Dormi tão tarde na noite anterior que meus olhos mal abriam de manhã. Fui de olhos fechados para o banheiro e tomei banho ainda cochilando em pé. Meus pais estavam sentados a mesa tomando seu café da manhã caprichado quando eu ia passando pela sala com minha mochila gorda...
– Ei, rapazinho! Não vai comer?
– Estou sem fome, mãe.
– Todo dia você fala isso. Não sei como consegue estudar com esse estômago vazio.
– Senta aqui e come alguma coisa. – disse meu pai puxando a cadeira.
– Pai, estou muito atrasado...
– Marcos!
– Vou pegar essa maça aí e juro que vou comendo no caminho, mas agora preciso ir, ok? – dei um beijo na careca dele e um beijo em minha mãe. – Até mais tarde.
– Tchau filho. – disse minha mãe quando eu já estava passando pela porta.
Saí do prédio e avistei Fernando parado no ponto de ônibus do outro lado da rua. Ele me olhou e fez uma cara de reprovação. Bateu o dedo indicador em seu relógio e abriu os braços daquele jeito carioca marrento que ele sabia muito bem como fazer.
– Bora moleque. – gritou ele. – Lá vem o ônibus.
Atravessei a rua antes de o sinal fechar. Cheguei no ponto junto com o ônibus e antes que eu pudesse começar a justificar meu atraso, Fernando segurou a alça da minha mochila e foi me empurrando de leve pra dentro do ônibus.
Eu nem tinha me atrasado tanto, e mesmo quando me atrasava um pouco mais nós nunca chegávamos no meio da aula, na verdade o máximo que acontecia era chegar lá exatamente na hora que os alunos estavam entrando no colégio, mas Fernando dava muito valor às conversas na praça antes das aulas, era quase um ritual sagrado e ultimamente eu o fazia perder esse ritual pelo menos umas três vezes por semana.
O ônibus estava cheio, a maioria alunos, e tivemos que ficar em pé mesmo. A curta viagem era sempre uma zona, pois eram muitos alunos conversando ao mesmo tempo e alguns deles ainda tentavam se comunicar a distancia dentro do ônibus.
– Hoje você vai passar a manhã toda com o aluno novo? – perguntou Fernando fazendo uma careta maliciosa.
– Claro que não... Quer dizer, não sei. Pretendo falar com ele e se ele quiser se sentar perto de mim de novo, por mim tá ótimo.
– Então ta, a pergunta que não quer calar. Ele é gay?
– Ele é tão gay quanto você – eu disse. –, ou seja, nada.
– Ah, então o cara é muito macho mesmo. – disse ele rindo.
– Perguntei por que as meninas estavam doidas pra conhecê-lo. – Fernando revirou os olhos. – Nada melhor do que ser novato. As meninas sempre os acham mais bonitos.
– Talvez seja porque elas já estão enjoadas dos veteranos e quando um rostinho novo aparece... Ah, e ele é muito gato. Admita.
– Nem tanto.
– Admita! Você tem que reconhecer que o cara é um deus grego.
– Eu também sou.
– Bem modesto você, hein. – comecei a rir.
– Vai dizer que eu não sou um poço de sex appeal? – disse ele estreitando os olhos e fazendo biquinho. – Sou um garoto presença. Vamos lá, admita.
– Ta bom Fernando, você é bonitinho também.
– Bonitinho? Pô, cara, bonitinho é feio arrumadinho. Acabou comigo agora. E eu aqui achando que você me classificava como um cara bonitão. Pooooxaaa...
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O Amigo
Romance[EM REVISÃO] O romance O Amigo conta a história de Marcos e Christiano, que se conhecem na escola durante o ensino médio. Christiano é hétero, mas logo se vê atraído por Marcos e até tenta fugir, mas o desejo fala mais alto e os dois logo se envolve...