Capítulo 32

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...

Na sexta-feira Christiano não me chamou para sua casa depois da escola, também não almoçamos juntos e nem fizemos nada durante a tarde. Imaginei que nós estivéssemos nos vendo muito e que ele quisesse desacelerar para que não corresse o risco de acabar dando errado, mas
no comecinho da noite ele me telefonou depois de tantas horas longe.

– Já está arrumado? – disse ele assim que eu atendi.
– Arrumado para o que?
– Está arrumado ou não? – a voz dele estava tão divertida que acabei sorrindo só de imaginar aquela cara de moleque malandro.
– Não. Estou em casa e com roupa de ficar em casa. Mas por quê? Você está meio doido hoje, não é?
– Então se arruma. Nós vamos sair hoje.
– Vamos?
– Sim! De acordo com as estrelas, nosso primeiro encontro oficial está marcado para hoje, daqui a mais ou menos... Humm... Uma hora.
– Você é um bobo mesmo. – eu disse rindo e já abrindo meu armário.
– Não sou nada. – ouvi sua risada abafada pelo telefone. – E então, está preparado para o seu primeiro encontro?
– Me preparei durante todos esses anos para esse dia.
– Então eu te busco daqui a quarenta minutos, pode ser?
– Ok.
– Até daqui a pouco.
– Chris?
– Oi.
– Aonde nós vamos? Preciso saber como me vestir?
– Ah – imaginei-o dando de ombros. –, vista qualquer coisa simples e vai ficar bem.
– Uma calça jeans, camiseta e uma jaqueta?
– Vai ficar show.
– Então beleza. Até daqui a pouco.

Desliguei o celular e o joguei na cama. Coloquei algumas músicas pra tocar e fui para o chuveiro tomar banho e me trocar pro meu primeiro encontro.
Eu já tinha saído com Christiano, já tinha ido ao cinema, já tinha ido a praia e para mais outros lugares, mas nenhuma dessas vezes poderia ser considerada um encontro, pelo simples  fato de todas essas outras saídas terem sido apenas passeios amigáveis. E eu estava feliz como um bobo da corte, porque isso era tudo o que eu sempre desejei desde muito novo, sempre quis poder ter um encontro romântico como as pessoas tem com seus namorados e namoradas, sempre quis ter alguém pra chamar de meu, alguém pra beijar, alguém pra me fazer feliz todos os dias, mas o
que antes era considerado extremamente difícil de conseguir, hoje era realidade.
Fiz a barba depois do banho, vesti minha melhor calça jeans, calcei meu tênis mais maneiro, uma camisa branca e uma jaqueta escura por cima, pois a noite estava fria. Fui até o armário da minha mãe e peguei emprestado um creme hidratante para a pele, borrifei o perfume mais caro e
mais cheiroso que havia na casa e enfim estava pronto.

– Vai todo lindo e cheiroso assim para onde? – perguntou minha mãe olhando para mim da cabeça aos pés por cima dos óculos de grau.
– Vou sair com uma amiga daqui a pouco.
– Tem dinheiro?
– Caraca! – coloquei as mãos nos bolsos da calça instintivamente, mesmo sabendo que jamais acharia dinheiro ali dentro. – Não tenho um tostão.
– Imaginei. – disse ela rindo e me entregando o cartão que estava dentro de seu bolso. – Leva o cartão do seu pai, mas não extrapole hein!
– Gastarei com consciência, pode deixar. – meu celular apitou. – Tenho que ir agora.
– Vai lá, meu filho. – ela beijou minha bochecha. – Você está simplesmente lindo e muito cheiroso.
– Essa era a intenção. – sorri. – Tchau pai.
– Divirta-se. Tchau. – respondeu ele acenando do sofá.

Só quando estava dentro do elevador que peguei o celular para ler a mensagem do Christiano que dizia: "Já estou aqui em baixo te esperando. Não demore!". Quando saí do elevador já pude ver o táxi parado na frente do prédio. Christiano estava lindo, mais do que o normal. Seu cabelo estava com gel e penteado para trás e brilhava tanto quanto seus olhos. Ele também vestia uma jaqueta preta, mas de algum jeito ele ficava muito melhor nela do que qualquer outra pessoa. Seu sorriso foi imediato assim que me viu e quando cheguei perto recebi um abraço tímido, talvez por estarmos na frente do meu prédio, e de uma maneira muito discreta ele abriu a porta do táxi para que eu entrasse.

– Não quis te levar em um restaurante muito fino, porque eu sinceramente não sabia se você iria curtir, mas eu sei que você gosta bastante de pizza e massa. – disse Christiano se sentando. – Então quis vir num rodízio de pizza e massa, mas é claro que pesquisei bastante pra achar um rodízio mais chique.
– Christiano, está tudo perfeito. Não teria lugar melhor pra me trazer.
– Então espero que goste. – ele sorriu. – Lá vem a primeira pizza.

Aquele foi um baita encontro romântico. Conversamos tanto que achei que depois daquele rodízio nós não teríamos mais nada para conversar durante um bom tempo, mas a cada assunto que brotava, outro começava a nascer e mais outro e outro e por aí vai. Rimos até nossa barriga pedir arrego e algumas vezes as pessoas ao redor nos olhavam com um sorriso no rosto ao ver nossa felicidade eminente. A noite não tinha como ficar melhor, nós parecíamos duas crianças em sua primeira viagem à Disneylândia, mas nós estávamos apenas sentados num rodízio.
Depois de uma das crises de risos eu tentei recuperar o fôlego e sequei os olhos que estavam lacrimejando. Senti minha outra mão que estava em cima da mesa se esquentar.
Christiano estava a segurando e me olhava de um jeito tão dócil que tudo o que eu consegui fazer foi encará-lo de volta.

– Marcos, eu sei que você já foi machucado de verdade nesse jogo de sedução, sei que você nunca saiu muito bem de coisas desse tipo e também sei que talvez você pense que pra mim isso tudo seja um passatempo ou uma fase de confusão em minha mente. Eu já lhe disse que estou
apaixonado por você e cara, eu jamais falaria uma coisa dessas se eu não estivesse sentindo. – ele fez uma pausa e respirou fundo.
– E porque está falando disso, assim do nada? – eu disse apertando sua mão.
– Eu gosto das coisas bem transparentes, gosto de trabalhar com a verdade e pra que eu chegue nela eu preciso de um tempo até ter certeza de que a verdade é de fato a verdade e não uma verdade somente do momento. Hoje eu cheguei a conclusão de que tenho certeza do que eu quero e então eu posso dar o próximo passo. – ele soltou minha mão e sorriu. – Eu estou enrolando demais, não é? Eu quero que você seja meu namorado, Marcos. E eu não me importo com o que as pessoas da escola vão falar.

Meu pulmão encheu de ar na mesma hora e eu não soube o que dizer. Minha sobrancelha tremeu sozinha e eu tentei respirar melhor.

– Marcos?
– Eu não sei o que dizer. – sorri.
– Você quer ser meu namorado?
– É obvio que sim. É tudo que eu mais quero!

Christiano levantou da cadeira e se inclinou na minha direção. Beijou meus lábios num selinho demorado e não se importou com os olhares curiosos se formando a nossa volta.

– Prometo ser o melhor pra você e te dar tudo o que você merece.

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