Esperança

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- Minha querida, o que aconteceu?- perguntou Cecilia quando chegou na quarta-feira de manhã e viu o olho roxo da jovem.

Helena chorou desesperadamente e foi amparada pela mulher.

- Ele é um monstro, me bateu por nada, me xingou de vadia...- falava entre soluços.

- Minha pequena os homens são assim mesmo, por isso cabe a nós mulheres não darmos motivos.

- Painho nunca bateu em mainha, nunca levantou um dedo para ela. Era chucro mas nunca bateu.

- Mas seu marido acabou de perder a mãe. Você pode imaginar o tamanho dessa dor? E ele não pode sequer chorar essa perda porque na nossa sociedade homem não chora. Ah minha querida homens são como crianças, quando se irritam quebram o  brinquedo que mais gostam.

- Por que ele não fala comigo? Por que não desabafa? Ao invés disso me agride e passa noites fora de casa.

- Porque os homens são assim mesmo. Agora venha, vou mostrar alguns truques para esconder essas marcas.

No quarto, Cecilia encontrou uma blusinha de mangas três quartos que escondia o hematoma do braço e para a face ensinou uma maquiagem que cobria as marcas.

- E se tiver que sair de casa pode usar óculos escuros.- completou a mulher.- Helena minha cara, você  vai conhecer muitas mulheres  que também tem desentendimentos com seus maridos, mas são determinadas a preservar a família. Não foi isso que o sacerdote disse : até que a morte os separe? Pois bem, você deve obedecer ao seu marido está na bíblia, você é cristã.Com o tempo ele voltará a ser o homem por quem se apaixonou.

Helena acreditou nas palavras de Cecilia, até por que estava na bíblia, e sorriu conformada.

- E agora vamos tirar as roupas inadequadas de seu closet. Aliás, podemos até mesmo fazer um desfile, o que acha?

Helena achou a ideia divertida, brincava de desfile com as irmãs quando era criança.

...

- É sério isso, Cecilia?- Patrícia parecia não acredita no que  mulher lhe contava ao telefone.- Então o Luis bate nela?

- Me deu pena ao ver  as marcas, quase a incentivei  a pedir o divórcio.

-Não faça isso, pelo menos não por enquanto. Estamos em transações importantes com velhos conservadores e um divórcio não seria bem visto. Mas me mantenha atualizada. 

A mulher desligou o telefone sorrindo, por isso Luis Guilherme a procurara na noite anterior.

...

Helena  marcou uma consulta e acompanhada por Cecilia, descobriu que estava grávida, abraçou a amiga e chorou num misto de alegria e medo por não saber a reação do marido. Com a ajuda de Cecilia preparou o  jantar,  pôs a mesa elegantemente e preparou uma surpresa no final.

Luis Guilherme comia em silêncio embora, vez ou outra olhasse para a esposa notando como ela se portava bem a mesa e que já demonstrava desenvoltura com os talheres e taças.

- Vou buscar a sobremesa.- avisou ela, recebendo apenas um olhar de desinteresse do marido.

Trouxe uma torta de maçã e um pote de sorvete.

- Enquanto corto a torta, você poderia por favor abrir o pote de sorvete?- pediu ela.

O marido concordou, sem muito entusiasmo abriu o pote e notou que ao invés de sorvete havia um embrulho de presente.

- O que é isso? - perguntou impaciente.

- Um presente para você, espero que goste.- Helena saiu rapidamente, indo buscar o sorvete de verdade.

Luis Guilherme abriu o pacote e encontrou um par de sapatinhos  de croche, por um minuto ficou em silêncio, esperando a ficha cair e quando entendeu do que se tratava...


Engole o choro, guerreira.Onde histórias criam vida. Descubra agora