Capítulo 4 - Quem está aí?

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Zaphy

Essa terráquea está achando que é uma hóspede ou a dona da nave para exigir comida, roupas e me fazer de empregado? Ainda por cima, não sabe se colocar no seu lugar de fêmea, age como se fosse um macho. Indisciplinada, fala alto e até grita...

Embora, eu bem que gostaria de fazê-la gritar por outro motivo.

Mas não é atoa que este planeta é assim tão desprezível, nem as próprias fêmeas eles sabem educar. Dão muita liberdade a elas, e acabam se tornando esses seres repugnantes!

Segui até o pátio e me sentei em um dos bancos, descansei as costas e estiquei os braços por sobre o encosto.

Mais uma vez aquela terráquea invadiu os meus pensamentos. Além do comportamento, fisicamente ela também é muito diferente das fêmeas da minha raça. De uma forma que me desperta curiosidade. Aqueles olhos de duas cores, branco e amarelado, e principalmente, o cabelo negro, que até então, eu não sabia que existia nessa cor e formato, são as coisas que mais me chamam a atenção.

— Proorz!

Me lembrei que tenho que fazer a inspeção na área de comando, conferir se estão executando do jeito que ordenei. Mas estou cansado demais, praticamente não dormi nesses dois dias que cheguei aqui.

Nem quero saber disso agora. Vou direto para o meu quarto.

Enquanto caminhava, percebi que ainda seguro a corda que estava nos pulsos da terráquea, e em seguida me veio à cabeça a forma que ela me segurou no túnel, com aquelas mãos minúsculas. Acabei achando graça.

Além de tudo é medrosa.

— Faz tempo que não o vejo rindo assim. — Zukmi 24, com sua voz calma de sempre. — O que aconteceu? Quero rir também.

Fiz um sinal de "não" com a cabeça, querendo dizer que não é nada demais, e entreguei a corda a ela.

— Certo. Mas cadê a humana que estava fugindo? Disse que a levaria de volta mas não a vi no laboratório A — continuou, tagarelando.

— Longa história. — Passei por ela, me dirigindo ao meu quarto.

— Por que ela não estava hipnotizada?

— Até amanhã, Zukmi. — Posicionei meu olho no painel e abri a porta, fechando-a com o pé depois de entrar.

Me encostei na porta e fechei os olhos. Vou fugir dessa pergunta o máximo que eu puder.

Tirei minha armadura, deitei na cama com os braços cruzados atrás da cabeça e fiquei à espera do sono. Porém mesmo cansado, minutos se passaram e depois de muito rolar de um lado para o outro, constatei que ele não viria. Nunca tive problemas com sono, tudo neste planeta maldito é mais difícil! Deve ser culpa deste ar pesado e poluído.

Que rahtzy!

Desisto!

Sentei na borda da cama com os cotovelos apoiados nas pernas e comecei a pensar no meu planeta. Mesmo adorando viver nele, não consegui continuar lá em meio a tanto sofrimento. Além de não suportar mais conviver com a minha perda.

Me deitei novamente.

— Mãe, por que você não teve a mesma sorte que eu e meu pai, de ser imune ao vírus? Te ver praticamente agonizar até a morte, por pouco mais de dois anos, escureceu uma boa parte da minha alma.

Fechei os olhos.

Ainda consigo lembrar do gosto da torta de korbarcon que você fazia quando eu ficava doente. Ou das vezes que se arriscava indo contra as regras e desafiava o meu pai, para me defender dos castigos dele. Que na maioria das vezes, eu merecia.

620 Anos-Luz [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora