Já estávamos no final do terceiro tempo de aula quando o aluno novo foi até a mesa do professor para falar algo. Enquanto ele estava falando com o professor eu me arrisquei em olhar bem pra ele, aproveitando o tempinho que estava disponível ali sem que ele olhasse de volta.
Ele era bem mais alto que eu, isso eu podia perceber mesmo um pouco distante e seu corpo era bem... Digamos que bem, distribuído, o que não era muito comum de se ver, já que nosso uniforme não valorizava corpo nenhum.
Meu tempo de observação terminou assim que ele se retirou e veio caminhando para o fundo da sala. Esperei ele passar por mim indo para seu lugar, mas ele parou e sentou na cadeira ao meu lado. Olhei pra ele, agora muito bem, e me desconcertei na mesma hora. Seu rosto era tão amigável que me deixava até desconfortável. Sua pele clara fazia um contraste bonito com a boca rosada e carnuda que parecia ter sido desenhada delicadamente. Seus olhos eram de um castanho claro hipnotizante, bem daquele jeito que a gente quer passar longos minutos apreciando, e seu cabelo escuro era levemente ondulado e bagunçado caindo sobre a testa.
– Oi – disse ele.
– Olá. – eu disse tentando esconder a vergonha.
– Qual o seu nome? – disse ele. Sua voz soou tão grossa dessa vez que eu tive a impressão de ouvi-la ecoar em minha mente.
– Marcos e o seu?
– Christiano! Prazer. – Apertamos nossas mãos. – Pô cara, to vendo que não vai ter mais aula, não é?!
– É o que parece. – respondi.
– Você estuda aqui desde o ano passado?
Aquela conversa parecia tão estranha pra mim. A primeira impressão que tive quando o vi sozinho mexendo no celular era de que timidez fosse sua principal característica, mas pelo visto eu tinha me enganado. Ele falava comigo entusiasmado com um tom de voz amigável como se já me conhecesse. Sua simpatia espontânea era um ótimo cartão-postal, mas eu me sentia desconcertado ao lado dele por dois motivos: ele era bonito demais e era daquele tipo de pessoa que conversa olhando fixamente para os olhos do outro. Então eu estava pra fazer minha cabeça explodir, pois sua beleza era cativante e me fazia querer admirar mais e seu olhar fixo no meu me deixava com vergonha e assim eu não sabia pra onde olhar ao certo.
– Sim, já sou antigo aqui na escola. – respondi.
– Imaginei. Te vi falando com vários alunos aqui. Deve ter bastante amigos então... – disse ele e em seguida seus olhos voltaram a fixar nos meus.
– Que nada! Tenho pouquíssimos amigos pra falar a verdade, a maioria eu só cumprimento por educação mesmo. – Tentei olhar por mais tempo, mas não consegui. Desviei o olhar. – E você, porque só começou o ano letivo agora? Ou você veio pra cá transferido?
– Ah, eu só comecei a estudar agora mesmo. Perdi alguns dias, não é?! – sua boca esticou um sorriso bonito. – Eu morava em Ipanema, mas meus pais compraram um apartamento aqui perto.
– É uma escolha e tanto.
– Como assim?
– Escolher morar no Catete ao invés de continuar em Ipanema. – eu disse. – Ipanema é o sonho de consumo de muita gente.
– Verdade, mas sabe como é né, sou filho, tudo que tenho que fazer é aceitar as mudanças dos meus pais. – ele sorriu mais uma vez e eu não pude conter o meu. Acabei sorrindo junto enquanto meus olhos estavam hipnotizados naqueles lábios. – E você curte o que?
– Hm... Depende em que sentido você quer saber. Gosto de muita coisa.
– Ah sei lá, me diz o que você quiser que eu saiba. Pode ser sobre música, esporte, balada, sexo... Você escolhe.
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O Amigo
Romance[EM REVISÃO] O romance O Amigo conta a história de Marcos e Christiano, que se conhecem na escola durante o ensino médio. Christiano é hétero, mas logo se vê atraído por Marcos e até tenta fugir, mas o desejo fala mais alto e os dois logo se envolve...