Capítulo 10

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– ... – não consegui responder tão rápido quanto imaginei que podia. Era uma pergunta boba, tão boba que era quase óbvia, mas mesmo assim me fez engolir seco.
– Marcos? – perguntou ele como se eu estivesse em outro mundo.
– Sim. Sou gay. – respondi desviando os olhos disfarçadamente.
– Eu já sabia, mas queria confirmar e nada mais honesto do que perguntar para você mesmo... Fique sabendo que quanto a isso eu não tenho problema algum, ok?
– Obrigado. – sorri, me sentindo extremamente aliviado.
– E já que você me contou isso, que tal me contar sobre sua paixão?
– Minha paixão?
– Sim. Quando eu perguntei se você já tinha se apaixonado você respondeu um 'infelizmente sim' e isso me diz que há uma decepção aí que talvez você não tenha contado pra alguém, mas que no fundo sempre desejou ter alguém confiável para desabafar. E como você já se assumiu pra mim, imagino que seja mais fácil falar sobre isso agora. Não é?
– Primeiramente queria deixar claro que você é quase um bruxo. Você consegue ler meus pensamentos as vezes e isso me assusta. – eu disse sorrindo sinceramente.
– Tenho os meus dons secretos. – ele soltou uma gargalhada abafada. – Vamos lá, sou todo "ouvido".
– Eu já me apaixonei sim e digo infelizmente por que nenhuma das vezes me fez bem, principalmente a última. – comecei a falar. Enquanto olhava para o mar, consegui ver em minha visão periférica, que Christiano se virara de frente pra mim e me olhava com atenção. – Ano passado eu arranjei um emprego em uma empresa lá no centro como jovem aprendiz e conheci um cara chamado André. Não sei por que, mas desde o primeiro dia que entrei lá ele me chamou atenção. Ele não era o cara mais bonito do mundo e até hoje eu não sei o porquê de meus olhos terem se rendido a ele... Pouco tempo depois nós nos aproximamos, quando percebi eu já estava conversando com ele e virando seu colega. Ele me contou um pouco sobre sua vida e eu simplesmente me encantei pela sua história. Ele era um cara bom, batalhador desde novo e muito determinado, isso me encantou tanto que eu amava ouvi-lo contar suas histórias pra mim... Um belo dia, na véspera de um feriado, ele me entregou um bilhete no final do expediente me desejando um ótimo feriadão e que tinha gostado muito de me conhecer e que eu era uma das pessoas mais interessantes e inteligentes que ele conhecia. Eu li aquilo e me senti muito especial, me senti maravilhoso.

Parei de falar tentando encontrar uma maneira de continuar.

