– Eu não vou conseguir aprender isso nunca! – eu disse, no ápice da raiva.
– Calma, Marcos. É só física e não um monstro de sete cabeças.Christiano estava em pé ao meu lado enquanto eu tentava entender aquela matéria de física, mas nada me fazia compreender e eu já estava irritado e com vontade de jogar tudo para o alto e me ferrar na prova final.
– Já estamos aqui desde que chegamos da prova de hoje e eu não aprendi praticamente nada. – eu disse com a cabeça apoiada nas mãos. – Não estou conseguindo absorver nada disso.
– Relaxa, senão aí mesmo que não vai conseguir entender. Levanta essa cabeça e vamos lá!
– Argh!Passei o dia inteiro estudando física com Christiano, mas consegui fixar pouquíssimas coisas, mas o suficiente para alcançar a nota que eu precisava tirar na última prova do ano. Me despedi de Christiano no portão do meu prédio e então ele seguiu seu caminho para seu apartamento.
Quando acordei, na manhã seguinte, dei uma revisada de leve na matéria e fui para a escola tentando não esquecer de nada do que tinha conseguido aprender, afinal aquela era a última prova e se eu não conseguisse uma nota boa, eu teria que ficar na escola por mais uma semana e isso atrasaria a minha viagem com Christiano.
Peguei a prova e a primeira coisa que pensei foi: me ferrei. Aquela prova não tinha nem metade das coisas que eu havia aprendido. Fiquei apavorado, mas comecei fazendo as questões que eu sabia, tentando esquecer das outras...– Está conseguindo. – sussurrou Christiano. Balancei a cabeça negativamente.
Em um movimento muito rápido e muito cauteloso, Christiano pegou a minha prova e começou a fazê-la por mim. Fez as que estavam em branco e corrigiu algumas que eu já havia feito. No fim, Christiano levantou e entregou a minha prova como se fosse a dele, já que quem aplicara a prova não era nenhum de nossos professores e então não sabia nossos nomes. Não esperei muito tempo e logo me levantei para entregar a prova também.
– Você me salvou. – eu disse bem baixinho e o abracei por trás enquanto andávamos pelo corredor.
– Você me deve uma, hein.
– Te devo todas, isso sim. Que prova horrível.
– Agora eu preciso correr pra casa e arrumar minhas malas.
– Você realmente precisa ver seus pais? Não pode deixar pra depois da nossa viagem?
– Eles querem me ver essa semana, nem sei o porquê dessa pressa, mas eu tenho que ir. Serão somente cinco dias.
– Só? Eu acho é muito.
– Vai passar rápido. Prometo.Christiano precisava ir para São Paulo ficar com seus pais, pois fazia muito tempo que não os via e então ele tinha mesmo que viajar e ficar fora por quase uma semana. O que pra mim era quase uma tortura, pois sem ele na cidade eu mal sabia o que fazer com os meus dias vagos e sem escola. Contei os dias como um presidiário conta para a sua libertação, só faltou desenhar pauzinhos nas paredes do meu quarto.
Exatamente seis dias depois, lá estava eu esperando Christiano na porta de desembarque do aeroporto mais próximo de casa. A porta de vidro abriu e Christiano apareceu empurrando seu carrinho com uma pequena mala. Meu coração acelerou o ritmo e inconscientemente eu sorri. Ah, como ele estava lindo! Christiano vestia uma bermuda branca e uma blusa de manga comprida, seu cabelo estava mais curto e jogado para trás como sempre ficava.– Cheguei! – disse ele me dando um abraço seguido de um beijo na testa. – Estava morrendo de saudade.
– Eu também. Como foi a viagem?
– Foi legal. Deu pra matar a saudade dos meus pais. A pior parte é ficar dentro do avião. – São apenas quarenta minutos de vôo.
– Eu sei, mas é ruim pra caramba. – ele riu. – Vamos pegar um táxi e ir pra casa?Esperamos alguns minutos até que nossa vez chegasse para pegar um táxi do aeroporto. Christiano sentou atrás junto comigo...
– Eu já falei com a minha mãe sobre a viagem. - eu disse.
– E ela disse o que?
– Não disse nada. Só quis saber pra onde eu iria e com quem. E eu disse que iria com você e o resto dos nossos amigos.
– Ah bom. Achei que tivesse dito que iria só comigo.
– Mas eu ia falar isso mesmo, mas achei melhor não. Se bem que a minha mãe deve saber que minha amizade com você já passou de colorida. Ela só não diz nada. As mães sempre sabem.
– Eita mãe boa essa a sua, hein. – ele riu e colocou a mão em minha perna. – Já está tudo resolvido para a segunda viagem.
– E você já pode me falar para onde vamos?
– Moleque curioso! – ele apertou a ponta do meu nariz e balançou. – Nós vamos para Florianópolis.
– Mentira. – gritei e Christiano tapou os ouvidos. – Eu morro de vontade de conhecer Floripa.
– Você vai gostar. Vamos ficar um tempo no calor e um tempo no frio. Falei com um amigo das antigas e ele liberou as chaves da casa dele no Jurerê.
– O quê? Jurerê?
– Você não conhece? – ele arregalou os olhos. – Como não?
– Não! É roça? Porque com um nome desses só pode ser no interior do interior.
– Você é doido. – sua gargalhada me fez rir junto.
– Então vai ficar pra surpresa, mas te garanto que você vai amar.
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O Amigo
Romance[EM REVISÃO] O romance O Amigo conta a história de Marcos e Christiano, que se conhecem na escola durante o ensino médio. Christiano é hétero, mas logo se vê atraído por Marcos e até tenta fugir, mas o desejo fala mais alto e os dois logo se envolve...