Capítulo 41

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Saio da escola o mais rápido que consigo após a minha última aula. Corro até à paragem e entro no autocarro.

O caminho até ao hospital parece prolongar-se, mas talvez isso se deva à minha ansiedade. Por estranho que pareça estes dias nem a música me faz esquecer os problemas... Aliás, toda e qualquer música que eu oiça me lembra o Harry, logo desisti de trazer os fones comigo, o que torna a viagem ainda mais secante.

Saio no meu destino e apresso-me a tomar as direções do quarto do meu rapaz. Abro a porta branca devagar e deparo-me com a divisão vazia.

Aproximo-me da cama e sento-me à beira da mesma. Como sempre, coloco a minha mão por cima da sua, mas estremeço com o contacto.

A sua mão está quente, ao contrário dos outros dias em que estava tão gelada que até fazia impressão.

  - Estás diferente hoje... - murmuro-lhe - Mas gosto mais assim. Quando estás quente. Pelo menos estás mais próximo daquilo que és realmente.

Suspiro e foco o olhar nas nossas mãos juntas. O meu polegar acaricia as costas da sua mão e o seu indicador faz círculos sobre os nós dos meus dedos... Ei! Calma!

O seu indicador está a mexer! O Harry está a mexer-se! Calma, Kate, deves estar a ter alucinações.

Fecho os olhos com força e quando os abro levanto a cabeça e olho para o seu rosto. Os seus lábios estão a mexer-se e os seus olhos abrem-se muito lentamente, permitindo-me ver as suas íris verdes!

Ele acordou!

  - Harry! - guincho, lançando os meus braços em torno do seu pescoço e abraçando-o.

Ele parece meio atordoado e demora algum tempo a corresponder ao abraço. Quando sinto os seus braços frágeis e trêmulos em volta do meu tronco desabo. As lágrimas são incontroláveis e choro no seu ombro tudo o que contive durante estes dias, enquanto sussurro no seu ouvido algumas palavras:

  - Eu tive tanto medo de te perder. Tanto, tanto, Harry. E eu amo-te tanto. Desculpa não to ter dito antes, perdoa-me por tudo, perdoa-me, Harry.

POV Bea.

Quando entro no quarto do Harry, sou invadida por um misto de sentimentos.

Alegria e alívio por um lado, pelo facto de ele se encontrar finalmente acordado, mas medo e angústia por ele estar com ela.

Eles encontram-se abraçados e choram nos braços um do outro, enquanto sussurram mil e uma vezes a palavra "desculpa-me". É frustrante ver mais uma vez como basta ela estalar os dedos para o ter, enquanto eu por mais que me esforce não consigo sequer que ele goste de mim.

Mas eu também não sou burra. Eu consigo ver perfeitamente que ele gosta dela. Dá para ver nos olhos dele que é dela que realmente gosta e que se tiver alguma coisa comigo será por mero prazer.

Decido voltar a deixá-los a sós, já que nenhum dos dois deu pela minha presença. Sento-me numa das cadeiras de plástico desconfortáveis do corredor e aguardo que ela saia do quarto, para eu poder entrar e no mínimo falar com o Harry.

Eu posso até ser a pior pessoa do mundo. Posso ser mesquinha, provocadora, maquiavélica e até hipócrita, mas eu gosto do Harry. Gosto do Harry de verdade e de uma maneira que sei que nunca mais vou gostar de ninguém.

E se ele me desse uma oportunidade que fosse, eu agarra-la-ia com unhas e dentes. Não estou a falar de uma oportunidade de ir para a cama com ele, mas sim uma oportunidade de o amar.

Mas não sou correspondida... E começo a chegar à conclusão que se calhar nunca serei.

O facto de ele ter conseguido acordar do coma é uma prova que a vida lhe está a dar uma segunda oportunidade. Uma segunda oportunidade de ser feliz, de ser amado e de amar. Por muito que me custe admitir, parece ser uma segunda oportunidade para ele e para a Kate, já que foi por causa da separação deles que o Harry de embebedou até cair para o lado.

E será que vale a pena eu estragar e envernizar essa segunda oportunidade que a vida lhes está a dar? Será que não vale mais a pena eu fazer as minhas malas e bazar daqui de uma vez por todas, esquecer o Harry e deixá-lo ser feliz? Se calhar isso era o melhor para todos... Mas isso significa desistir e a palavra "desistir" não está escrita no meu dicionário.

Sinto-me dividida.

A pessoa que eu posso dizer que mais invejo neste mundo, sai do quarto e dirige-se até mim.

  - Ele vai agora fazer uns exames. Enquanto isso posso falar contigo?

  - Não estou disponível para andar à porrada. - respondo-lhe com arrogância.

  - Não quero nada disso. Só quero falar contigo. - ela senta-se ao meu lado, surpreendendo-me ainda mais.

  - Estou a tapar-te a boca? Então fala logo.

  - Bom, eu só queria dizer-te que desta vez eu não vou mesmo desistir do Harry. Desta vez não vai ser só ele a querer, desta vez eu também quero isto como nunca quis algo antes, portanto não te vou facilitar a vida. Tu podes arranjar todos os esquemas que quiseres, todos os planos para me afastar dele, que desta vez eu vou confiar nele duma maneira que nada nem ninguém vai conseguir derrubar essa confiança. Nem mesmo tu. Mas antes de começar a lutar por construir algo com ele, eu preciso que tu sejas sincera comigo uma vez na vida.

Rolo os olhos, para que ela perceba o quanto odeio ter de estar aqui a falar com ela.

  - Desembucha e deixa-te de rodeios.

  Os seus olhos castanhos fixam-se nos meus azuis e, por fim, ela fala:

  - Aquelas mensagens que tu mandaste ao Harry há uns meses atrás a insinuar que vocês tinham tido relações... Sabes?

Aceno de cabeça e foco a minha atenção no padrão aborrecido do chão deste maldito hospital.

  - Isso aconteceu mesmo.

Estou dividida entre confessar a minha mentira e continuar com ela. Estou farta de viver numa mentira. Mais vale dizer de uma vez... Ela vai lutar por ele e ficar com ele de qualquer das maneiras.

  - Eu e o Harry só nos envolvemos vocês já estavam separados há mais de um mês... Agora pensa. Se me dás licença, vou vê-lo.

E dizendo isto viro-lhe as costas e entro no quarto.

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