Capítulo 1

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Tenho 80% de certeza que a escolha da decoração do meu novo quarto foi feito por uma menininha de sete anos. As cortinas, as colchas, a parede, o tapete e as janelas por dentro eram cor-de-rosa. Ta, eu gosto de rosa como gosto de amarelo e azul, mas tudo que é demais enjoa.

Tinha um lindo vestido num manequim ao lado da minha cama. Parecido com um dos da minha mãe, de cor azul, rodado, com estampa de pequenas estrelas brancas, estilo anos 50, comprimento de até o joelho e de mangas curtas.

Eu sentei sentindo que derramaria algumas lágrimas, mas ao invés disso peguei uma almofada cor-de-rosa e me auto sufoquei por cinco segundos para me recuperar emocionalmente. Era muito por um dia só. E mesmo assim não funcionou.

Três batidas na porta.

— Pode entrar.

— Trouxe seu almoço — ela sorriu.

— Olga, por que esse vestido está aqui? E por que está tudo tão rosa?

— Esse vestido é um presente do senhor assim que descobriu hoje que a senhorita não é tão jovem quanto o seu pai lhe contara.

— Ele pensou que eu tinha quantos anos? Cinco? — eu soltei uma gargalhada.

— Mais nova que é. Quantos anos a senhorita têm?

— Dezessete — eu respondi.

Olga perdeu toda cor do seu rosto.

— Está tudo bem, Olga? — perguntei. — Quer que eu pegue um copo d'água?

— Não, não precisa. Obrigada.

— O que houve?

— Eu pensei... Pensei que a senhorita era mais jovem, mas está tudo bem. Coma. O jantar é às 20h30min, não se atrase. O senhor não gosta de atrasos.

—Tudo bem. Obrigada, Olga.

Ela se retirou em silêncio.

Antes de comer, resolvi tomar um banho. Tinha um banheiro que dava acesso dentro do meu quarto, felizmente ele não era todo cor-de-rosa. Peguei o vestido mais bonito de minha mala e uma toalha. Antes que eu pudesse entrar no banheiro e me trancar lá por horas, ouvi o som do abrir de portas de carro batendo, espiei pela frestinha entre as cortinas da minha janela que dava vista ao jardim. Com certeza era o tão falado senhor Adam. Surpreendi-me a vê-lo. Eu esperava um homem velho, sério e bem mal humorado. Bem, mal humorado ele parece ser, e um tanto arrogante também. Mas sua aparência é de uns 4 ou 5 anos mais velho que eu. Seu cabelo era de um tom ferrugem muito vibrante, como ferrugem poderia ser vibrante? Vestia um blazer preto provavelmente muito caro. O rosto do senhor Adam me trazia a sensação de familiaridade, mas de onde que eu poderia ter conhecido uma pessoa assim?

— Ela já chegou?

Consegui escutar o que eles diziam bem baixo.

— Já, senhor. — Olga respondeu.

Ele varreu com os olhos a janela em que eu o espiava, não tenho certeza se ele viu metade do meu rosto exposto os observando, mas ele continuou encarando na direção.

— Qual o nome dela? — ele perguntou a Olga, ainda olhando na minha direção mesmo talvez nem me vendo.

— Annabela Smith, senhor.

— Ela tem quantos anos mesmo?

— Dezessete, senhor.

Meu rosto começou a queimar e imediatamente parei de olhar e comecei a arrumar minhas coisas para o banho. Peguei um vestido rosa (em homenagem a cor do meu novo quarto) rodado e apertado na cintura, não me importo em ele estar surrado, não vou encontrar ninguém agora e aparentemente tudo funciona bem formalmente por aqui, eu sinceramente, isso tudo me assustava. Será que Adam era algum tipo de criminoso?

Eu e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora