Capítulo 47 - Acho que é doença mental

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Me afastei da terráquea com toda a minha pressa após o grito do meu pai. Assim como ela, me mantive em silêncio. Estávamos sem fôlego de qualquer jeito.

— Vá à área de comando. Estão precisando de ajuda — me disse.

Então já posso agir como um criado? Eu até ficaria feliz pensando que talvez, ele finalmente, tenha percebido o quanto a minha existência é fundamental para manter a nave funcionando. Mas isso se eu não soubesse que ele só queria me manter longe da terráquea.

— Certo. Antes só vou levá-la ao quarto. — Olhei para a Mel. — Vamos. — Fiz um sinal com a cabeça.

— Deixe que eu mesmo levo.

— Não precisa. Vamos logo, terráquea! — A puxei pelo pulso.

— Já disse que eu levo. Vá para a área de comando, é uma ordem! — berrou.

Proorz!

Dividi o meu olhar com os dois.

— Pode ir — ela falou alisando o meu braço. — Ainda não virei descartável. Ninguém além de mim sabe a dose certa que deve-se ingerir da cura sem causar uma overdose, e consequentemente, a morte.

Voltei a fitar o meu pai.

— Pai... — Fechei os olhos e respirei fundo, para tentar falar o mais calmo possível. — por favor, não faça nenhum...

— O animal selvagem e agressor aqui, não sou eu! — me interrompeu, ainda gritando.

Se existe algo que ele tenha em comum com a terráquea, é gostar de gritar.

Assenti e caminhei apressado em direção à área de comando. Quanto mais rápido eu arrumar o que eles quebraram, mais cedo volto pra ela.

— Não está esquecendo de nada? — perguntou ele, num tom mais baixo.

Virei-me, encontrando o meu pai apontando para a porta do depósito de ferramentas.

— Claro, as ferramentas. — Esfreguei os olhos. A minha preocupação com a terráquea estava acabando comigo. — Abri a porta mas não entrei, pois fiquei olhando eles seguirem para o outro lado.

E como se tivesse sentido, a terráquea olhou para trás e me enviou um "te amo" mudo, acompanhado pelo sorriso mais lindo do Universo. Sorri de volta, então ela voltou a olhar para frente, sem esperar eu responder.

Entrei no depósito de ferramentas e peguei uma peça de cada. Não tive tempo de perguntar ao meu pai qual era o defeito da vez. Em seguida, fui correndo pelos corredores. Em poucos minutos, já me encontrava na área de comando segurando a caixa cheia de ferramentas.

O gordinho estava em frente ao painel e o Dashni no manche.

Soltei a caixa no chão fazendo ecoar um som alto pelo local e os dois olharam para trás assustados com o barulho.

— Falem logo. O que vocês quebraram? — me dirigi ao gordinho. Eu não estava podendo nem encarar aquele serviçal.

— Não estamos conseguindo nivelar — respondeu ele, rapidamente.

Por que eu não consigo me lembrar do nome dele?

Passei os dedos nos olhos de novo e me aproximei do painel. Dashni se afastou no momento em que cheguei perto.

Ótimo. Gosto assim.

Olhei para o visor, notando que a linha que indicava a nivelação estava super torta. Tendo isso em vista, puxei o manche para levantar a parte da frente a qual se encontrava mais baixa do que o restante da nave.

620 Anos-Luz [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora