Capítulo 17

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Entro no quarto e deparo-me com a Kate encolhida na cama a chorar. Sento-me ao seu lado e encosto-a ao meu peito, fazendo-lhe festinhas no cabelo.

- Para quê isto, Kate? Achas necessário tanta coisa por uma discussão estúpida?

- Uma discussão estúpida em que acabaste por dizer uma grande verdade! - ela diz entre soluços. Isto não é nada normal... Ela não costuma chorar desta maneira. Algo de errado se passa!

- Estás a falar do quê?

- Realmente tu tens razão. Realmente ninguém me vai querer nunca mesmo. O Liam trocou-me pela cabra da Hannah e o meu melhor amigo anda enrolado comigo há um mês e meio, mas assim que voltarmos à escola sei perfeitamente que vais voltar a comer todas e eu volto a ficar como sempre: sozinha!

Sinto uma pontada no meu peito ao ver o que ela pensa de mim. Ela pensa mesmo que todos os beijos, todos os abraços, todas a vezes em que fizemos amor, todo o apoio que ela me deu nos últimos tempos... Ela pensa mesmo que tudo isso teve a mesma importância que as quecas que eu ia dando com as outras? Será possível a pessoa que melhor me conhece pensar isto de mim?

- É mesmo isso que pensas de mim? Que te vou deixar na primeira oportunidade? - falo com alguma frieza na voz.

Ela levanta a cabeça e olha-me com os olhos vermelhos.

- O que queres que eu pense de um player como tu?

Estou chocado. É como se me tirassem o chão debaixo dos pés. Aquela que é o meu porto de abrigo acha que eu sou apenas um player mesmo depois de tudo o que passámos!

Isto não pode piorar!

- Harry, eu preciso de um tempo.

Bem, ou talvez possa.

- Um tempo? Um tempo para quê? - a minha voz não passa de um murmúrio. Mordo o meu lábio inferior, na tentativa de conter as lágrimas.

- Para pensar no que é melhor para mim. Pensar se quero mesmo arriscar um envolvimento que tem tudo para correr mal e que caso corra mal pode originar o fim da nossa amizade.

Levanto-me, completamente desesperado, começando a dar voltas pelo quarto.

- Tu não me podes deixar, Catherine! Não agora! Não agora que a minha mãe está numa cama de hospital a recuperar de um acidente de carro que lhe custou mais de um mês em coma e que provavelmente foi provocado pelo meu pai bêbedo que decidiu voltar para nos atormentar!

Ela fixa os olhos no chão e sussurra:

- Por favor, Harry, não tornes as coisas ainda mais difíceis...

E não tenho outra opção se não deixá-la sozinha naquele quarto. Saio de sua casa sem sequer me despedir do Niall e da Evelyn e sigo para minha casa a pé...

Ninguém diria que a porcaria de uma discussão por cause de pipocas iris dar nisto...

*No dia seguinte*
POV Catherine

Estou a fazer zapping sentada no sofá e ainda de pijama quando o meu telemóvel vibra. Recebi uma mensagem. Só espero que não seja do Harry...

*De: Desconhecido*
*Catherine, se a felicidade do Harry significa alguma para ti, então encontramo-nos no parque perto de tua casa daqui a 20 minutos. Vem sozinha e não tenhas medo.*

Estranho... Quem será?

Será algum amigo do Harry que soube da nossa discussão de ontem e quer que nós fiquemos bem? Hum... Não parece... Tenho o número de quase todos os amigos dele...

E se for um violador? Um assassino? Um criminoso?

*- Catherine Rivers, acorda! Se a pessoa te quisesse fazer mal não combinava o encontro num local público! *

Pois... Realmente o meu subconsciente até tem razão! Mas só desta vez!

Bom chega de meditar... Vou mas é vestir-me e encontrar-me com a misteriosa pessoa.

(...)

Quando me começo a aproximar do parque avisto inúmeras crianças a correrem, a brincarem e a rirem às gargalhadas, enquanto os seus pais pedem para não se aproximarem da estrada e para terem cuidado para não cair...

Sento-me num campo entre dois arbustos e olho em volta, procurando a pessoa mistério.

