Capítulo 44 - Vai levantar ou terei que te arrastar?

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Batidas desesperadas na porta, invadiram o quarto do Zaphy. Se for aquela vaca eu juro por Deus que arranco aqueles olhos de demônio com a unha.

Olhei para o lado, me deparando com Zaphy deitado de bruços. Fiquei paralisada admirando suas costas perfeitamente trabalhadas, nuas e iluminadas pelo sol, até que as pancadas na porta me puxaram para a vida real.

— Ei, acorde... — Balancei ele pelo ombro.

— Me deixe dormir, terráquea — sua voz saiu mole e preguiçosa.

Porém, as batidas incessantes soavam como um estrondo no quarto. Como ele não estava ouvindo?

— Zaphy, a porta. — Tornei a balançá-lo.

— Não sou surdo. Fique quieta e seja quem for, logo se cansa — murmurou.

Tenho lá as minhas dúvidas quanto a isso.

De todo modo, voltei a me acomodar da cama. Entretanto, os socos na porta ficaram ainda mais fortes e frenéticos.

Será que a nave estava caindo ou sendo invadida?

Zaphy resmungou algo que não entendi antes de sentar-se na cama. Depois, balançou a cabeça e se levantou, seguindo à porta. Contudo, parou no meio do caminho para se apoiar na parede de cabeça baixa, enquanto esfregava os olhos.

Que malvadeza tirar meu alien da cama, tão tonto de sono.

Me obriguei a sentar na cama quando ele chegou à porta, a fim de poder ver quem era o autor das marteladas. Então, após ele ser revelado, Zaphy simplesmente deu meia volta, retornou à cama e desabou, novamente de bruços ao meu lado, tornando a me enfeitiçar com suas costas maravilhosas e também com seu lindo rosto, que no momento, estava virado para mim.

Levei minha mão até seus cabelos, iniciando um cafuné carinhoso. Em seguida, me foquei na expressão nervosa do Nepo.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei a ele, que segurava a porta.

Ele fez que "sim" com a cabeça.

— O Rei dará uma festa para preparar os tripulantes antes de contar... Você sabe o quê. — Me lançou um olhar apertado. — E ele quer que você explique como funciona.

Percebi que ele já estava a par de tudo.

Embora eu não gostasse do pai do Zaphy, tinha que admirar a atitude de querer suavizar as coisas. Pelo menos ele se importava com a sua espécie. Se bem que era a obrigação dele, afinal, era o Rei.

— Na frente de todos? — Levei a mão ao peito assim que me lembrei da aflição que aqueles vários pares de olhos negros me causaram no dia da votação.

Do nada, Zaphy começou a tatear a cama, mas não tirei os olhos do Nepo para saber o que ele queria.

— Sim. Todos estarão na festa.

Fechei os olhos com força.

Eu consegui uma vez, posso conseguir de novo. Não sei porque fico tão nervosa em falar em público, não me considero uma pessoa tímida. Porém, acredito que até a criatura mais extrovertida do mundo, ficaria atordoada no meu lugar.

Abri os olhos depois que senti a minha mão ser tirada do meu peito, a tempo de ver o Zaphy a pegando e colocando-a sobre os seus próprios cabelos. Ah, sim... era a minha mão que ele estava procurando. Sorri e retornei com o cafuné.

— Essa festa é agora? — Me concentrei outra vez no Nepo.

Enquanto isso, o Zaphy continuava apenas respirando fundo, levantando e descendo aquelas costas cinzas com cheiro de laranja, que eu estava fazendo um esforço enorme para não morder.

620 Anos-Luz [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora