Capítulo 69 - Uma espada e uma arma

13.3K 1.3K 140
                                    

Não sei por quanto tempo permaneci fitando aquele líquido transparente nos meus dedos, o qual ainda me escorria pelos olhos que ardiam. Era como se tivesse areia neles e... Por que estão quentes? Proorz! Por que o meu rosto inteiro está quente? Maneei a cabeça, tomando foco do meu real problema que continuava imóvel sobre aquela maca. Os lábios sem cor, assim como toda a pele que cobria aquele rosto; seus cílios úmidos; uma mancha vermelha em seu pescoço, resultado da picada da agulha... Engoli em seco apertando os olhos intensamente e com isso, pude sentir gotas pingarem em minhas mãos, que naquele momento, segurava aquelas frias e pequenas.

Por que eu nasci amaldiçoado, Galru?

Sons de vidros sendo estraçalhados, seguidos por um barulho tão alto que deu uma pontada nos meus ouvidos, me obrigou a olhar para o motivo do estrondo. Nisso, me deparei com o Dashni rodeado de vidros e a bancada arrancada do chão, que por sua vez, se encontrava à sua frente. As mãos dele em punhos e a cabeça baixa, me fizeram encarar aquele velho para pelo menos entender o que aquele serviçal miserável estava fazendo.

No entanto, o Rei também o fitava com surpresa.

A verdade é que eu pouco me importava com aqueles dois malditos. A única coisa que piscava na minha cabeça era: vingança. E foi exatamente por isso que me abaixei para apanhar a espada, em seguida, fui na direção do mais próximo, no caso, o Dashni. Comecei a me aproximar devagar, o olhando com os olhos semi fechados e com a cabeça levemente inclinada, imaginando as formas mais brutais de matá-lo.

Tinha que ser lentamente. Quero vê-lo sofrer... agonizar... implorar pela morte!

Dashni o qual se localizava de lado, levantou a cabeça ao perceber a minha aproximação, mas não me procurou com os olhos, mantendo a atenção direcionada à parede.

— Não faça isso, principezinho. Arma ganha de espada.

— Melhor ainda. Vencer em desvantagem é uma vitória a mais.

A poucos passos dele, subi a ponta da lâmina, contudo, um segundo depois Dashni fez o mesmo com sua arma, já com todas as luzes azuis acesas, informando que só precisava de um toque para disparar. O velho gritou "Parem os dois! É uma ordem!", porém, o ignoramos.

— Por que você é tão estúpido? — iniciou, Dashni, aos berros. — Como pode não perceber uma fêmea grávida? — Deu um passo, pisando sobre alguns cacos de vidro no trajeto.

Acabei dando uma risada bem histérica. Eu me via como um verdadeiro psicopata. Não era à toa que nem raiva mais eu conseguia sentir. Estava seco por dentro.

— Agora você se importa com ela? Que bonitinho. — Olhei sorrindo e apontando a espada pro ser de cabelos brancos logo atrás. — Acho que vou te matar primeiro e deixar ele por último.

— Com ela não, só com a existência da cria, pois... — O serviçal não terminou. E eu nem me importei em saber o restante.

Mas ao ouvi-lo falar do meu filho...

Meus olhos voltaram a arder, o aperto na garganta ressurgiu e o meu peito movia-se velozmente. Soltei a espada para poder cobrir o rosto com as mãos trêmulas. Eu perdi tudo! Quando percebi já me localizava com os joelhos no chão.

— Me mata de uma vez, rahtzy! — pedi.

Nesse momento notei o som o qual informava o desligamento da arma. Era a minha chance de pegá-lo desprevenido, contudo eu realmente não me importava com mais nada. A seguir ouvi um movimento à minha direita, no entanto não quis saber do que se tratava, permanecendo na mesma posição; e soluçando.

620 Anos-Luz [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora