O Amigo

Capítulo 48

– Achei que você não viesse. – disse ele saindo da varanda. – Agora a gente já pode conversar. – eu disse.

Passei por ele e fui para a varanda. Me encostei na sacada e o vento me fez estreitar os olhos. Christiano voltou a entrar na varanda e fechou a porta dela atrás de si, para então se encostar nela e ficar de frente para mim.

– Marcos...
– Porque você vai morar lá? – perguntei.
– Meus pais aceitaram uma proposta de trabalho de lá.
– Porque não me contou antes?
– Eu fiquei sabendo disso no dia da viagem que fiz para encontrá-los. Eles me contaram assim que eu cheguei lá. Eu fiquei muito puto, porque eles nem sequer me consultaram pra saber se eu concordava com isso. Eles resolveram a minha vida sem me consultar.

– Você pode pedir pra ficar. Deve ter algum jeito.
– Meu pai quer que eu vá obrigatoriamente. Eu já estou pré-matriculado em uma escola que ele diz ser muito boa, com ensino integral e essas merdas todas.
– Eu não acredito que isso está acontecendo comigo... – balancei a cabeça e olhei para o lado. – Você deveria ter me contado antes, Christiano. Eu fiquei aqui igual um idiota achando que teríamos um ano maravilhoso juntos.
– Eu não sabia como te contar. Não sabia como você ia reagir e só quis aproveitar e te fazer feliz enquanto podia. Eu não queria que você ficasse preocupado durante a semana.
– Ah sim. E você me avisa no dia que está indo embora? Não acha que isso é muito pior pra mim?
– Eu não vou embora hoje. – ele sorriu e uma lágrima contornou sua bochecha.
– Não fala isso como se fosse bom.
– Mas é bom. – ele se aproximou mais e passou o dedão em meu rosto.
– São só mais dias tristes, que eu vou chorar pensando na sua partida. – respirei fundo. – Eu achei que fosse passar a minha vida com você.
– A gente pode se falar sempre e eu também posso vir te visitar.
– Me visitar? – franzia a testa e olhei em seus olhos. – Uma vez por ano? Não dá, Christiano. Eu mal aguento passar dois dias longe de você, eu sinto como se uma parte de mim tivesse sido arrancada. Como vou aguentar te ver só uma vez por ano? E vamos nos falar quando? Eu sei como são essas escolas. Você não vai ter tempo disponível pra ficar de papo comigo e o máximo que vamos fazer é trocar mensagens. Nem ouvir a sua voz eu vou poder. Como você quer que eu sobreviva a isso?
– Eu sabia que você ia falar isso... E eu concordo.
– Vai ser pior pra nós dois, nós vamos sofrer o ano inteiro. E eu não vou aguentar ver nosso relacionamento esfriar, não quero ver a gente se distanciar e muito menos saber que você está conhecendo pessoas novas e que as chances de se envolver com alguém são grandes.
– Eu não vou me envolver com outra pessoa.
– Você não pode falar isso.
– Então você quer terminar tudo? – vi seus olhos se encherem novamente e meu coração foi partido ao meio.
– Não! Não use essa palavra. Eu jamais terminaria com você. Nunca. – eu disse segurando suas mãos.
– Me desculpa ter feito você perder todo esse tempo comigo.
– Eu não perdi o meu tempo com você. Você me proporcionou coisas incríveis e eu não me arrependo nem um pouco.
– Marcos, a gente pode tentar ficar juntos...
– Para Christiano. – fechei os olhos. – Eu não vou aguentar saber que você estará conhecendo novas pessoas e que vai acabar se envolvendo com alguém.
– Eu não vou me envolver com ninguém. – disse ele mostrando irritação. – Eu não quero ninguém além de você.

Christiano me abraçou e ficamos ali como sempre fazíamos, mas dessa vez estávamos tristes e com um choro preso dentro do peito pronto para explodir.
No fim, acabamos nos entendendo e decidindo que não havia o que fazer. Se ele tinha mesmo que ir embora e não podia ficar no Rio de Janeiro, não havia outra saída a não ser terminar o que tínhamos. Eu não queria ficar longe dele e ver nosso namoro esfriar, pois sabia que isso seria muito mais doloroso. Nós não manteríamos contato. Nenhuma mensagem, email ou carta...
Decidimos também, que iríamos tentar aproveitar os últimos dias com muita intensidade e sem nos assombrar com pensamentos sobre a despedida.