Capítulo 68 - Grita comigo, Mel

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Disparei aos tropeços em direção à área de tratamento dos empregados. Não havia ninguém, nem mesmo as cobaias. Até a cúpula foi removida! Então lembrei do antigo quarto dela. Embora eu não tivesse mais acesso a ele, me contentaria em apenas ouvir a sua voz. Portanto, me vi correndo outra vez pelos corredores, empurrando e desviando de quem surgisse no meu caminho. Depois de ter passado por uns quinhentos corredores, pois essa foi a sensação que tive, cheguei em frente à porta do quarto. Por força do hábito posicionei o meu olho no visor mas obviamente ela não abriu. Sendo assim bati na porta com a mão espalmada, de modo tão forte que senti a mão arder e um som alto ecoou por todo o corredor.

— Mel? Mel? — Bati na porta de novo. — Terráquea? — Abaixei a cabeça, sentindo o desespero me tomar.

Após alguns segundos me convenci de que ela realmente não estava ali e acertei aquela maldita porta com um chute antes de me decidir ir atrás de quem provavelmente havia gerado tudo aquilo.

Meu pai.

Minutos mais tarde eu já me localizava nos aposentos dele. Procurei nos banheiros, dentro dos compartimentos, embaixo da cama... Em tudo!

— Proorz! Isso não pode estar acontecendo comigo!

Enquanto eu deixava o quarto acabei batendo o pé em um dos objetos de decoração do meu pai, o que causou um xingamento aos berros. Nem pensei. O arranquei do chão e o arremessei contra o compartimento de vidro preso à parede onde ficavam guardadas as espadas da coleção dele. O som alto de estilhaços veio imediatamente. Já que eu estava sem armas, me agachei para pegar uma espada que poderia me ser útil, pois se fosse preciso eu iria matar todos até achá-la!

Entretanto, eu não conseguiria sozinho, e foi então que o nome do único que eu poderia confiar dentro daquela nave piscou na minha mente.

Nepo!

Voei para o portão Norte, local o qual ele costumava fazer a segurança, ofegante de tanto correr e envolvendo firmemente a espada com meus dedos suados, porém não demorou a eu avistá-lo concentrado em seu posto. Ao alcançá-lo, o puxei pelo braço, fazendo-o se assustar com o jeito que o abordei.

— Me ajuda a achar a terráquea pelo amor de Galru! — Foi a única coisa que pude dizer.

Nepo jogou sua arma no chão, me olhando com os olhos concentrados de uma maneira que eu nunca havia visto.

— Do que você está falando? Ela sumiu? Como ela sumiu? Quando sumiu? — Praticamente emendou uma frase na outra quase sem respirar.

— Não sei, rahtzy! Não sei! A deixei no quarto mas ela não está lá! — berrei sem perceber.

De imediato ele virou-se de costas com a cabeça baixa e as duas mãos entrelaçadas na nuca.

— Ela deve estar no Laboratório A. — Uma terceira voz se fez presente, o que me obrigou a levantar os olhos para encontrar o gordinho aproximando-se de mim e do Nepo.

Só tive tempo de sussurrar um "obrigado" a ele antes de me enfiar nos corredores mais apressado do que nunca, raspando a ponta da espada no chão branco e pouco me importando com o barulho. Acabei chegando ao Laboratório A tão alvoroçado que ao parar diante da porta derrapei no chão e tive que me segurar na borda para não escorregar e levar um tombo. Em seguida esfreguei o olho direito, por fim o centralizei no visor para...

Rir de nervoso.

O desgraçado do meu pai havia removido o meu acesso dali também! Portanto, determinado a derrubar a porta nem que fosse no soco, assisti o Nepo vim correndo do outro lado do corredor.

— Quem te... ensinou a... correr desse jeito? — Parou ao meu lado com as mãos sobre os joelhos, mal conseguindo falar.

— O desespero — assumi, para depois o levantar com a mão livre até o visor. — Agora abra a porta.

620 Anos-Luz [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora