Naquela manhã as crianças acordaram muito mais cedo que de costume, as 5:40 da manhã já se vestiam para ir à escola. Ao contrário do silêncio de todas as manhãs, encontraram o que para elas era muito barulho, crianças chorando, mães gritando, cachorros latindo, portas batendo, buzinas e até um galo, tudo ao mesmo tempo, enquanto tomavam café com bolachas água e sal.
- Crianças vamos nos apressar para não perdermos o ônibus.
- Vamos de ônibus, mamãe?- perguntou Ana.
Helena acariciou os cabelos da filha e confirmou, lembrando-se que sempre iam para a escola com o motorista da empresa do pai.
Quando saíram do barraco, puderam observar melhor o bairro e mesmo as pessoas que, pelas ruas de terra esburacadas transitavam, os cachorros magros corriam atrás de galinhas, gatos e ratos, o esgoto corria a céu aberto deixando um cheiro forte.
O ponto de ônibus estava cheio, mulheres e crianças pequenas eram a maioria e conversavam animadas.
- Bom dia Carmô sumida.- cumprimentou uma senhora.
- Bom dia Vanda, essa é Helena.
Helena cumprimentou a senhora. O ônibus chegou e foi um empurra empurra para entrar, Carmosina foi na frente abrindo caminho com cotoveladas.
- Vixe povo lerdo sai da frente.- ia resmungando ela, Ana e Guilherme se seguravam com dificuldade nos bancos e Helena tentava evitar que caissem.
Foram todo o trajeto de vinte minutos em pé e para eles que não estavam acostumados foi uma viagem longa.
- Mãe esqueceu nosso lanche.- falou Guilherme.
- Espere si que vou correndo na padaria e pego alguma coisa.- Helena ia dizer para Carmosina que não era preciso mas a mulher já estava entrando na padaria.
Chegaram em cima da hora na escola, as crianças já haviam entrado e os filhos de Helena correram para juntar-se a elas.
- Helena?- chamou uma mulher.- Helena querida, por onde você andou?
Helena lembrou-se dela, era Sofia mulher de um cliente de Luis Guilherme.
- Precisamos marcar algo juntas, vou falar com o Felipe para ele combinar com o Luis...
- Eu me separei do Luis.- intrrompeu-a Helena disposta a não manter as aparências.- Saí de casa.
- Eu tenho certeza que é uma crise, vai passar e...
- Não é uma crise e não passará e, agora eu preciso me apressar pra voltar pra favela.
A mulher arregalou os ao ouvir a palavra favela.
Carmosina riu da situação.
- Aonde iremos agora?
- Vamos bater perna, olhar vitrine e depois a gente vê.
- Você não vai trabalhar?
- Oxe que na correria nem lhe contei, seu Luis Guilherme me mandou embora. Falou preu esperar o contador fazer minhas contas. Quer saber? Achei foi bom, aquela casa ia ficar ruim demais sem a senhora.
Helena abraçou a amiga.
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Engole o choro, guerreira.
RomanceHelena acreditava viver um perfeito conto de fadas com direito a vestido branco, véu, grinalda e um príncipe que professava seu amor publicamente como um mantra sagrado. Mas, e na vida sempre há um "mas", a meia noite adentrou seu castelo de sonhos...