Meus pensamentos foram distraídos por Pati me puxando pelo braço, escada abaixo, quase me fazendo tropeçar. Eu estava pronto para reclamar que ela sabia que eu não gostava de sair correndo, quando ela andou na direção contrária à porta de saída. Parei de olhar para ela irritado e olhei para frente, tentando entender porque ela tinha parado. Revirei os olhos, não acreditando no meu azar. Porque a Pati não tinha me avisado que tinha visto a Isadora antes? Assim eu teria evitado que ela me arrastasse na direção dela, estragando meu dia.

- Isadora!! – Pati exclamou, sorrindo contente para ela, que estava distraída conversando com Bia, aparentemente, esperando também o cinema esvaziar para sairem.

Não a via desde o episódio na praia, duas semanas antes e eu tinha certeza que ela ainda estava com raiva de mim. Não que eu estivesse orgulhoso, para ser sincero. Nunca havia feito algo tão idiota, mas jamais admitiria isso. Principalmente cada vez que eu lembrava da cara dela quando levantou no susto e as consequências daquilo. Sempre que eu pensava naquela cena, ficava com vergonha de mim e empurrava as lembranças para o fundo da minha mente, tentando não pensar no que eu tinha visto. E apesar da péssima iluminação do cinema, eu podia jurar que ela estava pensando na mesma coisa, pois suas bochechas ficaram imediatamente vermelhas quando me viu. E a princípio não era de raiva, porque seus olhos estavam levemente arregalados e assustados. De repente eu me lembrei que estava com Pati, que eu podia jurar que ela pensava ser minha namorada e já imaginava que sua vingança viria em segundos, tentando fazer "minha namorada" ficar com ciúmes e estragar meu "relacionamento". Aquele pensamento me fez rir internamente, porque ela daria um tiro bem longe do alvo. Porém, sempre que eu pensava que podia prever as ações de Isadora, ela fazia algo diferente.

- Oi, Pati. – Ela sorriu, educada, me lançando um olhar rápido e me ignorando, como sempre. Apresentou Bia para a minha amiga e mantiveram um conversa morna, principalmente sobre o filme que tinhamos acabado de assistir. Enquanto elas conversavam, iam caminhando para fora da sala do cinema, e eu fui seguindo as três, entretidas demais para lembrarem da minha existência. Quando chegamos no andar do shopping, Isadora e Bia disseram que precisavam ir embora, ainda bem, porque Pati insistiu que elas fossem comer com a gente. Se já não bastassem as poucas vezes que eu era obrigado a interagir com aquela garota, minha amiga ainda queria forçar esse tipo de situação? Não tive nem tempo de tentar persuadir Pati a abortar aquele plano, porque Isadora foi mais rápida, avisando que precisava voltar para casa para estudar, já que o vestibular estava cada vez mais próximo. Aquilo trouxe ainda mais assunto para a conversa, fazendo com que eu ficasse mais de meia hora parado, em pé, escutando as três conversando sobre provas e faculdades. De alguma forma elas pareciam se dar muito bem e também não demonstravam querer acabar a conversa, tanto que quando resolveram ir embora, Isadora assinou a minha sentença do sábado seguinte.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora