Capítulo 39

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– Vamos à praia? – disse Christiano em pé na entrada da sala.
– Daqui a pouco o sol vai embora.
– Não quero tomar sol.
– E quer o que então? – eu disse mudando de canal na TV.
– Só sentar por lá e esperar anoitecer.
– Quer mesmo? E essa bota no teu pé?
– Qual o problema? Consigo andar de boa.

A tarde estava fresca e ventava bastante e, como sempre, o fim de tarde naquele bairro me encantava. Chegamos à praia bem mais rápido do que imaginávamos e logo nos sentamos na calçada que separava a areia da rua. Mesmo estando na praia com algumas pessoas passeando por perto, eu não me importei e cheguei mais perto de Christiano para poder ficar de braços dados com ele, que felizmente não se importou e também segurou minha mão, depois de sorrir para mim.

– Sabe que eu sempre morei próximo a praias, mas raramente saía de casa para assistir o pôr do sol. – disse ele estreitando os olhos por causa do vento.
– Eu também quase não faço isso e das vezes que fiz, não foi intencionalmente, mas acho a ideia encantadora.
– Nosso primeiro pôr do sol. – disse Christiano. Por alguns segundos pareceu que só a sua voz existia no mundo, e ela soava tão macia.
– Desejo ter muitos outros com você.
– Quero te proporcionar mais um monte de coisas que ainda não fez.
– Mais do que já me proporciona? – eu disse arqueando as sobrancelhas e inclinando para frente.
– Não fiz quase nada ainda.
– Você me levou a um encontro romântico, você assiste filme de madrugada abraçado comigo, fala as coisas mais doces do mundo, faz com que eu me sinta especial todos os dias, dorme junto comigo quando pode... Todo dia você me proporciona coisas que eu sempre tive vontade de viver.
– Você está feliz?

Christiano olhou nos meus olhos pela primeira vez desde que chegamos ali. Seus olhos estavam apertados, mas ainda sim brilhavam intensamente, em seus lábios havia um sorriso bem sutil, quase imperceptível. Ele me olhava de um jeito que jamais alguém havia olhado antes e era disso que eu estava falando anteriormente. Ele me olhava com olhos de admiração e muitas vezes parecia ler meus pensamentos e decifrar minha alma através daqueles olhos negros brilhantes. Me perdi nos detalhes de seu rosto até que seu sorriso aumentou e então eu voltei a raciocinar.

– Estou completamente feliz. – sussurrei. – E você, está feliz?

Ele virou o rosto para a praia e sorriu sozinho em silêncio, sem ainda me responder. Esperei ele falar alguma coisa e nada de algo sair pela sua boca. Seu rosto coberto pelos raios de sol, fazendo seu cabelo brilhar no tom alaranjado me fizeram ter uma súbita vontade de eternizar aquela cena em uma fotografia.

– Está vendo esse sol, esse mar, essa paisagem? – murmurou ele ainda sem olhar para mim.
– Sim. – respondi, achando que ele havia ignorado minha pergunta.
– É uma paisagem bonita, não acha? É bem intensa e quase não dá pra acreditar que seja real e que possamos presenciá-la, não é?
– Sim.
– Minha felicidade é como essa paisagem. – ele deu um tempo até as palavras serem engolidas pelo som das ondas se quebrando até voltar a falar... – Minha felicidade é tão intensa quanto, e às vezes não dá pra acreditar que eu possa ser tão feliz assim.
– E eu achando que era impossível me apaixonar um pouco mais por você... – eu disse pressionando sua mão.
– E mais um dia se foi e nós continuamos juntos. – Christiano passou o braço por trás de mim e então me puxou para perto num abraço. Repousei minha cabeça em seu ombro. – Estou gostando disso. Será que pedir para ser assim para o resto da vida é demais?
– Vai ser assim para o resto da vida, você vai ver. – beijei seu pescoço e senti o gelado de seu cordão. Puxei o cordão para ver o pingente e o deixei a mostra.
– Esse cordão era do meu avô. – ele segurou o pingente dourado. – Na verdade era do meu bisavô e depois foi passado para o meu avô. Agora é meu.
– Não passou pelo seu pai?
– Não. Meu avô me deu quando eu tinha uns treze anos, se não me engano. Foi um dia antes do seu falecimento.
– Eu raramente te vejo sem ele. Na verdade, parece que ele faz parte do seu corpo, porque de tanto que o vejo, acabo ignorando a presença dele.
– Eu tipo um amuleto, sabe? Não tiro nunca e pretendo não tirar nunca.
– Eu não tenho nenhum tipo de amuleto, mas ficaria com receio de usá-lo todos os dias por medo de esquecer em algum lugar, de deixar cair ou algo do tipo.
– Se eu esquecer esse cordão em algum lugar pode ter certeza que eu volto pra buscar. – ele segurou o pingente e o beijou. Sorriu e então olhou para mim. – Parece coisa besta, não é?
– Claro que não. Acho lindo, pra falar a verdade. – Bom, vamos para casa?

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