Capítulo 1

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Abri os olhos e apertei um botão qualquer do celular depois de ver a hora. Eu estava atrasado pra aula e por isso dei um pulo da cama e fui direto para o banheiro. Vesti meu uniforme depressa e saí de casa sem nem mesmo tomar café da manhã, o que era bastante normal. No ponto de ônibus encontrei meu amigo Fernando que estava a minha espera.

– Ei, mas que demora! – disse ele puxando as mangas de seu casaco.

– É. Foi mal, acordei um pouco tarde. E aí, tudo bem contigo?

– Tudo indo. Não aguento mais acordar cedo.

– Então é melhor se acostumar, pois há grandes chances de você continuar acordando cedo depois que sairmos do ensino médio.

– É. Verdade, mas que isso é um saco é. – disse ele sorrindo.

– Tenho que concordar contigo.

Um ano antes, quando estávamos no primeiro ano do ensino médio, eu nem falava com Fernando. Nunca me interessei por ele e nem por nenhum de seus antigos amigos, aparentemente babacas, mas por causa de uma amiga em comum acabamos nos conhecendo melhor e percebi que tinha muitas coisas em comum com ele.

Nossa escola fica no Largo do Machado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o apartamento dos meus pais ficava na Glória que era bem próximo da escola e o apartamento do Fernando ficava em Laranjeiras, que também era bem perto, mas eu costumava incluir esses bairros e mais alguns próximos num bairro só: Catete. Nunca soube diferenciar um bairro do outro então sempre denominava todos eles, que eram tão pertos uns dos outros, de um só.

O 'bairro' todo era maravilhoso. Sempre gostei dos lazeres disponíveis, das praias mais próximas, dos restaurantes, do cinema, das praças e principalmente da beleza simples de cada rua antiga. Me encantava o entardecer daquele bairro, o vento fresco soprando, as folhas das árvores caindo, as pessoas passeando com seus cachorros.

Fernando e eu entramos no ônibus e logo descemos em frente à escola. A praça era um fervor de alunos durante o dia todo, mas principalmente antes dos portões abrirem. Era ali que todos se encontravam pra conversar, rir e algumas vezes até brigar.

O portão principal foi aberto e nós entramos. Assim que entrei na sala de aula, fui falar com meus amigos mais próximos.

– E aí galera. – eu disse jogando minha mochila na cadeira.

– Bom dia. – disse Fernanda. Ela fez um carinho em minha mão repousada em sua mesa. – Tudo bem?

– Aham. Com um pouco de sono, mas tudo ótimo. – eu disse sorrindo.

– Já viu que a turma ganhou três novos alunos? – disse Lidiane apontando pra trás discretamente.

Eu estava sentado de frente para elas e podia vê-los sentados quase no fundo da sala.

– Mais alunos? Daqui a pouco a sala não vai ter cadeiras suficientes. – eu disse.

– Verdade – concordou Fernanda –, mas acho que daqui pra frente não teremos mais novatos não.

– Bom, eu só sei que esses dois caras estão fazendo sucesso. As mocinhas não pararam de cochichar desde que eles entraram. – disse Lidiane.

Olhei pro outro lado da sala e realmente eles estavam sendo alvo de comentários. E pelo visto comentários muito bons. Voltei a olhar para eles, que estavam sentados um do lado do outro, mas só dois deles estavam conversando, o outro estava quieto mexendo em seu celular.

Um dos que estavam conversando era bem bonito e parecia ter um corpo malhado, o outro era mais magrinho, mas ainda sim parecia ser bonito pelo que podia enxergar dali. Tentei olhar para o rosto do solitário que mexia em seu celular, mas no mesmo instante a professora entrou na sala e eu fui sentar no meu lugar.

A aula começou, mas o meu interesse por ela ainda estava bem longe dali. Olhei pra trás e o aluno solitário ainda estava em seu celular. Eu queria ver melhor seu rosto, mas ele não largava aquele celular para prestar atenção na aula de jeito nenhum. Olhei várias vezes tentando disfarçar o máximo que podia pra ninguém perceber o que tanto estava me chamando atenção. Depois de algumas olhadas rápidas e cautelosas eu me virei pra valer e olhei fixamente esperando ele dar pelo menos uma olhadinha para a professora e assim eu poder ver direito o seu rosto, mas ele parecia nem perceber que a aula já estava rolando. De repente ele levantou a cabeça e olhou pra frente, mas não para a professora ou para o quadro e sim pra mim. Ele olhou para mim como se soubesse que eu estava o observando. Levei um baita susto e me virei pra frente, desejando não ter me virado tão rápido como se tivesse realmente levado um susto.

– Puta merda! – murmurei enquanto olhava para a mesa da professora tentando me manter imóvel, como se estar num estado de estátua fosse me fazer sentir menos idiota.

Olhei para trás outra vez só pra conferir se ele tinha voltado para o celular, mas ao invés de vê-lo com a cabeça baixa enquanto teclava em seu celular eu vi seu rosto por completo do jeito que queria, mas ele não só tinha parado de mexer no celular como também estava olhando para mim. De novo. Rapidamente eu voltei a olhar para a professora e dessa vez me sentindo mais idiota ainda por tê-lo deixado perceber que eu estava olhando pra ele. E não satisfeito com aquela pequena vergonha, ainda fiz questão de me virar novamente para olhá-lo.

Dessa vez eu virei uma pedra. Não quis nem piscar. Quis virar só mais uma vez para olhá-lo direito, mas já tinha coletado provas suficientes de que eu não conseguiria olhar para seu rosto sem que ele também olhasse para o meu. Tratei de esquecer que havia um aluno novo que eu queria olhar bem e focar na aula de geometria.

Lá para o fim da aula a professora parou para corrigir alguns trabalhos. A turma foi liberada pra conversar e se locomover pela sala de aula, mas eu continuei na minha cadeira como se não conhecesse ninguém ali dentro. Eu ainda estava tenso pela burrada que havia feito no primeiro tempo de aula e estava decido a nem direcionar mais o meu olhar para o fundo da sala e muito menos para o aluno novo.

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