Mel
De mãos dadas, caminhamos até o centro da festa. A sensação de sentir todos aqueles olhos em cima de mim, de nós, não foi nem um pouco legal. Eu deveria já ter me acostumado com esses olhares, mas isso é impossível quando eles vêm de olhos negros como de demônios.
Não sei como não tenho essa sensação com o Zaphy e nem com o Nepo.
Falando no Nepo, cadê ele?
— Viu o Nepo? — perguntei assim que chegamos no centro do salão.
— Não — foi seco, sem disfarçar o incômodo com a minha pergunta.
Em seguida, Zaphy me segurou pela cintura e me puxou para mais junto dele.
— Sei lá... achei que ele estava bebendo demais — Contornei o pescoço dele com os braços, continuando com a conversa.
— Aquele fresco não bebe.
— Eu vi ele beber pelo menos, duas daquelas. — Apontei para uma mesa, onde possuía algumas garrafas.
Zaphy pareceu se espantar com o que eu disse, no entanto, nada disse sobre.
Então, o meu corpo foi girado, me colocando de costas para ele. Zaphy pegou meus pulsos e os levou ao alto, para que eu envolvesse seu pescoço com os braços, depois desceu suas mãos lentamente por eles até encontrar a minha cintura, onde me puxou ainda mais contra si.
— 87, não faça isso! — ouvi o pai dele gritar, mas não virei o rosto para olhá-lo.
Já o meu alienígena, aparentemente fingiu que não era com ele.
— Seu pai não quer que dançamos?
— É. Mais ou menos isso.
Fechei os olhos ao sentir um arrepio me dominar assim que ele começou a cheirar o meu pescoço com seu nariz gelado. À vista disso, tudo à minha volta desapareceu, como se só existisse apenas eu e ele.
Eu mal podia sequer escutar a música.
— Não sei como consegui viver vinte e cinco anos sem sentir esse cheiro — seu sussurro quente batendo na minha pele, quase me fez perder o equilíbrio.
— E se quiser, poderá nunca mais viver sem.
Isso foi um pouco profundo demais. Eu sei. Também sei que ele não queria que eu me preocupasse com a sua provável partida precipitadamente. Porém não pude evitar. Sempre que eu encontrasse uma brecha, iria mandar indiretas dizendo que o queria na Terra comigo.
Como eu já esperava, ele não disse nada.
Suas mãos deslizaram da minha cintura até o meu quadril. Logo, abri os olhos quando ele me girou novamente, me deixando de frente para ele outra vez. Então, pousou sua mão direita sobre o meu rosto, enquanto cravava seus olhos nos meus. Pegou a minha mão, também direita e a colocou sobre o seu peito. Igualmente como o Zaphy, não desviei a minha visão da dele. Acabei sentindo uma vontade imensa de fechar os olhos de novo, com o acariciar do seu polegar sobre meu rosto, entretanto, desisti no momento em que o Zaphy voltou suas duas mãos ao meu quadril, e sem um aviso prévio, me ergueu.
— 87, pare! É uma ordem! — tenho certeza que isso foi outro grito, no entanto, soou tão distante.
Eu poderia ter levado um susto ao ser erguida desse jeito, o que não aconteceu. Pois todo o meu cabelo caiu para frente, formando uma parede de cada lado do meu rosto e a única coisa no meu campo de visão, eram aqueles olhos negros e penetrantes.
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620 Anos-Luz [COMPLETO]
RomanceJá parou para pensar que o fato de você ainda não ter encontrado a sua alma gêmea seja porquê ela nasceu em um outro Sistema Solar, a 620 anos-luz de distância e na pele de uma criatura diferente, com outros costumes e outra forma de pensar? De um l...