Capítulo 49

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– Pessoal, eu tenho uma coisa pra contar. – disse Christiano chamando a atenção dos amigos.
– Vocês vão se casar? – disse Lucas e todos riram. Menos eu e Christiano.
– Bem que eu queria! – disse ele me olhando nos olhos. – Eu ia contar assim que chegamos aqui, mas quis esperar todo mundo comer bastante primeiro.
– Então pode falar. – disse Fernando. – Eu estou indo morar no Canadá.

De repente a nossa mesa adotou um silêncio terrível e os olhares vieram todos para mim. Tentei aguentar e pela primeira vez, nas últimas horas, eu consegui não chorar.

– Tá maluco? – disse Fernando.
– Como assim, Christiano? – disse Fernanda.
– Mas e... – Carla tentou falar, mas eu a interrompi.
– Eu vou ficar aqui. – eu disse olhando para o prato sujo a minha frente.
– Ah não! – reclamou Fernanda.
– E então vai ser assim? Cada um em um país? – perguntou Lucas.
– É! Nós já conversamos sobre isso e já decidimos o que fazer. Só quisemos marcar esse rodízio para contar a vocês. – eu disse. – Mas vamos voltar a comer e falar sobre outras coisas.
– Verdade! Não é hora de ficar triste. – disse Lucas.
– Christiano – disse Fernando se levantando. –, chega aí. Quero desenrolar um papo contigo lá fora.
– Fernando... – segurei na manga de sua jaqueta.
– Estou de boa, Marcos. Só quero falar com ele. Posso?

Os dois foram para fora do restaurante e tentei não olhar para eles na tentativa de saber o que estavam falando.
Todos nós demoramos um pouco para retomar a alegria de antes, mas depois de um tempo nós conseguimos voltar a aproveitar a noite que tinha acabado de começar. Depois do rodízio nós fomos para a praia e acendemos uma fogueira na tentativa de fazer algo legal e digno de filme americano. Ficamos lá por um bom tempo, até que cada um foi indo para sua casa e no fim só restou eu e Christiano, que mais uma vez planejávamos passar a noite acordados.
Aqueles eram os meus últimos momentos com ele e meu estômago embrulhava toda vez que lembrava que a cada segundo o meu tempo ao seu lado diminuía. As vezes a gente nem falava nada, apenas ficávamos nos olhando durante um longo tempo.

– O que Fernando queria falar contigo?
– Nada!
– Duvido que ele tenha te chamado para não falar nada. Me conta.
– Deixa de ser curioso.
– Eu só quero saber.
– Mas não vai saber. – ele apertou a ponta do meu nariz e riu. – Você só precisa saber de uma coisa. Na verdade duas... – O que?
– Fernando não bate muito bem da cabeça...
– Disso eu sei desde sempre. – eu disse rindo. – Ele é maluco, mas faz parte do charme. Qual a outra coisa que eu preciso saber dele?
– Ele se importa com você. – ele me olhou nos olhos. – Muito mais do que você possa imaginar. Acho que ele deve ter sido alguém muito importante na sua vida passada...
– Você gostou mesmo dessa teoria de vidas passadas e as pessoas que conhecemos, hein?
– Eu gosto de tudo o que você me ensina. – disse ele com um sorriso sincero no rosto.

§

– Você é um filho da puta! – disse Fernando apontando o dedo para mim.
– Eu sei disso. Eu sei.
– Não! Você não sabe, mano. Você não sabe e não tem noção do que está fazendo com o Marcos. Eu te falei no começo dessa merda toda que eu não queria que você partisse o coração dele e agora você faz exatamente o que eu te disse pra não fazer.
– Não é culpa minha, Fernando. Eu não quero ir, nunca quis... – eu disse tentando explicar. Senti as lágrimas quererem se libertar.
– A culpa é sua sim. Você vai embora e ele vai ficar aqui. Você pode achar que eu não passo de um moleque marrento e que não me importo com ninguém, mas eu me importo com o Marcos. É uma das poucas pessoas com quem me importo, mesmo eu não sendo muito presente na vida dele. Eu amo aquele moleque, Christiano. – Fernando apertou os lábios e respirou fundo. Por uma fração de segundo eu achei que ele fosse chorar, mas ele logo voltou ao seu normal. – Eu amo como meu amigo. E não suporto a ideia de um cara chegar aqui e fazer uma bagunça na vida dele e depois simplesmente o largar.
– Fernando, eu nunca quis machucá-lo.
– Cala a boca e me deixa falar... Você não vai encontrar ninguém como ele, Christiano. Eu já te disse isso e repito. Eu não preciso falar com ele todos os dias, não preciso frequentar a casa dele e nem nada disso pra saber que ele gosta muito de você. E eu sei que ele anda chorando, e muito. Está estampado na cara dele. E mano – Fernando deu dois passos pra trás e passou a mão no rosto. Nervoso e impaciente, ele virou seu boné para trás. –, a minha vontade é de te dar um soco na cara.
– Pode me bater. – eu disse abrindo os braços. – Você acha que não me parte o coração ter que ir embora? Você acha que eu estou feliz com isso? Nenhum soco na cara vai conseguir ser tão doloroso quanto o que eu sinto quando penso que vou para longe.
– Você não tem nem noção do quanto eu quero te meter a porrada e arrebentar essa tua cara de boneco.

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