Capítulo 21

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Mais uma semana de maio se passou e eu sentia que a cada hora que passava eu ficava mais apaixonado pelo Christiano e seu jeito singular. Todos os dias depois da escola nós saíamos da escola separados e nos encontrávamos no Parque Guinle, onde era o ponto de encontro dos alunos que queriam passar a tarde conversando e, na maioria das vezes, fazer coisas escondidas. No meio de tantas árvores, havia um pedaço onde pouquíssimas pessoas passavam caminhando e era lá o nosso esconderijo pra fazer o que ninguém poderia ver. Tudo o que fazíamos era nos beijar e nada mais, mas ninguém poderia nos ver, pois para todos os efeitos, Christiano era hétero e fiel a sua namorada. No começo essas saídas às escondidas eram muito divertidas, mas com o passar dos dias começamos a nos sentir que estávamos fazendo a coisa de uma maneira errada e mais uma vez Mariana entrava na nossa conversa.

– A gente não pode mais continuar fazendo isso! – eu disse tentando parecer o mais sério possível, mesmo estando sentado num balanço de parquinho infantil.
– Marcos, eu não sei o que fazer, cara.
– Você sabe o que quer?
– Sei. – disse ele fazendo uma careta.
– Então é só isso que você precisa. Se você sabe o que quer, fica fácil saber o que fazer. – olhei nos olhos dele e voltei a falar. – Não dá pra você me ter e ao mesmo tempo ter a Mariana. Você tem que escolher.
– Eu já disse que quero você. – seus olhos se desconectaram do meu e focaram em algo longe. – Só que não é assim tão simples. Como eu termino com ela? O que eu vou dizer?
– Eu não sei. – dei de ombros. – Mas algo precisa ser feito. – Eu estou confuso. – disse ele massageando as têmporas.

Soltei minha respiração toda de uma vez e apoiei meus cotovelos na perna. Ele me olhou, mas não retribuí.

– É disso que eu tenho medo.
– Do que?
– Dessa sua confusão. Você está confuso e isso me deixa... Argh! Me deixa irritado. Você não parece ter certeza do que realmente quer. As vezes eu me pego pensando se você realmente estaria disposto a ficar comigo.
– Para com isso, Marcos. Eu já cansei de te dizer que... – eu o interrompi.
– Sim, você já disse que quer ficar comigo, mas se você tem certeza disso, porque é tão difícil fazer uma escolha? Eu não entendo isso.
– Talvez porque seja uma coisa completamente diferente do que estou acostumado? Eu nunca fiz isso. Nunca tive que tomar uma decisão como essa, ainda mais para ficar com outro homem. Então não pense que é tão fácil assim. – ele disse e tudo o que eu consegui fazer foi continuar calado para absorver aquelas palavras.
– Ok. Não quero te pressionar a nada, tudo bem? Só que não gosto de fazer isso com ela. Até porque não gostaria que alguém fizesse isso comigo.

Christiano ficou calado por um longo tempo e eu percebi que seus pensamentos estavam bem longe dali. Continuei mudo enquanto me balançava levemente no balanço do parquinho a espera de Christiano. O rangido do balanço parecia ensurdecedor, assim como o som das folhas das árvores se chocando uma nas outras.

– Vamos fazer um trato?
– Um trato?
– Um acordo... – ele apertou a ponta do nariz fazendo-a ficar avermelhada. – A gente vai parar com esses encontros aqui no Guinle até eu dar um ponto final nessa história com ela. Pode ser?
– Pode, mas – eu disse, hesitante. – vai demorar muito?
– Um pouco talvez. Eu acabei de pensar uma coisa aqui... A Mariana comprou duas passagens para a região dos lagos para o mês que vem para passarmos uns quatro dias de férias lá.
– E o que isso tem a ver com a história?
– Que eu não posso terminar com ela antes da viagem.
– Não pode?
– Eu não quero, na verdade. Porque eu sei como ela vai ficar chateada e aí ela vai insistir muito mais numa justificativa, vai querer saber o porquê do término e... Enfim, eu não posso fazer isso antes. – ele finalmente me olhou.
– Então isso quer dizer que vou ter que ficar sem você durante mais de um mês? – perguntei quase que pausadamente.
– Se você quiser continuar eu não vou me importar. – disse ele dando o primeiro sorriso torto do dia.

Não pude resistir e sorri de volta dando um tapinha em seu ombro.

– Não, vamos fazer esse trato. A gente precisa resolver isso pra tudo andar. Vou sofrer um pouquinho, mas espero ser recompensado depois das férias. – eu disse arqueando a sobrancelha.
– Pode deixar, você vai ser muito bem recompensado.

Christiano se inclinou para frente na tentativa de chegar mais perto e eu fiz o mesmo. Nossos lábios estavam a poucos centímetros de distância quando me lembrei de que tínhamos feito um trato e foi ali que eu percebi o quão difícil iria ser aquele mês sem Christiano.


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Ah, estou escrevendo uma nova história. Dá um olhada:  https://www.wattpad.com/story/232592462-delivery-boy

 :)

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