Capítulo 6

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Durante a tarde, quando o sol já estava começando a querer ir embora, Mary passou lá em casa. Mary era minha vizinha e amiga, viramos amigos ainda crianças quando fui transferido para o colégio onde ela estudava. Ela sempre foi muito extrovertida e simpática, então logo no meu primeiro dia nós já ficamos amigos. Eu estava doido de ansiedade para contar a ela sobre o garoto novo da minha sala, já que ainda não tinha tido a oportunidade antes.

Excepcionalmente, naquele dia eu passei a maior parte do tempo falando, o que era raro, geralmente eu mais ouvia do que falava, mas dessa vez eu tinha uma coisa boa pra falar. Queria dividir meu encanto com alguém e por pra fora tudo o que estava sentindo e desejando naquele momento. Contei à ela que Christiano era extremamente lindo, que era muito educado sem parecer forçado e que além de tudo era um cara muito gente boa e aparentemente sem preconceito algum.

– Então você está apaixonado? – disse ela.

– Eu não disse isso.

– É claro que está. Tenta se ouvir e analisa a situação. Você está caidinho por ele.

– Não. Eu o conheci faz pouquíssimos dias, Mary. Você sabe que não sou de dizer que estou apaixonado por alguém que acabei de conhecer.

– Meu amigo, você está confundindo as coisas. Amor é uma coisa, paixão é outra – ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e prosseguiu. –, e diferente de amor, a paixão pode nascer no dia em que você conhece tal pessoa. Paixão é aquela coisa frenética que você sente ao ver a pessoa, é aquele desejo louco de beijar e enfim, mil e outras coisas mais. Paixão não tem regra, pode nascer hoje e morrer amanhã. Há quem não acredite, mas eu acredito e você também. Além do mais, é da paixão que nasce o amor.

– Eu não quero estar apaixonado. – eu disse me jogando na cama e olhando pro teto. – Ainda mais sendo gay.

– Ué – Mary se deitou de barriga pra cima como eu. –, e o que sua sexualidade tem a ver com isso?

– Tudo. Você não tem noção de como é ruim se apaixonar na minha condição. É sempre a mesma coisa. O gay se apaixona pelo cara, mas esse cara é heterossexual e obviamente não sente o mesmo, ou seja, é horrível. Sem falar que essa história só tem duas possibilidades de fim. A primeira: o gay diz o que sente para o heterossexual e a amizade acaba, pois o heterossexual não quer um gay o desejando e olhando pra ele com outros olhos.

– E o outro fim?

– A outra possibilidade é a seguinte: O gay jamais diz o que sente para o heterossexual, o heterossexual como não sabe de nada continua sendo um ótimo amigo, o que faz com que o gay se apaixone mais ainda e assim o gay sofre em casa todos os dias por não poder realizar seu desejo de romance.

– Nossa, você faz isso parecer uma tragédia completa. – disse ela com a voz arrastada.

– Mas é uma tragédia completa.

– Já parou pra pensar que ele pode gostar de você também. – virei o rosto pra olhar bem em seus olhos e esperei ela perceber que havia falado besteira. – O que foi? Isso as vezes acontece.

– Não acontece e se um dia acontecer, com certeza não vai ser comigo.

– Iiiih, mas que pessimismo hein. – ela se levantou e foi para o computador. – Deixa esses pensamentos pra lá por enquanto e vem me mostrar as fotos desse deus grego que você tanto fala. Quero ver se ele é bonito mesmo.

– Ele ta no meu facebook, entra aí.

– Vocês está fazendo tanto alarde por causa desse cara que to até com medo de ele nem ser tão bonito assim.

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