Capítulo 23

835 66 0
                                    

- Eu não sei do que você está falando. - Percy desconversou.

Oceano sorriu, a expressão do titã o lembrava dolorosamente da mesma expressão sarcástica e maligna que via em Luke quando servia de hospedeiro para Cronos. Um tremor ameaçou reverberar por todo seu corpo, mas Percy se manteve firme e impassível. Demonstrar fraqueza seria sua sentença de morte.

- Eu acho que você sabe exatamente do que estou falando. Talvez um pequeno incentivo o ajude a refrescar a memória... - O titã falou e estendeu a mão direita a frente. A palma do imortal começou a brilhar e bolhas subiam da água ao redor até que, subitamente um raio de plasma vertical cortou o mar de cima a baixo, enviando uma onda luminosa em todas as direções.

Os garotos fecharam os olhos em um movimento reflexo para se protegerem da claridade e, antes mesmo que o clarão se dissipasse por completo, ouviram os rugidos.

Quando abriram os olhos, os monstros estavam ali. Nenhum dos dois sabia de onde eles tinham surgido, tudo que sabiam é que estavam cercados por um trio dos maiores e mais horrorosos krakens que já tinham visto. A pele coberta de escamas era negra como piche, sebosa apesar de imersa na água, braços gigantes semelhantes ao das lulas, que rodopiavam ao redor ameaçadoramente e eles puderam contar um mínimo de três fileiras de dentes afiados e pontiagudos formando um círculo dentro do vórtice negro que chamavam de boca.

Percy engoliu em seco. Enfrentar Oceano e um exército de criaturas marítimas seria difícil, mas enfrentar três krakens e um titã ao mesmo tempo seria praticamente impossível e cada vez mais ele ficava preocupado com Annabeth. Enfrentar um kraken na água seria ainda mais difícil do que enfrentar um drakon em terra firme. Pelo menos em terra firme eles teriam liberdade de movimentos para escapar das investidas infernais da serpente, mas dentro d'água ela seria uma presa fácil para os braços compridos dos monstros.

- Não sabia que um titã precisava de escolta particular. - Annabeth falou, a voz firme e debochada. Percy olhou para a namorada, tentando esconder sua exasperação.

Ela não retribuiu o olhar do garoto, mantendo-se firme ao encarar o titã, mas ainda assim o namorado pode perceber os pequenos sinais que traíam o estado de espírito da garota. A testa levemente franzida, a mandíbula firmemente cerrada e olhar que denunciava seu turbulento estado de espírito. Ele entendeu então que, apesar do medo, Annabeth estava fazendo o melhor que podia para ajudá-lo.

- Tem tanto medo assim de nós, Oceano? - Percy provocou, sentindo que tinha que fazer sua parte. - Primeiro, não quis nos receber no seu palácio, preferiu armar uma emboscada no meio do nada. Agora, ao ver que não ficamos apavorados e corremos como crianças, chamou os valentões do colégio pra nos assustar... É realmente assim que o todo poderoso titã Oceano se comporta? Escondendo atrás de valentões ao menor sinal de confronto?

O comentário tocou no orgulho ferido do titã. Sempre caçoado e menosprezado por ter se mantido a parte na primeira guerra dos titãs contra os deuses, Oceano sentiu seu orgulho se revoltar contra os insultos do filho de Poseidon. Ele não seria chamado de covarde por um mero semideus.

- Veio até mim procurando a morte Perseus Jackson? - A voz destilava ódio e rancor. - Pois está cada vez mais próximo de alcançá-la.

- Diga-me você Oceano. - Percy o interpelou. - Você que parece saber sempre a resposta. Visitou meus sonhos para dizer que estava me esperando, preparou uma armadilha e diz que "eu tenho algo que é seu"... Você parece já saber de tudo! Diga-me você, por que acha que eu, filho de Poseidon, seu eterno e mortal adversário, vim até você?

O titã continuava sorrindo e, por algum motivo, aquele sorriso misterioso incomodava mais o garoto do que os próprios krakens agitados e ansiosos por sangue. Ele podia ver que, por trás daquele sorriso, uma mente arguta calculava todos os possíveis desfechos e qual seria a melhor forma de destruí-los no processo. Foi só então que o garoto percebeu que Oceano não era o único titã sobrevivente e livre por acaso. Apesar de ser chamado de covarde, o titã era astuto e preferia se retirar de uma luta quando achava que não tinha boas chances de vitória e dessa vez ele estava extremamente confiante, como se não existisse sequer um desfecho que pudesse prejudicá-lo.

Percy Jackson e Annabeth Chase - A Vingança de TártaroOnde histórias criam vida. Descubra agora