Fiquei uns bons minutos esperando a Isa aparecer, porque ela estava bastante atrasada. Com certeza perderíamos o começo da primeira aula. Na segunda vez que liguei pra apressá-la, ela apareceu correndo e entrando no carro esbaforida. Sua cara estava péssima, como se estivesse sem dormir há dias, com os olhos meio avermelhados de choro e nos atrasei mais ainda, simplemente porque não consegui tirar os olhos dela, cheio de preocupação, nem lembrando de dar a partida no carro.
- Já estamos atrasados. – Ela disse, sem me olhar nos olhos. – Se você continuar me olhando por muito tempo, é melhor voltarmos pra cama.
- Não acho que você deveria ter saído dela em primeiro lugar. – Falei, ainda observando seus movimentos, me evitando e indicando que eu deveria seguir em frente. Liguei o carro novamente e segui caminho. – O que aconteceu?
- Nada. – Seca e vaga.
- Conta outra. – Revirei os olhos, mas não voltei a olhar pra ela, agora que eu dirigia. – Sério, Isadora. Você está péssima, o que aconteceu?
- Obrigada pela parte que me toca. – Fingiu estar ofendida e eu sorri.
- Continua linda. Mas não foge do assunto, ainda quero saber o que aconteceu.
- Já disse que não aconteceu nada. – Seu rosto agora estava virado pra janela e mesmo parado no sinal, eu não podia ver sua expressão. Tentei pegar no queixo dela para que olhasse pra mim, mas ela puxou o rosto. – Me deixa em paz.
- Eu só quero ajudar. – Reclamei, agora com raiva.
- Dormi muito mal, só isso. – Ela respondeu, após respirar fundo. – Eu passei mal a noite toda.
- E o que você tá fazendo aqui? – Pensei em pegar o retorno e levá-la de volta pra casa, mas ela negou.
- Não posso faltar, semana de provas.
- Você tá me escondendo alguma coisa? – Queria ter conseguido olhar pra ela nesse momento, ela não consegue mentir pra mim, mas infelizmente o trânsito não me permitiu.
- Claro que não.
- Então por que não me disse de primeira que tinha passado mal?
- Fiquei com vergonha. – Ouvi uma fungada, como se ela tivesse segurando o choro. – E se eu tivesse dito quando ainda estávamos em casa, você nem teria me deixado sair.
- Com certeza não teria. – Sorri fracamente. – Ficou com vergonha de quê? Tá com cólica? – Finalmente ela me olhou e revirou os olhos.
- Por quê eu teria vergonha de dizer que estou com cólica, Rafa?
- Sei lá. – Dei de ombros. – Já sei. Dor de barriga, toda menina tem vergonha disso. – Dei uma olhadela rápida e a vi virar o rosto de novo pra janela. – Acertei, né?
- Acertou, Rafa. – Suspirou. – Acertou.
- Não precisa ter vergonha de mim. – Estacionei no CT e ela parecia querer fugir do carro àquela altura. Provavelmente de vergonha. – Ei. – Segurei seu pulso e ela me olhou finalmente. – Se você se sentir mal, quiser ir embora, qualquer coisa, me liga que eu te levo, tá bom? – Ela devia estar mal de verdade, porque seus olhos encheram de lágrimas enquanto ela assentia com a cabeça e passava a mão livre, que eu não estava segurando, no meu rosto. Fazendo um carinho fraco, como se estivesse me memorizando. Depois disso ela se soltou da minha mão e saiu, quase correndo. Mesmo atrasado, ainda demorei alguns minutos pra voltar à mim e sair também.
No dia seguinte não a vi, ela disse que ainda estava se sentindo mal e por isso não iria à faculdade. Devia estar muito mal mesmo, já que ela não perderia as provas por nada. Na quarta-feira, eu estava muito preocupado, porque ela tinha parado de responder minhas mensagens e eu não fazia idéia se ela estava bem ou não, embora ela estivesse visualizando. Na verdade, ela só havia respondido uma, a que eu perguntei se podia passar pra vê-la no final do dia e ela negou veementemente. Caramba, parecia até que estava com alguma coisa contagiosa. Falei mais umas duzentas vezes que não precisava ter vergonha de mim por causa de uma dor de barriga, mas ela não me respondeu mais. Na quinta-feira eu já estava puto e fui atrás da Lúcia, para saber se ela tinha notícias de Isadora. Eu só não contava que fosse encontrar a própria.
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Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]
Teen FictionISADORA "Dentre tantas mulheres no mundo, meu pai tinha que escolher ficar justo com a mãe do garoto mais insuportável da face da Terra. Como uma mulher tão legal quanto a Cíntia, havia gerado um ser assim irritante? O Rafael me tirava do sério, me...