Capítulo final

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Christiano

Ajeitei a mochila em minhas costas e continuei andando pelo corredor a caminho do avião. Eu mal conseguia enxergar, pois as lágrimas pareciam não acabar.
O sentimento de culpa ainda estava me corroendo por dentro e nada poderia me fazer sentir melhor, pois eu havia deixado o amor da minha vida chorando no aeroporto.
Após me sentar na poltrona marcada, eu olhei pela janela e tentei enxergar Marcos, mas é claro que eu não conseguiria. Eu já sentia falta do seu calor natural que contagiava o meu corpo toda vez que nos abraçávamos. Eu queria ouvir a gargalhada dele mais uma vez ou vê-lo pular de alegria ao ouvir sua música favorita tocar na rádio.
O avião estava decolando e Marcos não estava lá para me tranquilizar e conversar comigo. Achei que fosse chorar, mas prendi todas as lágrimas atrás de meus olhos, pois eu tinha que ser forte.
Que tipo de pessoa deixa seu amor chorando no aeroporto?
Peguei meu celular e fiquei admirando o papel de parede que tinha uma foto nossa em Florianópolis... Marcos com seu rosto enterrado em meu pescoço enquanto somente o seu sorriso lindo e sincero aparecia. Entrei na galeria e olhei mais algumas fotos. Por último havia um vídeo nosso...

– Marcos... – eu disse enquanto ele estava enrolado em seus lençóis.
– Oi.
– Eu te amo, sabia disso?
– Eu te amo mais. – ele abriu um sorriso. – Porque está me filmando?
– Porque você é lindo.
– Para, seu bobo. – disse ele tentando tapar a câmera.
– Você é a coisa mais preciosa da minha vida.
– Ai meu Deus. Que lindo.

Deitei ao seu lado e enquanto nos beijávamos eu segurava o celular, ainda nos filmando.

...

– Como foi a viagem? – Perguntou minha mãe.
– Normal.
– Tudo vai ficar normal. Você vai entrar na minha disciplina.

– O que? – eu disse sem entender.
– Isso mesmo que você ouviu. Você perdeu todo o respeito que eu tinha por você.

Olhei para a minha mãe, mas ela forçou um sorriso, fingindo que tudo estava bem, mas eu sabia que algo havia acontecido.
Fui calado até minha nova casa ainda sem entender o motivo de toda aquela tensão. Minha mãe mal olhava para mim e meu pai estava mais carrancudo que o normal.

– Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – eu disse após passar pela porta.
– Você ainda pergunta? Você é imundo.
– Mas que porra é essa que está acontecendo?
– Não ouse xingar dentro da minha casa, seu merda. – gritou ele.
– Você está maluco?
– Sua bicha.

Antes que eu pudesse absorver aquela palavra, meu pai me deu um soco no rosto. Esbarrei na pequena mesa ao lado da escada e derrubei o vaso, que se quebrou em centenas de pedaços. Senti um leve gosto de sangue na minha boca e meus olhos encheram de lágrimas, mas não chegaram a cair.

– Você recebeu uma educação perfeita da sua família e faz uma coisa dessas comigo. Desrespeitando sua família inteira. Seu puto.
– Para de me xingar. – gritei.
– Eu te xingo até a hora que eu quiser. Você depende de mim e eu mando em você. Você vai entrar na linha agora, nem que pra isso eu tenha que te bater até morrer. Onde já se viu um homem como você beijando outro homem.
– Foi por isso que você me trouxe. – eu disse assim que a ficha caiu. – Você já sabia e quis me separar do Marcos. Você quer me ver infeliz.
– Não vou aceitar ter um filho bicha. Eu vou te botar na linha.
– Eu vou voltar! – gritei.

Olhei em volta a procura da minha mãe, mas ela já não estava mais lá. Minha respiração estava ofegante como se eu tivesse acabado uma corrida.

– Você vai voltar? – disse ele se aproximando. – Me diga como? Vamos lá, me diga. Você não tem como sair daqui, a não ser que eu queira. Acabou!
– Eu não acredito que saí de lá e deixei... – ele me interrompeu.
– Deixou o que, aquela outra bicha que você chamava de namorado?
– Cala a sua boca. Não abra a boca pra falar do Marcos.

O empurrei e em seguida parti para dar um soco nele, mas meu pai me imobilizou rapidamente e eu não pude mais me mexer.

– Não tente me bater. Eu sou seu pai.
– Um pai não faz isso com seu filho. – eu disse chorando enquanto seu braço envolvia meu pescoço.
– Christiano, chega! Estamos conversados. A partir de hoje você vai mudar.
– Não vou. – gritei.
– Vamos ver se não vai...
– Vou te levar para o quarto. – disse minha mãe segurando meu braço.
– Me solta! – gritei e senti ela estremecer. – Não acredito que a senhora fez isso comigo.
– Meu filho...
– Onde é o meu quarto?
– É o primeiro do corredor.

Subi as escadas com tanta raiva, que a minha vontade era de quebrar aquela casa inteira. Entrei no meu novo quarto e me deitei na cama. Chorei muito mais do que chorara quando me despedi de Marcos. A dor agora era muito mais intensa, pois eu havia caído numa armadilha que meu próprio pai tinha armado para me separar do Marcos. Me senti impotente, como se não pudesse mais fazer nada para mudar aquilo.
Horas depois minha mãe entrou no quarto e pediu para que eu descesse para jantar. Continuei calado sem reação alguma sobre sua presença e antes dela sair eu disse:

– Eu nunca vou te perdoar por isso!
– Você ainda vai nos agradecer, meu filho. – disse ela e então fechou a porta.

Depois de dormir um pouco, acordei com muita dor de cabeça. Levantei da cama e fui para a varanda do quarto, mas aquela vista para o jardim não era nada interessante. O vento extremamente gelado que batia em minha pele não me incomodava. Eu já não sentia mais nada. Tive vontade de ligar para Marcos e contar tudo o que estava acontecendo, mas desisti. Eu não queria deixá-lo mais triste e preocupado comigo. Decidi que iria mudar toda aquela situação, eu ainda não sabia como, mas arranjaria um jeito.

– Eu vou voltar... – murmurei. – Eu juro que vou voltar Marcos. Nem que pra isso eu tenha que pedir dinheiro na rua durante um ano inteiro.

CONTINUA...




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Tem a segunda temporada no meu perfil. Corre lá pra ver.

Ah, estou escrevendo uma nova história. Dá um olhada: https://www.wattpad.com/story/232592462-delivery-boy

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