O fedor de enxofre era sufocante. Adentrava pelas narinas como ácido, enchendo os pulmões com o que só poderia ser comparado a veneno. Percy registrou tudo isto antes mesmo de abrir os olhos e soube, sem sombra de dúvidas, que estava de volta a fonte de seus piores pesadelos.
Por um longo momento, o garoto não reagiu. O desânimo tomando conta de seu ser, o sabor da derrota, amargo, em sua boca. Ele se lembrou da primeira ida ao Tártaro, da queda infinita e o mergulho no rio das lamentações e de como só teve forças para reagir por causa de Annabeth. Agora, ele estava sozinho.
Seu instinto de sobrevivência, no entanto, ainda estava ativo. Mesmo em seu completo e total estado de desânimo, ele registrou a não existência de correntes em seus pulsos e tornozelos. Registrou o batimento de seu coração. Registrou a dor em seus pulmões a cada nova respiração. Registrou o fato de que ainda se sentia vivo.
Este motivo o compeliu a abrir os olhos pela primeira vez. Ele ainda se lembrava de como era a aparência dos mortos, já que a imagem de Annabeth coberta pela Névoa da Morte assombrava seus pesadelos, e ele sabia que não iria se livrar daquela visão tão cedo, e queria saber se sua esperança era fútil ou infundada.
O garoto se sentou no chão quente e olhou para si. Pernas e braços inteiros, sem a imagem fantasmagórica que deveria pairar ao seu redor se ele estivesse morto.
Fazia sentido, ele pensou. Afinal, se tivesse realmente morrido, o mais correto seria que passasse pelo julgamento, certo? Ou será que pelo fato de ser morto diretamente pelo Senhor das Profundezas ele poderia pular essa parte do processo? Se fosse o caso, a espada de Tártaro era realmente poderosa. Era capaz de cortar até mesmo a burocracia!
A verdade é que o garoto não fazia ideia do porquê, apenas que ainda sentia-se e parecia estar vivo. E naquele momento, isso era tudo que ele precisava para se mover.
Hesitante, ele arriscou se levantar.
A cabeça rodou e ele sentiu o chão tremer. Achou que iria desmaiar, mas conseguiu se erguer. Os joelhos tremeram quando ele os firmou, mas sustentaram seu peso.
Ele colocou a mão em seu bolso por instinto e foi quando teve um verdadeiro pico de esperança, as mãos sentindo o formato familiar de Contracorrente em sua forma de caneta. Mais confiante, ele experimentou um primeiro passo vacilante. As pernas reclamaram novamente, mas suportaram o peso do corpo e, mesmo arrastando, ele moveu centímetros valiosos.
Cada segundo que passava aumentava o estado de alerta do garoto. Sua visão recuperou o foco e ele olhou ao redor, absorvendo o ambiente a sua volta. A audição já não registrava tudo como ruídos abafados, mas conseguia distinguir os sons. Em especial, um som.
Tum-tum. Tum-tum.
O chão arroxeado, cheio de dobras e elevações que só podiam ser vistas quando observadas de perto, não deixava dúvidas.
Ele não estava alucinando. Não estava atordoado devido ao desmaio. Suas pernas não estavam tremendo, pelo menos não tanto quanto ele havia imaginado.
Desta vez, o mundo ao redor de Percy estava literalmente pulsando.
Percy estava de volta ao Tártaro, mas não em qualquer lugar. Ele estava de volta ao objetivo final de sua primeira jornada. Ele estava de volta ao epicentro de seus pesadelos, de volta ao local onde observou as cenas mais desoladoras de toda sua existência, onde hordas de monstros se ajuntaram para voltar ao mundo dos vivos através das Portas da Morte. Ele estava de volta ao local de sua primeira batalha com Tártaro, pisando, literalmente, no coração do primordial.
A gargalhada reverberou como trovão. O som tão estrondoso que fez o semideus cobrir os ouvidos para se proteger como se estivesse sendo atacado. Foi inútil. O som parecia subir por suas pernas, impossível de ser detido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Percy Jackson e Annabeth Chase - A Vingança de Tártaro
FanfictionUm ano após o fim da guerra contra os gigantes, Percy Jackson e Annabeth Chase vivem a melhor fase de suas vidas. O filho de Poseidon acabou de se formar e foi aceito na faculdade de Nova Roma, junto com Annabeth, e mal pode esperar para começar sua...