Mel
Só esperei ele sair para arremessar um dos vidros na porta.
Não admito que o Zaphy simplesmente me abandone. Ele não pode fazer isso. Não depois de ter me contaminado com seu cheiro, meu enfeitiçado com seus toques, me encantado com o seu sorriso, olhar, calor...
Eu não vou conseguir...
Segui até a minha bancada de costume e desabei sobre o banco. Cobri o rosto com as mãos para abafar o choro que voltou a me dominar. Eu nunca fui o tipo de garota sentimental, apegada e muito menos chorona. Anne sempre diz que sou uma pedra de gelo. Não sei por qual motivo estou agindo assim.
Sinto-me diferente fisicamente e emocionalmente.
Eu deveria estar feliz, aproveitar essa chance e sair logo deste inferno. Voltar para os meus estudos, família, amigos... para a minha vida real, meu mundo! Mas por que eu não quero sair daqui?
Na realidade eu quero, o que eu não quero é ficar longe dele.
Droga! O que custa o Zaphy ficar aqui? O planeta dele está praticamente dizimado. Não faz sentido ele preferir ficar lá.
Vi de canto de olho o Nepo entrar, então me recompus. Não irei chorar na frente de outro alienígena.
— É o quinto?
— Não entendi. — Mantive os olhos fixados na bancada.
— Vidro que quebrou.
— Sexto.
Estou igual o Zaphy e acabando com os vidros do laboratório. Mas danem-se os vidros.
Pausei os meus pensamentos para desenrolar as mangas do meu jaleco e poder secar as lágrimas, que não estou conseguindo conter. Acho que este isolamento me deixou carente e acabei me apegando ao Zaphy mais do que eu deveria.
Talvez no meu habitat natural, eu agiria diferente.
Tive várias desilusões amorosas, mas o que estou sentindo agora, não chega nem perto de nada do que eu já senti. Quando lembro que o conheço, segundo os meus cálculos, há apenas quinze dias, e oficialmente não tínhamos nada sério, me sinto ainda mais ridícula por estar neste estado digno de pena.
Eu só queria voltar no tempo e me impedir de entrar naquele hospital dos infernos!
— Por que você está fazendo esse som?
Que som?
Balancei a cabeça no momento que entendi.
Deve ser o som dos meus soluços. Só falta agora ele me proibir de chorar, aí sim tudo ficará perfeito.
— Não estou fazendo som algum! — respondi um pouco rude.
— Está sim. Inclusive sua voz está estranha também. — Notei que o Nepo se aproximava. — Não me diga que foi contaminada com o vírus!
Por um instante eu havia esquecido que eles não conhecem o choro.
Suspirei, funguei e limpei a garganta.
— Não se preocupe, não estou doente. — olhei para ele enquanto secava o meu rosto com ambas as mãos.
— O que é isso então? Por que está vermelha e vazando? — apontava hesitante para o meu rosto.
Sua expressão de medo e a palavra que usou para descrever o meu choro, me fez cair na gargalhada.
— É contagioso? — Nepo começou a se afastar. — Preciso pôr a máscara?
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620 Anos-Luz [COMPLETO]
RomanceJá parou para pensar que o fato de você ainda não ter encontrado a sua alma gêmea seja porquê ela nasceu em um outro Sistema Solar, a 620 anos-luz de distância e na pele de uma criatura diferente, com outros costumes e outra forma de pensar? De um l...