| Epílogo |

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Anos depois...

Thaina Santos Miller

Hoje é o primeiro dia de férias, e todas as crianças estão aqui, já que os pais ainda trabalham, apenas eu estou de férias por ser professora. Estou cuidando delas sozinha, já que Henry está viajando á trabalho. Quando estou na cozinha fazendo uma torta, ouço várias vozes ao redor do meu corpo, e em poucos segundos se tornam berros, me deixando cada vez mais confusa e irritada.

- Mamãe! A Calliope me bateu!

- Mentira dela, mãe! Para de mentir, Kayla!

- Madrinha, onde tá minha escova?

- Mãe! Você viu a escova da Paloma? E a minha saia?

- Tia, pode chamar o Inácio pra vir jogar bola comigo?

Eu vou acabar enlouquecendo, sério! E ainda nem começaram as férias direito.

- Chega!

Gritei assustando todos eles. Kayla e Calliope são minhas filhas gêmeas, mas quem olha, nem parecem que são irmãs. Kayla puxou totalmente ao Henry, branca dos cabelos lisos e claros e Calliope é morena dos cabelos enrolados e escuros. Elas têm sete anos. Renato tem oito anos e puxou totalmente a aparência do pai, mas o jeito abusado e doido, puxou da mãe. Beatrice tem quinze anos e mês passado foi a sua festa, tudo perfeito, nas cores favoritas dela, verde e branco. Paloma tem quatorze anos ainda, mas amanhã ela embarca para Orlando e Las Vegas, curtir seu aniversário com seus pais. Olho para cada um deles, coloco minha mão na cintura e minhas três filhas engolem a seco, pois sabem que isso significa que eu estou estressada. E muito!

- Gêmeas, parem de brigar e vão tomar um banho, agora. Estão sujas de brincar na rua! E depois nós iremos conversar sobre esse assunto.

Elas assentem e sobem as escadas com as cabeças baixas. Mas, ainda consigo ouvir um murmúrio de Calliope, dizendo "eu avisei pra não fazer queixa pra mamãe. Ela brava". Esqueço isso por enquanto e foco nas duas adolescentes e garotinho na minha frente.

- Paloma e Beatrice, eu não faço ideia de onde está a tal escova e a saia. Procurem direito no quarto e no banheiro. Beatrice, procura também no quarto de suas irmãs.

Paloma sorriu, Bea assentiu e elas foram atrás da tal escova e da saia. Olhei para Renato e sorri, me sentindo muito mais calma.

- Vou ligar pro Nicolas pra ele trazer o Inácio.

- Tá bom tia! Obrigada!

Nicolas e Pedro adotaram uma criança. Inácio foi encontrado numa caçamba de lixo, ainda recém nascido, por eles e os mesmos resolveram adotar o pobre menino. Ele hoje tem sete anos e é o melhor amigo de Renato.

Volto a cozinhar, concentrada em rechear a torta e cantarolar uma música qualquer, até que sinto duas crianças me abraçando. Olho para baixo e encontro minhas filhas sorrindo pra mim, vestidas igualmente, de camisa branca, macacão rosa e chinelos brancos.

- O que aconteceu entre vocês, hein?

Elas começaram a falar juntas, me deixando confusa. Levantei minha mão e elas pararam de falar.

- Sentem ali, vamos conversar.

Elas se sentaram e eu me sentei na frente delas, olhando para um par de olhos verdes e um par de olhos castanhos claros.

- Calli, por que você bateu na sua irmã?

- Porque ela tava falando mal do meu cabelo - falou cruzando seus pequenos braços, mandando um olhar feio para irmã, que se se encolhia cada vez mais na cadeira. Olhei para Kayla e ela me encarava com remorso.

- O que você tem a me dizer, Kayla?

Ela suspirou, olhou para sua irmã e para mim.

- Eu não quis dizer isso. Eu falei que a Barbie parece mais comigo do que com a Calli, porque nossos cabelos são lisos mamãe. Mas eu sei que tem Barbie de cabelo cacheado também. Mas a Calli não deixou eu falar isso e me bateu. E eu vim falar com a senhora.

Suspirei e estiquei minhas mãos por cima da mesa, pegando a mão de cada uma.

- Kayla, você não pode falar essas coisas. Você não é igual a Barbie, você não é igual a ninguém. Todo mundo tem a sua beleza, seja por dentro ou por fora. Vocês são diferentes por fora, mas por dentro são amorosas e minhas filhas, igualmente. Nunca mais se compare com ninguém.

Ela sorriu e assentiu concordando. Olhei para Calliope, que ainda mantinha a cara feia, mostrando sua teimosia.

- Calli, eu já não falei contigo sobre bater nas pessoas? Você tem que parar com isso. Espera a pessoa acabar de falar, para você falar. Se a pessoa continuar te xingando, não bata nela. Discutir, eu até relevo, porque a Bea faz a mesma coisa - nós três rimos, pois sabemos que ela não tem papas na língua quando o assunto é racismo - Então, por favor, não bate em mais ninguém e, se alguém te bater, você fala comigo primeiro.

Ela sorriu também e se levantou para me abraçar. Kayla fez a mesma coisa e me abraçou também.

- Me sentindo órfã nesse momento.

Nos viramos e vimos Beatrice arrumada. Como amanhã Paloma irá viajar, hoje terá uma festa na casa de Marina. Mas, apenas para adolescentes. Bea está com uma blusa de mangas preta justa e saia branca rodada, usando um salto preto. Seus cachos estão muito bem modelados, e sua maquiagem espetacular, exceto pelo batom borrado.

- Que linda, Bechata!

- Quando eu crescer, quero ser que nem você, Bechata!

- Obrigada, pentelhas! Eu irei ensinar tudo a vocês.

Reviro meus olhos por conta dos apelidos e levanto da cadeira, indo ajeitar a maquiagem borrada dela.

- Que foi mãe?

- Vim arrumar seu batom. Tá borrado.

- Obrigada.

Quando acabei de arrumar, recebi um abraço dela, e das gêmeas, me sentindo realizada.

Nunca que eu imaginaria que estaria aqui hoje, com um marido maravilhoso, filhas exemplares, uma família linda. E que a sociedade achou e julgou que eu nunca teria a felicidade.

Eu sou muito feliz e continuarei sendo feliz.

Felicidade Não Tem CorOnde histórias criam vida. Descubra agora