Estava tendo um pouco de dificuldade para assimilar tanta informação. Foi difícil fingir que estava compartilhando da alegria de estarmos jantando todos juntos, embora eu duvidasse que o Rafael estivesse contente sobre isso também. Havíamos chegado em um acordo mudo de nos ignorarmos mutuamente. Quer dizer, eu já estava fazendo isso, mas após eu elucidar o fato de que ele estava desrespeitando a Pati, ele passou a me ignorar também. E eu estava contente com isso. Minha cabeça estava cheia, entre tentar esquecer o Ricardo e estudar para as provas, então a última coisa que eu precisava era de um babaca me provocando. Porém, depois daquela hora da saída conturbada que eu havia tido, estava ainda mais complicado manter uma feição neutra, sem demonstrar que eu estava longe dali, com vontade de me jogar na cama e chorar até secar. Enquanto a gente estava jantando, recebi uma mensagem de um número desconhecido no Whatsapp, mas ao abrir, constatei que era o Fabinho.
Fabinho: Oi, Isadora. Espero que não se importe por eu estar te mandando mensagem, mas eu queria saber se está tudo bem com você.
Isa: Oi... tudo bem sim. Ainda estou remoendo os acontecimentos, mas graças a você a situação não ficou pior. Nem sei mais como te agradecer.
Fabinho: Fala sério, não precisa agradecer. Qualquer cara decente teria feito o mesmo.
Isa: Talvez. De qualquer forma, quem agiu foi você. Como você sabe meu número? Desculpa perguntar assim, mas fiquei curiosa.
Fabinho: Eu sou da comissão organizadora da formatura, lembra?
Isa: Ah, verdade. Desculpe : )
Fabinho: Que isso... bom, se precisar conversar, estou aqui.
Isa: Obrigada, bjs.
Fabinho: ;*
E então ao final do jantar, recebemos aquela notícia m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a de que viajaríamos juntos. Ou seja, o Rafael e eu no mesmo avião, no mesmo hotel, mesmos lugares durante sei lá quantos dias. Era demais para minha cabeça. Tentamos argumentar, fazer com que mudassem de idéia, mas não deu. Só não era pior, porque eu tinha muita vontade de conhecer a Europa, mas fala sério, precisava ser com ele? Justo com ELE? Eu disse que era karma. Enquanto o Gui ainda comemorava e nós dois sofríamos antecipadamente, meu telefone apitou com mais uma mensagem e eu pensei que fosse o Fabinho de novo, ou alguma das meninas. Mas era o Ricardo. Antes de abrir a mensagem eu já sentia um frio descer pela minha espinha e de repente, nem pensava mais na viagem, no Rafael ou em qualquer outra coisa que não fosse aquele encosto de garoto que eu me arrependia de ter gostado até o meu último fio de cabelo. E como esperado, ele simplesmente escreveu tudo aquilo que já havia verbalizado na porta da escola e um pouco mais. Senti um nó se formando na garganta, queimando do choro que eu estava tentando segurar. Levantei, disfarçando, para ir ao banheiro, enquanto eles falavam sobre pedir a conta para irmos embora. Caí em um choro silencioso para que ninguém escutasse, caso a Cíntia resolvesse vir ao banheiro também, por exemplo. Não pretendia chorar, mas sim, lavar o rosto e segurar até que estivesse na segurança do meu quarto, livre de perguntas. Claro que eu não ia contar para o meu pai que tinha um cara me difamando e humilhando. Respirei fundo e comecei a jogar água nos olhos, apertando como se fosse possível disfarçar assim. Meu pai não era muito atento para essas coisas, então era só não manter contato visual que daria tudo certo. Talvez eu desse a sorte de demorar tanto que a Cíntia e o Rafael já tivessem ido embora, porque ela parecia ter a sensibilidade para notar essas coisas. Suspirei estarrecida quando ouvi meu nome e era o Rafael quem estava chamando. Eles não tinham ido embora ainda. E por que logo ele tinha vindo me procurar? O que eu fiz para merecer isso? Peguei algumas folhas de papel para enxugar o meu rosto e saí, tentando não encará-lo. Mas ele foi mais rápido. Me segurou pelo pulso e me fez olhar para ele. O banheiro era afastado e tinha um corredor, vazio no momento, então ninguém podia nos ver, muito menos meu pai ou a Cíntia.
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Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]
Teen FictionISADORA "Dentre tantas mulheres no mundo, meu pai tinha que escolher ficar justo com a mãe do garoto mais insuportável da face da Terra. Como uma mulher tão legal quanto a Cíntia, havia gerado um ser assim irritante? O Rafael me tirava do sério, me...