Sinto uma mão a tocar-me no ombro e viro-me para trás repentinamente. Um homem todo vestido de preto, de gorro preto e óculos escuros olha para mim como um leve sorriso nos lábios.

Calma... Este é o mesmo homem que no outro dia me estava seguir!

Ele tira os óculos e eu reconheço os seus olhos verdes. Posso tê-lo visto poucas vezes enquanto ainda era pequena, mas a sua maneira bipolar de ser marcou-me. Tanto gritava com a mulher e a ameaçava de agressões, como abraçava e beijava os filhos. Foi um homem que eu nunca compreendi.

Ele é Desmond Styles, pai do Harry e da Gemma e ex-marido da Anne.

Ele senta-se ao meu lado e pousa ambas as mãos nos joelhos.

- Olá, Catherine. - a sua voz rouca, tão parecida com a do Harry arrepia-me. Ele está a ser amável mas não consigo evitar sentir algum medo.

- Olá, Desmond.

- Bom, eu vou ser muito direto. Eu chamei-te aqui por quero contar a minha versão da história tétrica que tu já deves saber de trás para a frente... Mas peço-te que não me interrompas.

Movimento a minha cabeça para cima e para baixo, num gesto de concordância. Ele respira fundo e começa:

- Tal como tu te deves lembrar, eu era um bêbedo que discutia e batia na Anne todos os dias. Era o pior marido do mundo, eu admito. Mas também te deves lembrar que amava os meus filhos mais do que tudo... Embora com o avançar da idade eles se começassem a afastar de mim pelas atitudes que eu tinha com a mãe, nunca deixei que lhes faltasse amor. Eles eram tudo para mim. Houve um dia em que a Anne se fartou e saiu da casa onde eles ainda hoje vivem e arrendou um apartamento para ela e os miúdos. Eu disse-lhe que aceitava o divórcio, mas que queria a guarda partilhada dos meninos, ao que ela me respondeu que não ia permitir que os filhos convivessem com um bêbedo, que se se passasse lhes podia bater. Ela sabia perfeitamente que por mais bêbedo que eu estivesse eu nunca iria encostar um dedo que fosse nos meus filhos, mas mesmo assim ela disse-o porque sabia que a única maneira de se vingar de tudo o que eu lhe tinha feito era essa. Entrámos com o processo em tribunal sempre sem os miúdos saberem, no qual ficou decidido que eu só podia aproximar-me dos meus filhos quando ambos fossem maiores de idade. Ela conseguiu ainda que a minha casa passasse para ela, por isso é que ainda hoje ela lá vive. Eu pedi-lhe por tudo que me deixasse explicar-lhes o porquê de ter que me afastar, mas ela não deixou e aposto que eles ainda hoje pensam que os abandonei. Já não tinha nada a fazer em Holmes Chapel, por isso mudei-me para Oxford e refiz a minha vida: tratei o meu vício com a bebida e arranjei um bom emprego. Agora que finalmente o Harry é maior de idade decidi voltar para lhes explicar tudo, mas quando fui lá a casa a Anne estava sozinha. Ela entrou em pânico assim que me viu e disse-me que a Gemma tinha saído e que o Harry estava no Hawaii com uns amigos. Eu não podia esperar mais, então pedi-lhe os números de telefone deles e ela recusou e ameaçou chamar a polícia. Vi-me obrigado a vir-me embora e fiquei com uma raiva tão grande dela que ninguém imagina... Quando saí o carro dela estava mesmo à porta e como sei que ela se esquece quase sempre de trancar o carro entrei no mesmo e sabotei-lhe os travões. Eu sei que não tinha esse direito, mas ela também não tinha o direito de me impedir de contactar com os meus filhos! Já me arrependi de o ter feito, visto que vi os meus filhos entrarem e saírem desolados de um hospital durante um mês... Sei que eles me vão odiar quando souberem que fui eu... Então lembrei-me da menina morena magra que ia brincar todos os dias lá a casa com o Harry e descobri que vocês ainda eram amigos... Catherine, peço-te por tudo que me ajudes a recuperar os meus filhos... Por favor!

E agora? O que é que eu faço?

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