– Pode continuar. – disse Christiano.
– E então eu também lhe escrevi um bilhete agradecendo e dizendo que também tinha gostado muito de conhecê-lo. Depois disso, nós começamos a conversar mais e quando não tínhamos tempo, nós trocávamos bilhetes. Não tinha nada demais, não passava de bilhetinho bobo falando sobre amizade e o quanto um gostava do outro. Nisso, eu burro do jeito que sou me apaixonei pelo jeito que ele me tratava, pelo jeito que ele falava, pelo jeito como se preocupava comigo e mais ainda pelas coisas que ele me falava.
– O que ele falava?
– Ele dizia que gostava muito de mim e que eu era um dos melhores amigos dele e o único ali na empresa, que ele estaria sempre do meu lado e que jamais me decepcionaria... Esse tipo de coisa... O tempo passou e eu comecei a achar que ele estava gostando de mim também, pois ele me tratava muito bem e falava muitas coisas que um hétero como ele não falaria para outro cara, por mais que fossem amigos. Ele me entregou um bilhete com várias perguntas simples na intenção de me conhecer mais, pois ele dizia que eu era muito fechado. Respondi as perguntas normalmente e também fiz algumas, entre elas eu perguntei se ele já tinha se apaixonado alguma vez... E ele me respondeu logo em seguida, com outro bilhete. Ele disse que já tinha se apaixonado quando mais novo, mas que no momento estava se apaixonando mais umas vez, só não quis dizer por quem. – senti meus olhos começarem a encher de lágrimas, mas os contive. – E quando eu li aquilo eu me senti tão bem, sabe? Imaginei que fosse por mim. Por quem mais seria? Ele me tratava muito bem, dizia muitas coisas para mim e depois falava que estava se apaixonando por alguém, mas que não iria falar quem era... Eu tinha a quase certeza de que ele estava se apaixonando por mim e queria ter a certeza absoluta. Perguntei pra ele pessoalmente e ele disse que só falaria se eu dissesse por quem eu estava apaixonado no momento, mas por medo eu não disse nada e ele também não. Isso acabou reforçando a ideia de que ele estava afim de mim e minha alegria só aumentava ao imaginar que eu poderia estar sendo correspondido pela primeira vez na vida... Estou falando demais, não é?
– Não se preocupe com isso. Continue a história. – disse Christiano.
– Dias se passaram e a gente continuava naquela sintonia boa. Trocávamos olhares e sorrisos ao longo do dia, conversávamos quando podíamos e trocávamos bilhetes quando dava. Mais uma vez ele me fez algumas perguntas por bilhete e dessa vez queria que eu lhe contasse algo que ninguém sabia sobre mim e eu contei algo que poucos sabiam, mas não era nada demais. Ele não ficou satisfeito e disse que achava que eu ainda tinha algo pra contar e então eu me assumi pra ele, contei que eu sou gay. Ele disse que não se importava com isso, que só queria que eu confiasse nele pra contar sobre qualquer coisa e num outro bilhete perguntou o porquê de ele ser especial pra mim, o que eu sentia quando estava perto dele e se eu 'pegaria ele'.
– Eita. – disse Christiano surpreso. – Eu ainda não consigo imaginar um desfecho ruim pra isso. Parece que tudo foi tão bem, cara.
– É, até o momento estava ótimo. Ele me pediu pra não ser tão fechado e pra responder com toda a sinceridade do mundo. Prometi a ele que escreveria a carta mais sincera da minha vida e entregaria no dia seguinte. E foi aí que eu realmente escrevi a carta mais sincera da minha vida, me abri completamente, vomitei em forma de palavras tudo o que sentia por ele. Eu literalmente me declarei apaixonado por ele... Ele me respondeu dizendo que sentia o mesmo por mim.
– Mas cara – Christiano me olhou confuso. –, você tá me contando a história certa? O cara estava apaixonado por você...
– Você vai entender depois... Então ele disse que sentia o mesmo por mim e naquele dia eu me senti tão bem como se não existissem problemas na vida. Chorei de felicidade quando cheguei em casa, literalmente chorei de felicidade por estar sendo correspondido pelo cara que eu estava perdidamente apaixonado. Conversa vai e conversa vem, ele demonstrou mais interesse por mim e nós acabamos ficando.
– Vocês se beijaram. É isso?
– Não necessariamente. Eu desejei muito que isso acontecesse, mas... O tempo disponível era curto demais e a gente se encontrava no banheiro. A gente...
– Vocês transaram no banheiro?
– Não. – olhei para meus pés cobertos de areia tentando encontrar um jeito de falar.
– Sexo oral? – Christiano murmurou e eu balancei a cabeça positivamente. Ele pôs uma de suas mãos em meu ombro e apertou de leve. – Não precisa ficar com vergonha. Continue a história.
– Foi isso. Eu fiz sexo oral nele, mas nunca finalizávamos por causa do trabalho. Ficamos nessa durante uns quatro ou cinco dias e estava tudo muito bom pra mim. Eu estava tendo o cara por quem estava apaixonado, mesmo sendo naquela situação onde nenhum beijo rolava por falta de tempo. Ele não queria gastar o pouco tempo que tínhamos com beijo, ele dizia que queria aproveitar com o que era melhor pra nós e eu não me importei, estava tão cego de paixão que pra mim estava tudo muito bom e maravilhoso. No fim, nós finalmente conseguimos finalizar...
– Finalizar...?
– Conseguimos ficar por mais tempo e ele gozou. – eu disse quase que vomitando as palavras e então percebi que minhas lágrimas já estavam pelo queixo. – Depois disso ele mudou. Nunca mais quis me encontrar no banheiro, nunca mais me mandou bilhete e só conversava comigo quando eu ia atrás. Um dia eu fui conversar com ele sobre isso e ele disse que não sentia nada por mim e que não podia fazer nada se eu havia me iludido. Disse que ele só queria curtir e nada mais, porque ele tinha namorada e o que fez comigo não tinha passado de uma curiosidade. E foi isso...
– Marcos – quase sussurrou Christiano. – ele foi cruel. Meu deus, como alguém consegue brincar com os sentimentos de outra pessoa dessa maneira? Cara, eu não sei como você aguentou um tranco desses.
– Tive que aguentar. Chorei muito naquela época, ainda mais porque eu tinha que vê-lo todo dia e por mais filho da puta de que ele tivesse sido eu ainda gostava dele... Depois eu saí da empresa e não tive mais contato nenhum com ele.
– E você nunca contou isso pra ninguém?
– Não desse jeito. Cheguei a comentar com uma amiga, mas só comentei. Não entrei em detalhes. Não quis reviver isso e tentei esquecer de vez, mas as vezes ainda me pego pensando nisso. – eu disse enxugando as lágrimas que restavam sem me importar com os olhos atentos de Christiano me filmando. – E eu prometi que não me apaixonaria nunca mais, mas...
– Mas...?
– Mas eu sei que a gente não pode controlar isso e então eu deixei a promessa para não expressar meus sentimentos por mais ninguém. Não gosto da vulnerabilidade de quando nos declaramos apaixonados, não gosto de como ficamos idiotas quando estamos apaixonados...

Christiano ainda estava sentado de frente pra mim. Percebi que ele ainda me olhava, mas não quis trocar olhares com ele naquele momento. Christiano continuou calado por mais algum tempo, talvez tentando achar as palavras certas...

– Cara, eu sinto muito por você. Não consigo ter ideia do quão ruim isso pode ter sido. Eu fiquei triste agora com toda essa história. Depois disso você se envolveu com alguém?
– Não. Faz tempo que não tenho contato nenhum com amores e coisas do tipo.
– Uma vez eu li um livro que dizia: "Mas realmente acredito, que, embora o amor possa ferir, ele também seja capaz de curar...".
– Talvez. Se for um amor correspondido, sim, ele pode curar qualquer ferida no coração... – eu disse. – Mas acho que devemos parar de falar sobre isso. Ta ficando triste demais e não quero que você ache que sou depressivo.
– Não acharia isso de você, mas ok. Vamos mudar de assunto. Que tal a gente comer alguma coisa no KFC agora?
– Ótimo. Estou morrendo de fome.

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Oie, estou escrevendo mais uma história. Dá uma olhada: https://www.wattpad.com/story/232592462-delivery-boy
:)

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