Capítulo 38

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– Oi. – eu disse.
– Olá! – disse ele estreitando levemente os olhos e sorrindo um pouco. – Quem é você?
– Sou o Marcos. Você quer falar com Christiano?
– Isso. Sou irmão dele. Ele está aí?
– Está sim. Entra.

O irmão de Christiano passou por mim e então eu fechei a porta. Christiano já estava em pé na sala e sorriu quando me olhou. Eles se abraçaram e eu fui para a cozinha beber um pouco de água pra tentar me tranquilizar um pouco e desejei não ter aberto a porta e ter me escondido debaixo da cama.

– Ei cara – disse o irmão apontando para a bota ortopédica. –, o que você arranjou aí?
– Fui atropelado de leve quando estava andando de skate lá em baixo
– E você nem me liga pra avisar, cara. Ainda mais agora que está sozinho aqui.
– Não foi nada demais, daqui a pouco eu já tiro isso do pé, e Marcos está me ajudando.
– Ah sim! – ele olhou para mim. –, me desculpa, acabei não me apresentando. Meu nome é Phelipe.
– É um prazer. – eu disse apertando sua mão macia.
– Quando que você foi atropelado? – perguntou Phelipe arrastando um banco para o meio da sala para se sentar de frente para Christiano que estava sentado no sofá.
– Aconteceu ontem depois das aulas
– Você podia ter me ligado, Christiano.
– Não precisava te ligar, você está sempre cheio de coisa pra fazer, cara. Marcos me ajudou a voltar pra casa e ligou pro plano de saúde.
– Entendi. – Phelipe fez uma pequena pausa e então olhou para mim. – E você Marcos, é da escola?
– Sou da mesma turma que Christiano.
– Ah, acho que Christiano já comentou sobre você para nós daqui de casa.
– É? – perguntei surpreso, olhando para Christiano.
– Não falou muito, mas lembro de ter comentado sobre um amigo chamado Marcos. – Phelipe sorriu e depois se voltou para Christiano. – Mano, eu vim aqui porque precisava conversar com você.
– Ah, então eu acho melhor ir pra casa. Vou deixar vocês conversarem melhor. – eu disse.
– Não. Você fica aqui. – disse Christiano segurando meu pulso. Por dois segundos ele esqueceu que Phelipe esta ali nos olhando e depois rapidamente soltou meu braço.
– Você pode ficar aqui, Marcos. Não tem problema.
– Vocês precisam conversar e não acho certo eu ficar no meio da conversa.
– Você não vai embora. Eu estou machucado. – disse Christiano.
– Você mesmo estava dizendo que está muito bem.
– Era mentira! Preciso de alguém comigo depois que Phelipe for embora.
– Fica aqui. – disse Phelipe rindo com a reação de Christiano. – Acho até melhor. Sente aí no sofá.
– Sossega aqui. – sussurrou Christiano. – Está tudo bem.
– Tenho duas coisas pra falar. A primeira é que estou de mudança para Brasília.
– Sério? Vai ficar mais perto da Dani, não é?
– É, e eu trabalho mais lá do que aqui também, então vai ser bom para mim, mas isso a gente fala melhor depois. O que realmente me trouxe aqui é outro assunto... Sua ex namorada passou lá em casa pra conversar comigo e... – ele deu uma pausa e fez uma careta. – Não entendi o porquê de ela ir lá conversar comigo, já que eu não tenho nada a ver com o término de vocês.
– Puta merda. – resmungou Christiano jogando a cabeça para trás e massageando a testa.
– Ela me contou que você é gay.

A sensação que tive foi de que todos os meus músculos estavam contraídos da forma mais intensa possível, meu estômago embrulhou e tive a impressão de que podia ouvi-lo resmungar como se algo vivo estivesse dentro dele. Eu não precisava olhar para Christiano pra saber que ele estava tenso, se pra mim aquilo estava sendo um terror, para ele o sentimento não deveria nem ter nome ainda.

– Vo-você... – gaguejou Christiano.
– Não! Eu não contei para o papai e nem pra mãe.

Christiano repousou suas costas no sofá com um suspiro incrivelmente aliviado e não falou mais nada. O silêncio estava mais para algo ensurdecedor do que para calmaria e Christiano ainda estava branco feito um papel, me deixando completamente mais tenso e preocupado com o que poderia acontecer depois daquela conversa. Eu não conhecia Phelipe e não sabia o que ele achava de tudo aquilo.

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