Especial de Natal

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Beatrice Miller


Onde eu estou?

Que batidas são essas na porta ?

Querem derrubar a porta ou a casa toda?

Meu Deus do céu, que som infernal!

- Bea! Acorda!

Ah, lembrei onde eu estou.

A pior coisa que eu fiz: vir direto da festa da faculdade pra casa dos meus pais, pois hoje é véspera de Natal.

Agora estou com uma ressaca dos infernos, mas não me lembro de ter bebido tanto.

- Já vou, mãe!

Abro meus olhos e me arrependo amargamente.

Esqueci as cortinas abertas e o sol está escaldante.

Me levanto e vou para o banheiro que tem instalado dentro do meu quarto. Abro o registro no mais congelante possível. Tiro minhas roupas e entro de cabeça no fluxo d'água.

Minha pele se arrepia e eu dou um gritinho por conta do frio. Minha dor de cabeça e ânsia de vômito passam instantaneamente. Me assusto com uma batida na porta.

- Filha, você ta bem?

- To pai, por quê?

- Você gritou.

- Ah, é que a água ta fria.

- Depois nós vamos conversar, mocinha. Não pense que eu não ouvi você chegar tarde da noite e rindo sozinha, porque eu ouvi!

Merda.

- Tá pai.

Termino logo meu banho, apesar de estar com medo do que meu pai poderá fazer.

Não, ele nunca me bateu e não será agora que fará isso. Meu medo é ele parar de me ajudar a pagar o aluguel do apartamento. Meu salário não é o suficiente e Paloma é uma vagabunda, que não quer saber de nada, a não ser o seu namoradinho que não vale nada.

É corna, ele já deu em cima de mim na frente dela, mas pra ela, isso é gentileza.

Aham, otária.

Já cansei de avisar que isso não é bom pra ela e, caso tia Marina e tio Théo descubram isso, ela vai voltar pra casa deles. Mas ela não me dá ouvidos. Só quer saber desse traste e de vagabundiar.

Nem lavar uma louça, ela lava!

Só fica naquele quarto com ele, aos berros.

Daqui a pouco eu mesma falo tudo e não to nem ai.

Nossa amizade, depois que começamos a morar juntas, só foi de mau a pior.

Mas, não irei falar disso agora.

Visto uma roupa minha que tem aqui, já que minha mãe insiste em deixar aqui algumas mudas, porque sempre esqueço de trazer da minha casa. Penteio meus cabelos, passo perfume e desodorante e vou até a cozinha. Encontro minhas irmãs sentadas na mesa brincando de Uno e minha mãe no fogão. Me encosto no batente e as meninas finalmente me vêem e gritam, correndo para pular em meu colo.

- Bea!

Me agacho no chão e sinto que fiz merda.

Elas pulam em cima de mim juntas, fazendo nós três cair no chão, as gargalhadas.

- Vocês estão rindo porque não estão com as costas no chão! Levantem logo!

- Não!

- Anda logo, suas pentelhas.

Felicidade Não Tem CorOnde histórias criam vida. Descubra agora