Capítulo 9

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– Christiano? – eu disse e ele virou de frente para mim. Esperei por um abraço, mas só recebi um sorriso bonito em troca.
– Chegou rápido hein. Veio correndo?
– Eu ando depressa, esqueceu?
– É verdade. Esqueci. E aí, tudo bem com você? Estava fazendo o que antes de vir pra cá?
Tiramos nossos chinelos e caminhamos pela areia. A praia estava deserta, não havia ninguém por lá além de nós. Christiano esticou os braços para o alto querendo estalar os cotovelos e os músculos se contraíram, pude ver o contorno de seu peitoral por debaixo da camiseta e sua axila com poucos pelos que fizeram eu me sentir estranho por achar aquilo sexy.
– Ah, nada. Na verdade estava deitado.
– Estava deitado? Poxa, me desculpa então. Fiz você sair de casa antes de descansar. Se eu soubesse não teria chamado.
– Deixe de besteira. Prefiro estar aqui com você a estar em casa cochilando sozinho. Você pode me chamar sempre que quiser, estará fazendo um favor para mim.
– Obrigado! – ele disse, agora com uma voz mais baixa e fraca. – Vou me lembrar disso.
O silêncio nos rodeou por um tempo e comecei a achar que havia um motivo pra ele ter me chamado ali, e não era só pra caminhar pela praia. Ele manteve seu olhar fixo em alguma coisa bem distante enquanto caminhava e chutava a areia a cada passo. Antes de falar algo, tentei imaginar o que poderia estar chateando ele naquele momento, mas não consegui chegar a nada que pudesse realmente fazer sentido.
– Porque eu tenho a impressão de que você não me chamou aqui só pra caminhar e sim porque precisa conversar sobre algo que está te incomodando? – Christiano abaixou a cabeça e me olhou de lado. Sorriu.
– Você tem uma boa percepção das coisas. – disse ele, mas quase não pude ouvir por causa do som das ondas se quebrando.
– Vamos lá, desabafe e deixe-me mostrar que sou um bom amigo.
– Não tenho dúvidas disso. – ele me olhou novamente, mas dessa vez seu olhar se desviou para longe. – Você já se apaixonou alguma vez?
– ... – senti um nó na garganta e por um segundo achei que minha voz não fosse sair. – Infelizmente sim.
– Infelizmente? – perguntou ele franzindo as sobrancelhas compridas.
– É, mas esqueça isso. Me fale sobre o que você está sentindo, outro dia a gente conversa sobre mim.
– Bom... Eu tenho namorada, você sabe, e eu gosto dela, gosto mesmo, mas ontem eu percebi que já não sou mais apaixonado por ela. Percebi que não sinto mais paixão alguma por ela e isso de certa forma tem me deixado pensativo demais e até triste. Me sinto um monstro por saber que ela gosta muito de mim e eu não mais.
– Talvez você só não estivesse num dia bom ontem. Não é todo dia que a gente quer estar perto de alguém, por mais que esse alguém seja uma parceira.
– Não, cara. Eu sei que não sinto mais nada. Alguma coisa mudou em mim e eu não consigo mais olhar pra ela da mesma forma como antes, já não tenho mais vontade de passar o dia com ela ou de ficar longos minutos no telefone... Até as mensagens eu tenho diminuído. E isso foi sem querer, só agora que percebi. Tenho me afastado dela sem nem mesmo perceber. E... – ele passou a mão na testa demonstrando irritação. – Nem sei de mais nada.
– Te entendo, sei como é. O fato de você ficar incomodado por achar que não está mais apaixonado por ela, sabendo o que ela sente por você, mostra que no mínimo você é uma pessoa boa e sensata. Sentimento é assim, ainda mais quando se trata de paixão. Ela geralmente é avassaladora, vem com toda força e se não tomar cuidado até nos deixa meio doido, mas assim como ela pode vir do nada e com muita força, ela pode ir embora sem você nem perceber. E é importante lembrar que você não é um monstro por não estar mais apaixonado por ela, você é humano, nós somos humanos e é assim que acontece com a gente. Nós mudamos o tempo inteiro e nossos sentimentos também. É chato, mas é normal. Não sei se está entendendo o que quero dizer.
Joguei as palavras no ar e ele permaneceu em silêncio enquanto as digeria. Nós continuávamos a caminhar e ele estava com as mãos dentro dos bolsos da bermuda, o vento fazia seu cabelo ondulado e sedoso balançar violentamente e seus olhos se estreitarem. Ele deu um leve arfar e um sorriso...
– Meu avô sempre dizia que um bom amigo consegue nos confortar com poucas palavras. E por incrível que pareça eu me sinto melhor agora, ainda sem saber o que fazer, mas melhor.
– De nada. Acho que você só precisava botar isso pra fora e eu só fiz ouvir você. Você sabe, eu sou um bom ouvido. – eu disse sorrindo.
– Sim, você é um bom ouvido. Se eu contasse isso pra qualquer outro amigo ou colega, eles viriam com conselhos nada agradáveis ou tratariam disso como frescura ou piada.
Paramos de caminhar e nos sentamos no concreto que separava a areia da calçada. Larguei meu chinelo de lado e afundei meus pés na areia com mil pensamentos em minha mente. O silêncio mais uma vez nos assombrou, mas não me incomodei com ele, na verdade não pensei muito sobre. Senti os olhos dele grudados em mim, mas mantive meu olhar longe enquanto pensava em várias coisas.
– E porque eu tenho a impressão de que você tem algo para desabafar também? – disse ele. Sua voz soou com uma rouquidão gostosa de ouvir.
– Impressão sua.
– Lembra que eu lhe disse que também sou um bom ouvido e que, além disso, eu gosto muito de ouvir? – disse ele tentando encontrar meus olhos que estavam distantes.
– Sim.
– Então... Pode desabafar o que tiver pra desabafar. Pode contar tudo o que você nunca teve oportunidade de contar para os outros amigos, mas antes...
– O que? – finalmente olhei pra ele.
– Queria que você me respondesse uma coisa. É um tanto particular, mas ficaria muito feliz se você me respondesse a verdade.
– Pode perguntar. – fiz de conta que não sabia o que era e tentei me manter o mais tranquilo possível diante daquela situação.
– Você é gay, Marcos?

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