O Amigo

Capítulo 33

Christiano tinha me pedido em namoro durante o nosso primeiro encontro e eu não poderia estar mais feliz naquela noite. Saímos do restaurante de rodízio e decidimos ir pra casa andando, mesmo o caminho sendo longo. Conversamos durante todo o caminho e o tempo parecia estar a nosso favor. Rimos mais um bocado de vezes no meio da rua deserta e até paramos pra sentar em um parque vazio só pra descansar um pouco de tanta risada. Christiano parecia ler minha mente em vários momentos da noite, ele me olhava nos olhos nos momentos mais que certos, falava as coisas no momento que eu queria ouvir e me fazia rir nas horas certas. Num determinado momento eu desejei poder andar de mãos dadas com ele, dez minutos depois ele esbarrou sua
mão na minha, a segurou firme e assim andamos por vários minutos.
Chegando perto de casa, Christiano me puxou pro meio da rua deserta e se deitou no chão como se fosse maluco. Ninguém em sã consciência deitaria no meio da rua, mesmo que ela estivesse deserta.

– Pirou de vez? – perguntei.
– Eu não disse que te daria um romance de filme? – disse ele depois de colocar suas duas mãos embaixo da cabeça. – Deita aí.
– Você é maluco. Alguém vai te atropelar. – protestei, mas já estava me sentando ao seu lado.
– Deita logo! A vista está maravilhosa. – ele me puxou levemente para que eu deitasse do seu lado. – Olha pro céu e tente não dar importância para as luzes dos postes... O céu fica tão estrelado.

Me deitei ao seu lado e olhei para o céu estrelado. As luzes artificiais atrapalharam um pouco, mas olhando fixamente para as estrelas era como se a luminosidade alheia diminuísse aos montes. E a vista era realmente maravilhosa, como havia dito Christiano.

– Você acredita em vida após morte? – perguntou ele e pude ver seu rosto virando para mim, mas continuei com meus olhos nas estrelas.
– Sim. Acredito que nós morremos e nosso espírito vai pra algum lugar para esperar a próxima oportunidade de voltar para a terra e assim tentar ser uma pessoa melhor... E isso só termina quando nosso espírito se torna puro e cheio de bondade, depois de muitas coisas boas feitas em vida nós finalmente ficamos nesse 'outro lugar' para sempre junto com os outros que também são extremamente evoluídos de tão bons.
– Fala mais um pouco... – sussurrou ele.
– Nós só estamos aqui na terra porque erramos na vida passada. Acredito que é tudo um jogo de bondade. Viva e faça o bem para o próximo, assim o espírito evolui mais a cada vida até o dia em que ele desencarna e volta para o seu verdadeiro lar junto das pessoas que ama. E essas pessoas desse lar são as pessoas que cruzam nas nossas vidas em terra.
– Não sei se entendi...
– Eu acredito que todas as pessoas que estão nessa minha vida agora, também estarão na minha próxima vida. Nem sempre com o mesmo parentesco, mas sempre em minha vida.
– Então isso quer dizer que todos da sua família e todos que você conhece, estavam com você na vida passada, mas não necessariamente com o mesmo grau de parentesco?
– Isso! – murmurei. Repensei no que havia dito e sorri. – Parece maluquice, mas eu acredito nisso.
– Qualquer teoria sobre a vida e a morte parece maluquice, mas a sua me pareceu bem real e interessante. Na verdade me pareceu uma teoria muito bonita sobre a vida. E talvez essa seja a explicação para a sensação de te conhecer a tempos.
– De verdade?
– Falo a verdade. Pra mim fez todo sentido. – finalmente olhei pra ele. – Então isso quer dizer que vou te encontrar de novo depois dessa vida. Isso é bom!
– É muito bom.
– E porque será que seu espírito veio homossexual e o meu não? Já que nós já estávamos destinados a nos encontrar e ter a relação que temos?
– Não tem aquele ditado que diz que Deus escreve por linhas tortas? Então, deve ser isso. Essa pequena complicação talvez só seja a prova de que nós realmente estávamos destinados a nos encontrar independente da situação de cada um. – o silêncio tomou conta de nós enquanto minhas palavras eram absorvidas.
– Você é demais! Eu deveria ter te encontrado antes.
– Obrigado. – sorri e então me sentei.
– Por mim eu ficaria aqui deitado contigo por mais no mínimo duas horas. – disse Christiano depois de se sentar também.
– Eu também, mas preciso ir pra casa hoje.
– Não vai dormir comigo hoje?
– Hoje não, Chris. Tenho que dormir em casa hoje.  - estendi a mão para que ele também se levantasse.