Mel
Acordei cedo. Na verdade mal consegui dormir direito. Essa situação está acabando comigo. Ele não pode simplesmente me deixar aqui, mesmo que contra a sua vontade.
Após levarem o Zaphy do laboratório ontem, não tive mais contato com ele. Não sei se ele ainda está aqui na nave, a caminho do seu planeta ou se conseguiu fugir.
Não sei de nada!
Não tive cabeça para trabalhar na cura. Fiquei apenas enrolando, mexendo nos vidros para que aquele magrelo com o rosto machucado não percebesse. Que aliás, só me dirigiu a palavra na hora de me trazer ao meu quarto.
Prefiro assim.
Levantei da cama e segui para o meu longo banho. Decidi que não irei refazer o curativo na minha testa pois não há mais necessidade. Ainda bem que a franja cobrirá a horrorosa cicatriz que aquele imbecil me causou.
Falei um pouco com a Anne, ela me aconselhou a trancar a faculdade pois estou perdendo muita aula. Ah, se ela soubesse do porquê. Se bem que, o tanto que estou aprendendo aqui, jamais aprenderei em lugar algum. E caso eu realmente consiga colocar o procedimento dos nanorobôs em prática, serei ovacionada no mundo todo.
Talvez em outro mundo também.
Peguei o livro de biomedicina projetado pelo meu celular, tenho que tentar me distrair de algum jeito. Fiquei um bom tempo folheando-o e não prestando atenção em nada do que lia, até que a porta abriu-se e rapidamente escondi o aparelho entre as cobertas. Me sinto estar com algo valioso num bairro cheio de criminosos ou sendo a criminosa, toda vez que faço isso.
Então uma certa ET entrou.
— O que você quer aqui? — falei calma, mas soou um pouco agressivo.
Ela caminhou pelo quarto, olhando com repulsa para os lados.
— Está satisfeita com a desavença que criou entre pai e filho? — disse após cruzar os braços e se aproximar mais um pouco.
— Eu? — Dei risada.
— Se não tivesse se oferecido ao príncipe, ele ainda estaria conosco.
Agora sei que ele não está mais na nave. Porém pelo pouco tempo, não deve estar muito longe.
Afinal, são seiscentos e poucos anos-luz até lá.
Bom, eu espero estar certa.
Preferi não respondê-la. Não estou nem um pouco interessada em discutir neste momento. Levantei e caminhei até o banheiro, para não ficar no mesmo ambiente que ela. Mas a ET veio logo atrás, parando sob a entrada.
— Até para ele que não pode ver uma fêmea, isso foi muito baixo. Para não dizer nojento.
Essa mal comida não vai sair daqui?
— Querida, se já terminou pode ir embora. — Fiz um gesto com a mão.
Ela me olhou irritada e aproximou-se um passo. Mas não tenho tempo pra ela. Sentei na tampa flutuante do vaso e fingi que ela nem está aqui. Preciso pensar em uma forma de convencer o Rei a trazer o Zaphy de volta.
Pensa, Melanie!
— Uma pergunta... — Ela começou a enrolar uma mecha de cabelo no dedo. — Quando ele te levava ao quarto dele, você pedia para trocar os tecidos da cama? Se não pedia, deveria. — Virou-se e seguiu para fora do banheiro. — Eu sempre pedia, nunca se sabe quem passou por lá antes. Não é mesmo?
Que vagabunda peçonhenta!
— Por que você não deixa o pé na bunda de lado e vai atrás de outro? — Saí do banheiro e me recostei na porta dele. — Apenas supere.
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620 Anos-Luz [COMPLETO]
RomanceJá parou para pensar que o fato de você ainda não ter encontrado a sua alma gêmea seja porquê ela nasceu em um outro Sistema Solar, a 620 anos-luz de distância e na pele de uma criatura diferente, com outros costumes e outra forma de pensar? De um l...