Capítulo 20

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– Qual foi, Christiano? – eu disse enquanto ele enchia um copo com água. – Vai ficar assim comigo até quando?
– Estou normal contigo, Marcos.
– Não está não. Você não está falando comigo desde que saímos do cinema.
– Já disse que estou bem...
– Isso tudo é por causa daquela hora no cinema? Porque se for... Você pode pelo menos olhar pra mim? – esperei ele responder, mas ele nem se mexeu. – Porra Christiano!
– O QUE FOI PORRA? – gritou ele fazendo meu corpo inteiro estremecer. – O QUE VOCÊ QUER?
– Eu só quero que você fale comigo.
– Eu estou chateado sim! Eu faço um carinho em você e você simplesmente me rejeita como se eu fosse um estranho qualquer. Como você quer que eu me sinta?
– Christiano, nós estávamos dentro do cinema com sua namorada ao lado.
– Foda-se! – quase gritou novamente. – E hoje mais cedo... Aquilo que você disse pra mim? Hein?
– Eu tava querendo te fazer entender que você está namorando, e eu não quero ficar no meio de uma traição. Isso vai contra tudo o que eu acho certo. Como eu posso conversar com ela sendo que na verdade estou a apunhalando pelas costas. Eu não gosto dessa situação. E tem outra, você sabe que eu dou valor a sentimentos e que não gosto de pura pegação. Então, e aí como vai ser pra mim depois? Porque eu é que terminarei sozinho e você sabe que...
– Para... Para de falar assim. Você está completamente enganado.
– Você não acha que estamos errando ao fazer isso com a Mariana? – perguntei incrédulo.
– Não é disso que eu estou falando, Marcos. Você não vai ficar sozinho!
– Ah não? Então me diz como eu vou ficar? – cruzei os braços esperando uma resposta.
– Você só consegue ver dessa maneira? Só consegue se imaginar sozinho e eu namorando a Mariana pra sempre?
– Sim. – eu disse. – É claro.
– Ah é?! – ele soltou uma risada insatisfeita e olhou para o teto da cozinha. Levou a mão até a testa e a massageou. – Então eu é que estou enganado.
– Do que você está falando? Pelo amor de Deus! – eu disse impaciente.
– EU ACHEI QUE VOCÊ GOSTASSE DE MIM. – gritou ele mais uma vez.
– EU GOSTO DE VOCÊ – gritei de volta. – É claro que eu gosto, mas eu não vou ficar gritando pros sete ventos que eu estou apaixonado por você porque isso não vai mudar nada e tudo vai continuar do mesmo jeito. Porque eu já vi essa história antes e eu não saio bem dela. Porque eu sei que a vida não é um livro do Nicholas Sparks onde eu me apaixono por alguém que também se apaixona por mim. Eu sei que não é assim.

Vomitei todas aquelas palavras e elas ficaram no ar enquanto ele, e até eu, as absorvia. Meus olhos já estavam fervendo com lágrimas prontas para despencarem. Christiano me encarava com uma expressão de raiva e alívio, se é que isso poderia ser possível. Ele pareceu voar pra cima de mim, como se fosse me bater, mas parou a poucos centímetros de mim e começou a vomitar palavras carregadas de mágoa.

– Porque você não consegue enxergar que eu também gosto de você? Não está claro? Como eu poderia namorar uma mulher, mas preferir o beijo de outro homem e não gostar dele? É obvio que eu gosto de você. Se eu não gostasse de ti, eu jamais teria repetido o beijo, eu jamais tentaria te dar carinho... Apenas enxerga isso e para de pensar que você vai ser solitário para o resto da vida. – disse ele como se estivesse me dando uma lição de vida. – A vida não pode ser tão cruel assim como você pensa.

Só percebi que minha boca estava entreaberta quando quis abri-la para falar algo. Senti uma pontada aguda de felicidade e naquele momento eu tive o maior alívio de toda a minha vida, até então. Minha mente pareceu clarear para o mundo me fazendo enxergar tudo diferente. Christiano estava na minha frente com o rosto vermelho de tanta irritação e eu me lembrei do quão ele era bonito. Sorri espontaneamente e ele me olhou ainda confuso tentando decifrar meus pensamentos. Dei um passo pra trás, mas esbarrei no fogão e ali mesmo eu me apoiei.

– Como assim você gosta de mim? – minha voz saiu tão baixa que mais pareceu um sussurro. – Você é meu amigo, então é claro que você gosta de mim...
– Marcos – disse ele incisivo. Deu mais um passo em minha direção e colocou as duas mãos na tampa do fogão, me mantendo entre seus braços e olhando bem nos meus olhos. –, eu vou precisar desenhar pra você?
– Eu só não consigo entender como...
– Meu Deus... Marcos! – Christiano se afastou e sua voz parecia suplicar por algo. – Eu estou apaixonado por você e eu quero que você entenda isso de uma vez por todas porque eu quero te beijar... Eu estou completamente apaixonado por você e eu sei disso porque eu jamais senti algo por outro homem, mas sinto agora por você. Mas eu não sei o que fazer pra você entender isso. Eu acho que você não gosta de mim desse jeito por que... Porque você está chorando, Marcos?
– Eu não sei! – eu disse tentando conter as lágrimas. – Eu estou feliz de ouvir você dizer isso pra mim.
– Marcos – Christiano me abraçou. –, como você consegue transformar um momento desses numa coisa tão dramática e cheia de choro, cara? Puta que pariu. Para de chorar.
– Desculpa. – tentei olhar para ele, mas meu rosto estava muito bem acomodado em seu peitoral.
– Eu quero poder te beijar sempre que eu quiser. – sussurrou ele.
– Eu também, mas...
– Mas nada. – disse Christiano me interrompendo.
– Pode ficar complicado.
– Só vai ser complicado se você quiser. – disse ele quase num sussurro enquanto me apertava naquele abraço gostoso.

Um beijo quente e apaixonado deveria acontecer naquele momento, mas não foi isso que aconteceu. Por mais que eu quisesse um beijo dele agora, eu não o fiz e nem ele. Tudo naquele momento era diferente do que se esperava: as reações, as frases ditas, as emoções. Então eu não podia esperar que selássemos aquilo com um grande beijo apaixonado. Continuei com o rosto em seu peitoral enquanto a palma de sua mão passeava lentamente pelas minhas costas. Nossas respirações entraram no mesmo ritmo. Fechei os olhos e suspirei involuntariamente pensando no que havia acabado de acontecer ali, no meio da cozinha. Eu não estava triste, pelo contrário, eu estava muito feliz, mas de um jeito estranho, eu me senti sereno. Como se nada mais pudesse me afetar, como se tudo o que eu precisasse para a minha vida era um pouco do que Christiano queria me oferecer.
...

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