Capítulo 28

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O trovão reverberou do lado de fora. Talvez fosse a adrenalina que corria em suas veias ou a proximidade com o rio Estige, mas Percy poderia jurar que o barulho tinha sido pelo menos duas vezes mais alto que o normal. Mas mesmo isso não era capaz de mascarar o silêncio sepulcral que se seguiu, com as palavras ainda ecoando no vazio.

Tártaro irá pagar nem que seja a última coisa que eu faça.

Toda a raiva e desprezo que Hades nutria pelo semideus se dissipou. Naquele momento, tudo que ele conseguia sentir era pena.

- Semideus idiota. - O deus disse, não como um insulto, e sim como um comentário. - Você tem alguma idéia do que acabou de fazer?

- Eu já disse que.. - Percy começou a responder, mas Hades o interrompeu.

- Você não se importa, sim, você deixou isso bem claro. - A paciência do deus dos mortos já tinha se esgotado. - Só não achei que você também não se importava com o fato de nunca mais ver a sua amada Annabeth.

- Do que você está falando? - Percy perguntou, desconfiado, finalmente conseguindo recuperar o fôlego após a raiva e a adrenalina recuarem.

- Você fez, não um, mas dois juramentos. Você jurou que nunca nada separaria vocês dois, um juramento tolo e imprudente, e por causa disso cada momento que você passar longe dela será miserável, doloroso e insuportável. - Hades explicou. - E agora você fez um juramento ainda mais idiota. Você jurou ir até o seu último fôlego contra um primordial, um filho de Caos, o único que nunca foi derrotado, aquele que nem os deuses ousaram desafiar.

- E por que isso deveria me preocupar? - O garoto desafiou. - Eu não me importo de morrer. Achei que isso já estava claro.

- Ainda não percebeu o que fez!? - O deus o interrogou. - Não entende que seu castigo nunca virá nessa vida?

E naquele momento, o peso do juramento finalmente o atingiu e ele percebeu o que tinha feito.

Enquanto ele respirasse ainda existiria a chance de manter a promessa. A única forma de quebrar o juramento seria morrer sem cumprir sua palavra e, caso isso acontecesse, seu castigo viria após a morte.

Milhares de possibilidades passaram em sua mente naquela hora. Ele poderia ficar preso para sempre no Tártaro, sem nunca ter paz. Poderia ser enviado para os Campos de Asfódelos e ser condenado a alguma forma de punição. Ou pior, ele poderia morrer e ser enviado para os Campos Elísios só para descobrir que ela tinha cansado de esperar por ele e havia escolhido renascer.

De qualquer forma, uma coisa ele tinha certeza: ele jamais veria Annabeth novamente se não conseguisse derrotar Tártaro.

Os joelhos do semideus falharam e ele desmoronou bem em frente ao deus dos mortos. As lágrimas escorriam livremente por seu rosto sem que ele fosse capaz de se controlar.

O deus dos mortos abrandou o tom. Naquele momento um resquício de compaixão o atingiu e ele pensou se deveria confortar o garoto, ele era seu sobrinho apesar de tudo. 

Mas o sentimento se dissipou tão rápido quanto havia surgido e Hades apenas esperou até que Percy se recompusesse.

- Eu não tenho outra escolha... - O garoto murmurou. - Eu preciso ir atrás de Tártaro.

- Eu sei. - Hades respondeu.

- Eu nunca terei paz, nunca consiguirei viver comigo mesmo se não fizer isso. 

- Eu sei. - Hades disse novamente. - A pergunta é: o que você quer de mim?

Percy pensou por um momento. O que ele realmente queria ali? Ele sabia desde o início que não conseguiria reviver a namorada. Outros heróis já haviam tentado desafiar a morte e nunca acabava bem. E no fundo ele sabia que Annabeth iria esperar por ele nos Campos Elísios. Então por que era tão importante pra ele estar ali? O que ele realmente tinha ido procurar?

Percy Jackson e Annabeth Chase - A Vingança de TártaroOnde histórias criam vida. Descubra agora