Capítulo 10

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Água.

Os campistas se preparam para o baque surdo e brutal das flechas. Esperavam ouvir o zunir dos projéteis rasgando o ar próximo aos ouvidos e até mesmo alguns gritos de dor. Muitos até mesmo esperavam sentir o aço perfurando sua carne. Mas não. A única coisa que sentiram foi o frescor das gotículas de água entrando em suas armaduras, refrescando-os momentaneamente do calor da tarde.

Desconfiados, mantiveram suas posturas defensivas, com o escudo erguido e o corpo retesado sob a proteção. Mas quando o ataque não veio, arriscaram um olhar de esguelha por sobre o equipamento e ficaram abismados. O Pequeno Tibre se ergueu de seu leito e as flechas inimigas foram barradas por um imenso paredão de água com mais de 10 metros de altura. Nenhum projétil foi capaz de atravessá-lo.

Após alguns segundos, a coluna de água baixou e o rio retomou seu curso.

Clap. Clap. Clap.

- Incrível. - O general Agripa falou, batendo palmas lenta e ritmicamente. - A extensão de seu poder é realmente impressionante, Percy Jackson.

O filho de Poseidon estava a frente da quinta coorte, os braços ainda erguidos. Suor escorria pelo seu rosto, misturando-se a água do Pequeno Tibre. Ele não queria que os outros percebessem, mas erguer o rio tinha exigido uma boa parte de suas energias. Ele não sabia por quanto tempo mais conseguiria manter o paredão de água e estava prestes a desistir quando as flechas pararam. Ele preferiu não responder ao elogio, mesmo tendo sentido um toque de verdadeira admiração na fala do general.

- Sabe, eu não tenho nada contra você ou contra sua namorada. Na verdade, eu até mesmo os admiro. - O general continuou a falar. - Seus feitos e prodígios são famosos até mesmo no mundo inferior. O garoto que derrotou titãs com as próprias mãos, destruiu legiões de monstros, banhou-se no Rio Estige e sobreviveu. Aquele que derrotou os gigantes e a própria Mãe Terra! Sempre acompanhado da fantástica filha de Atena. O cérebro do grupo. Você tem todas as características que eu sempre admirei em meus soldados, Annabeth Chase. Talvez falte um pouco de malícia em sua mente, mas ninguém é perfeito não é mesmo? - Ele deu uma risadinha.

- Eu nunca precisei de malícia para vencer minhas batalhas. - A filha de Atena respondeu, incapaz de permanecer calada diante a uma afronta. - E certamente não preciso de malícia para derrotar você.

- Ousada. - O general riu mais uma vez. - Faltou dizer que é ousada. E é claro, não posso me esquecer do maior feito de todos! O nobre sacrifício. O filho de Poseidon se sacrificando por seu grande amor. Indo até as profundezas do Tártaro para protege-la. O herói perfeito. Vocês dois são os seres mais odiados e admirados no mundo inferior!

- Se tudo que você diz é realmente verdade, por que veio atrás de nós? - Percy perguntou.

- Um acordo. - O general deu de ombros. - Eu ajudo o Senhor das Profundezas a resolver uma velha rixa e em troca eu e meus homens recebemos a oportunidade de fazermos o mesmo. Entenda, mesmo com tudo que fiz por Roma, mesmo tendo dedicado minha vida a expansão e crescimento do império, eu não fui aceito nos Campos Elísios... Os sábios juízes do mundo inferior julgaram meus métodos... Inapropriados, por assim dizer.

Traição. Tortura. Assassinatos a sangue frio. Todos os romanos conheciam os boatos. E não foi difícil para os semideuses gregos entenderem do que se tratava.

- Você quer trocar a nossa vida pela sua. - Percy acusou.

- Não me julgue tão rápido, filho de Poseidon. - O general retorquiu. O divertimento sumindo de sua voz, substituído por um tom de ferro raivoso. - Viva os anos que passei, sendo torturado dia e noite no Tártaro, cercado de monstros, morte, dor e sofrimento. A esperança não existe naquele buraco. Será que sua decisão seria diferente da minha?

Percy Jackson e Annabeth Chase - A Vingança de TártaroOnde histórias criam vida. Descubra agora