Capítulo 34

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– Marcos! Marcos acorda. Anda Marcos, acorda... – ouvi aquela voz desesperada ganhar força e se tornar mais alta.

Abri meus olhos.

Olhei para Christiano que me segurava no chão e depois olhei para o lado. Nós estávamos na rua, exatamente onde eu havia caído e eu tive a impressão de ter dormido a noite inteira.

– Oi Chris... – murmurei.
– Ai Marcos, o que aconteceu cara? – seus olhos estavam tão confusos que mal conseguiam se fixar em algo. – Puta merda, fiquei tão preocupado.

Ele encostou seu rosto no meu e depois voltou a olhar pra mim com os olhos avermelhados e cheios de lágrimas.

– O Gustavo veio aqui... – tentei dizer.
– Filho da puta! Eu vou matar aquele... – Christiano se deteve e respirou fundo. Beijou minha testa. – Fica de pé. Vou te levar pra casa.
– Ai, ai, ai... Meu joelho.

No mesmo segundo Christiano me pegou no colo, me fazendo levar um susto. Meus olhos começaram a arder com aquele vento frio e o sono voltou...

– Por favor, Marcos. Não dorme! – suplicou ele.
– Eu estou com sono.
– Eu sei, mas não fecha os olhos não, por favor. Tenta ficar acordado até chegar em casa. Nós já estamos chegando.
– Estou no meu máximo.
– Tenta só mais um pouco. Conversa comigo.
– Minha cabeça...
– Eu sei, eu sei... Já vamos chegar. Vou cuidar de você. – disse ele agora mantendo a voz firme, mas falava como se eu fosse uma criança. – Eu fiquei lá em casa pensando em uma coisa pra fazer com você no fim do ano. A gente precisa conversar sobre isso, então não dorme. Você vai gostar da ideia.
...
– O que aconteceu? – disse uma voz diferente e só então eu abri os olhos.
– Interfona para a mãe dele e diz que estou subindo com ele. Meu nome é Christiano.
– Meu deus! Suba logo. Vá.

Nós estávamos dentro do elevador. A iluminação forte me deixava tonto e estava tudo tão frio que não demoraria muito para eu começar a tremer, mas a testa do Christiano estava ensopada de suor como se ele tivesse voltado de uma corrida.

– Meu Deus o que foi isso? – disse minha mãe com uma voz estridente.

Christiano não disse nada e eu percebi o pânico em sua expressão. Com certeza ele não queria conhecer meus pais numa situação daquelas. Meu pai pediu pra que ele me levasse pra dentro de casa e a cada passo veloz que Christiano dava, minha cabeça latejava.

– O que aconteceu? – perguntou minha mãe quando eu já estava deitado no sofá.
– Ele estava vindo pra casa e um cara bateu nele. – disse Christiano com a voz trêmula. – Meu deus do céu. – ela passou a mão em meu rosto.
– Você está bem, meu amor?
– Estou. – respondi.
– Qual é o seu nome mesmo? – perguntou minha mãe.
– Christiano. Eu estudo com o Marcos...
– Que Deus te abençoe. – disse minha mãe chorando. – Muito obrigado meu filho, serei grata eternamente por ter ajudado ele.

Um dos nossos vizinhos apareceu lá em casa e me pediu para ficar sentado. Ele me examinou rapidamente e então tranquilizou os meus pais dizendo que eu estava bem e que estava apenas machucado e cansado, que deveria fazer curativos nos machucados, beber água e descansar. Não quis prestar atenção em nada do que eles falavam e cochilei de novo e quando acordei, eu ainda estava naquela noite que parecia não acabar nunca. Christiano estava na minha frente segurando minha mão e sorriu assim que abri os olhos.

– Christiano meu filho, você quer alguma coisa, quer comer algo?
– Não, obrigado, estou bem!
– Marcos – disse minha mãe chorando. –, você está bem?
– Estou. Pode relaxar, eu me sinto melhor.
– Christiano, durma aqui. Não deixarei você sair pela rua uma hora dessas. Ligue para seus pais e diga que ficará aqui.
– Obrigado! Se não for incomodo eu aceito.
– Você vai precisar dormir na cama do Marcos. Ela é de casal, mas se preferir pode deitar aqui no sofá.
– Sem problemas.
– Vocês podem deitar cada um com a cabeça pra um lado. – disse meu pai. – Você consegue ficar em pé filho?
– Aham. – afirmei mesmo sem saber se realmente conseguiria.
– Não, eu o levo. O médico disse que não é bom ele fazer esforço.

– Será que não é melhor levar ele no médico? – disse minha mãe na porta do quarto.
– O Saulo não já disse que ele está bem?! Então, ele vai melhorar, só está dolorido. – disse meu pai.
– Tudo bem. Como irei fazer amanhã? Não posso ficar em casa e não posso deixá-lo sozinho aqui. Vou ligar pro Celso e falar que tenho que ficar em casa. – disse minha mãe passando a mão na testa.
– Eu posso tentar chegar mais cedo, mas não... – disse meu pai, mas Christiano o interrompeu.
– Não se preocupe, eu posso ficar aqui com ele. – disse Christiano coçando o olho. – Se vocês deixarem.
– Mas e seus pais, eles não vão gostar... – disse minha mãe.
– Meus pais estão viajando.
– Se você puder ficar com ele eu agradeço, eu realmente não posso ficar em casa amanhã, eu sei que ele estará melhor amanhã, mas não queria deixá-lo sozinho.
– OK, vamos dormir agora, amor. – disse meu pai segurando minha mãe pelo braço. Ele sabia que minha mãe falava pelos cotovelos quando estava nervosa.

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