Não sei por quanto tempo permaneci fitando aquele líquido transparente nos meus dedos, o qual ainda me escorria pelos olhos que ardiam. Era como se tivesse areia neles e... Por que estão quentes? Proorz! Por que o meu rosto inteiro está quente? Maneei a cabeça, tomando foco do meu real problema que continuava imóvel sobre aquela maca. Os lábios sem cor, assim como toda a pele que cobria aquele rosto; seus cílios úmidos; uma mancha vermelha em seu pescoço, resultado da picada da agulha... Engoli em seco apertando os olhos intensamente e com isso, pude sentir gotas pingarem em minhas mãos, que naquele momento, segurava aquelas frias e pequenas.
Por que eu nasci amaldiçoado, Galru?
Sons de vidros sendo estraçalhados, seguidos por um barulho tão alto que deu uma pontada nos meus ouvidos, me obrigou a olhar para o motivo do estrondo. Nisso, me deparei com o Dashni rodeado de vidros e a bancada arrancada do chão, que por sua vez, se encontrava à sua frente. As mãos dele em punhos e a cabeça baixa, me fizeram encarar aquele velho para pelo menos entender o que aquele serviçal miserável estava fazendo.
No entanto, o Rei também o fitava com surpresa.
A verdade é que eu pouco me importava com aqueles dois malditos. A única coisa que piscava na minha cabeça era: vingança. E foi exatamente por isso que me abaixei para apanhar a espada, em seguida, fui na direção do mais próximo, no caso, o Dashni. Comecei a me aproximar devagar, o olhando com os olhos semi fechados e com a cabeça levemente inclinada, imaginando as formas mais brutais de matá-lo.
Tinha que ser lentamente. Quero vê-lo sofrer... agonizar... implorar pela morte!
Dashni o qual se localizava de lado, levantou a cabeça ao perceber a minha aproximação, mas não me procurou com os olhos, mantendo a atenção direcionada à parede.
— Não faça isso, principezinho. Arma ganha de espada.
— Melhor ainda. Vencer em desvantagem é uma vitória a mais.
A poucos passos dele, subi a ponta da lâmina, contudo, um segundo depois Dashni fez o mesmo com sua arma, já com todas as luzes azuis acesas, informando que só precisava de um toque para disparar. O velho gritou "Parem os dois! É uma ordem!", porém, o ignoramos.
— Por que você é tão estúpido? — iniciou, Dashni, aos berros. — Como pode não perceber uma fêmea grávida? — Deu um passo, pisando sobre alguns cacos de vidro no trajeto.
Acabei dando uma risada bem histérica. Eu me via como um verdadeiro psicopata. Não era à toa que nem raiva mais eu conseguia sentir. Estava seco por dentro.
— Agora você se importa com ela? Que bonitinho. — Olhei sorrindo e apontando a espada pro ser de cabelos brancos logo atrás. — Acho que vou te matar primeiro e deixar ele por último.
— Com ela não, só com a existência da cria, pois... — O serviçal não terminou. E eu nem me importei em saber o restante.
Mas ao ouvi-lo falar do meu filho...
Meus olhos voltaram a arder, o aperto na garganta ressurgiu e o meu peito movia-se velozmente. Soltei a espada para poder cobrir o rosto com as mãos trêmulas. Eu perdi tudo! Quando percebi já me localizava com os joelhos no chão.
— Me mata de uma vez, rahtzy! — pedi.
Nesse momento notei o som o qual informava o desligamento da arma. Era a minha chance de pegá-lo desprevenido, contudo eu realmente não me importava com mais nada. A seguir ouvi um movimento à minha direita, no entanto não quis saber do que se tratava, permanecendo na mesma posição; e soluçando.
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620 Anos-Luz [COMPLETO]
RomanceJá parou para pensar que o fato de você ainda não ter encontrado a sua alma gêmea seja porquê ela nasceu em um outro Sistema Solar, a 620 anos-luz de distância e na pele de uma criatura diferente, com outros costumes e outra forma de pensar? De um l...