Capítulo 15

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Acordei muito bem no sábado e assim continuei no decorrer do dia. Eu sabia que na verdade aquilo era só uma camada fina que me protegia dos pensamentos sobre Christiano, mas ainda sim eu estava bem. Tão bem que telefonei para Lucas e perguntei se poderia ir à festa sem ingresso, e como ele era um dos organizadores de quase tudo daquela escola, eu pude ir tranquilamente para a festa.
A escola estava muito cheia. Cheia demais pra ser uma festa só pra alunos, com certeza havia pessoas de fora ali dentro. O auditório estava completamente diferente, nem parecia ser o mesmo. O palco estava ocupado com alguns instrumentos da banda que iria se apresentar mais tarde, nas paredes estavam alguns sofás de cores diferentes e um bar. Avistei meus amigos sentados no sofá e fui até eles. Fernando já estava começando a ficar bêbado e conseguia falar mais alto que a música, Fernanda segurava um drink e dançava discretamente ao lado do sofá junto com Lidiane e Carla. Quando me dei conta, a pista estava praticamente lotada de pessoas dançando, bebendo e conversando, a música parecia mais alta a cada minuto e as pessoas mais animadas. Meus amigos foram pro meio da aglomeração para dançar, mas eu quis ficar no sofá bebendo um refrigerante. Senti vontade de ir embora, não porque a festa estava ruim, ela estava boa demais, mas eu estava enganado sobre meu humor ou simplesmente não estava bem o suficiente pra curtir uma festa daquelas.
A música que estava tocando era muito boa e se eu estivesse bem eu teria levantado pra dançar, mas continuei sentado apenas batendo o pé conforme a batida da música e olhando pra baixo.

– Marcos?! – disse aquela voz tentando soar mais alta pra que eu pudesse ouvir. Reconheci na mesma hora. – Tudo bem?
– Christiano. – eu disse me levantando na hora.

Por alguns segundos eu fiquei parado olhando pra ele, ainda não acreditando que ele estava ali na minha frente. Quis me desculpar pelo beijo e dizer que não aconteceria mais e que poderíamos voltar a ser amigos, mas antes que eu pudesse organizar meus pensamentos ele passou a mão por trás da cintura de uma loira. Senti meus ombros caírem ao lembrar que aquela era a namorada dele. Tentei lembrar seu nome, mas não consegui.

– Essa é a Mariana, minha namorada. – disse ele. – Mariana, esse é o Marcos.
– Oi. – tentei falar alto, mas não consegui, então apenas sorri pra ela.
– Oi, Marcos. – disse ela aproximando seu rosto na minha orelha. – Finalmente te conheci, Christiano já me falou sobre você.
– Ah, ele já falou sobre você também. – eu disse, agora mais alto e mais firme que antes.

Busquei algum resquício de chateação no olhar de Christiano, mas não encontrei nada. Era como se nada tivesse acontecido entre nós, como se ele nunca tivesse faltado por minha causa. Não existia nada de diferente naquele olhar, apenas o mesmo de sempre. Por um segundo eu imaginei que aquele beijo e todos aqueles dias sem vê-lo tinham sido um sonho e que agora eu estava louco achando que tudo tinha sido real.

– Você faltou aula a semana inteira. – eu disse finalmente, ainda encarando seus olhos em busca de algo diferente.
– Eu estava doente, não pude vir para a escola.

Nos primeiros minutos tudo foi muito tenso. Eu continuava querendo achar algo de diferente nele, algo que pudesse me fazer acreditar que o beijo tinha acontecido e que eu não era louco, mas ele estava quase normal comigo. Quase. Depois de certo tempo, eu percebi que estava tudo bem, e que apesar de toda a tensão se evaporar e a conversa enfim rolar naturalmente com alguns risos e brincadeiras, Christiano estava sutilmente distante de mim. Ele era o mesmo Christiano que eu conhecia, mas a intimidade que conquistamos na última semana parecia ter sido levada pelo vento.
Mariana era muito simpática e comunicativa, conversava comigo e com meus amigos como se já nos conhecesse. Ela era extremamente bonita, seu rosto era tão delicado quanto o de uma boneca e seu corpo tinha todas as curvas que um homem admira e seu vestido preto e simples só realçava seu corpo bonito. Christiano estava tão deslumbrante quanto ela naquele dia, vestia uma blusa branca de decote 'V', calça jeans preta e um tênis sneaker escuro. Os dois formavam um casal tão bonito que tive certeza de que os dois eram alvo de muitos olhares quando iam assistir a um filme no cinema ou passear pelo shopping.
Mesmo depois de todos aqueles dias sem vê-lo e tentando esquecê-lo, eu ainda tinha a mania de me perder enquanto o observava. Eu poderia citar cada detalhe dele, cada pequena mania como, por exemplo, o jeito que ele apertava de leve o nariz antes de falar seriamente ou quando ele rodava seu anel ou quando ele daria aquele sorriso de lado que eu tanto gostava...
Fui com ele e Mariana até o bar buscar algumas bebidas, mas o caminho não era um dos mais fáceis. Tinha muita gente dançando, pulando ou simplesmente parado olhando pro nada. Antes que pudéssemos chegar ao bar, um cara passou correndo por nós e derramou toda a sua bebida no vestido de Mariana.

– Porra! – gritou Christiano.
– Eita, cara. Foi mal aí. – disse o cara olhando para o interior do copo na esperança de ainda ter restado algo.
– Presta atenção, pô.
– Christiano, calma. – disse Mariana passando a mão no vestido. – Onde tem um banheiro aqui, Marcos?
– Bom, tem um bem ali – eu disse apontando para o banheiro do outro lado. –, mas está lotado.
– Os outros devem estar do mesmo jeito. – disse Christiano olhando por cima das pessoas na pista de dança.
Para nossa sorte, no meio daquela confusão de gente, Lucas passou por nós.
– Lucas! – gritei seu nome.
– E aí.
– Cara, preciso de um banheiro livre. Todos os banheiros estão lotados de gente e a Mariana
só quer dar um jeito no vestido dela.
– Espera aí. – disse ele enfiando a mão no bolso da calça e tirando uma chave. – Essa chave
é da sala dos professores, lá tem um banheiro. Pode ir lá e depois você me entrega a chave, só não diz pra ninguém, senão vai dar merda.
– Valeu, cara.

...

– Vou tentar dar uma lavada no vestido pra não ficar nojento e fazer xixi. Estou apertada. – disse Mariana fazendo careta e entortando as pernas.
– Eu vou ao banheiro também. – eu disse.
– Ok. – disse Christiano olhando pra longe.

Na verdade eu não estava querendo nada no banheiro, eu simplesmente não consegui me imaginar sozinho com Christiano naquele momento. Imaginei que fossemos ficar calados com aquele ar de tensão nos rodeando e deixando mais claro que nossa amizade, apesar de parecer normal, não seria mais a mesma coisa. Fiquei parado em frente a pia esperando os minutos passarem, lavei minha mão e em seguida meu rosto. Quando me virei para sair do banheiro, dei de cara com Christiano, por pouco não esbarrei nele.
Nossos olhos se encontraram e finalmente eu enxerguei o olhar diferente que eu esperava, mas a diferença era que não parecia haver chateação e sim confusão. Seu olhar estava confuso, como se passasse vários sentimentos em um só segundo.
...

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